Administradores X Gerentes
Por Carlos Alberto de Faria
27/09/2007
Comenta-se, com uma razoável
freqüência, que os donos de empresa
(ou gerentes) pagam salários muito
bons para quem cuida de máquinas,
mas não pagam salários condizentes
para os administradores.
O mercado tem bastante gente que
acha que entende de pessoas e poucas
pessoas que entendem e resolvem
problemas em máquinas. Desta
constatação sai, rápido, o seguinte:
o que é raro é caro! Logo, pessoas
que acham que entendem de pessoas
são "baratas", e pessoas que
resolvem problemas de máquinas são
caras!
Complementando:
a) o dono da empresa, pelo menos uma
parte, não entende de computadores,
então contrata aquele que melhor se
apresenta, e paga por isso;
b) o jeito de administrar a empresa
tem a cara do dono. De repente, na
visão do dono, chega lá um
administrador, que saiu da faculdade
agora, querendo mostrar como se faz
isso e aquilo.
- "Mudar a minha empresa é o mesmo
que falar que eu estou errado!"
Então esta postura facilita a
existência de consultores, pessoas
que pela sua credibilidade e
conhecimento do processo de mudança
organizacional e, principalmente,
pessoal, propõe melhorias contínuas
que conduzem, ao longo de um tempo,
a uma mudança maior.
O grande problema existente é que se
a pessoa não mudar (o dono ou o
gerente), nada muda.
A empresa só muda se o dono mudar!
Uma empresa só muda se uma ou mais
pessoas na empresa mudarem. Mudança
organizacional quer dizer um
conjunto de mudanças pessoais.
O trabalho do administrador, neste
caso, não é mudar a empresa, é mudar
o dono. Devagar, Paulatinamente. E
ir implantando as idéias do dono,
que passou a enxergar aquilo que
você, administrador novo, o conduziu
a vislumbrar.
Esse trabalho exige uma maturidade
emocional que a maioria dos
formandos em administração não
possui. Creio que seja uma
característica de falta de
maturidade emocional bastante comum
aos formandos em qualquer
especialidade.
Ou seja, temos especialistas em
máquinas, mas faltam especialistas
na condução de mudanças pessoais,
que conduzem e acabam produzindo as
mudanças organizacionais
necessárias.
A conclusão é que o mercado tem
poucas pessoas que entendem de
pessoas e de máquinas. Por isso é
que elas custam "caro".
O que fazer, então, com o dono da
empresa?
Permita-me dar um pulo, sem conexão
aparente, para podermos cair
novamente no mesmo ponto.
Eu diria que a nossa sociedade
costuma separar algo que não pode,
nem deve ser separado: emoção e
razão.
Antonio Damásio, neurocirurgião
português, chefe do departamento de
neurocirurgia da Universidade de
Yowa, escreveu uma série de 3 livros
sobre o assunto.
Em suma, na estrita visão da minha
leitura, ele diz o seguinte: a
razão, sem a emoção, não serve para
nada.
O nome do primeiro livro dele é "O
Erro de Descartes", pois a frase
correta de Descartes, à luz da
ciência, hoje, seria:
EXISTO E SINTO, LOGO PENSO.
Por incrível que pareça a emoção é a
base da lógica! E sem a emoção a
lógica é estéril!
Sem emoção não há escolha, não há a
vida, tal como a conhecemos e
valorizamos.
O que fazer com este dono de
empresa, com esse gerente?
Ensiná-lo!
Ensinar é a única resposta possível.
Bater de frente com ele, falar que
"isto e aquilo" deve ser mudado pode
ser o mesmo que dizer que ele está
fazendo estas "coisas" erradas. E
ninguém gosta de estar errado, não é
mesmo?
Como ensinar?
Para ensinar é necessário a
humildade da compreensão do outro,
da percepção do outro. É necessário
estabelecer um vínculo, ter empatia.
A postura de servir, a junção da
lógica da necessidade empresarial,
com a percepção das pessoas
envolvidas no processo, facilita e
dá o primeiro passo no sentido da
mudança pessoal e, depois,
organizacional.
Ajudar o gerente a conduzir a
empresa, na medida da capacidade
dele, na medida da evolução do seu
conhecimento (dele), patrocinada por
você, recém-formado, é o seu
caminho.
Basta ter a humildade, a maturidade
de perceber o outro como ele é, e
não como a sua necessidade gostaria
que ele estivesse para a sua
mudança: pronto!
Cabe a você torná-lo pronto, este é
o primeiro passo.
Neste processo de ensinar, você
notará que vai aprender e muito,
pois você se deu a oportunidade!
Isto, em outras palavras, é
comprometimento com o gerente e suas
capacidades e limitações; enfim,
algo que esperamos que os outros
tenham conosco, mas nem sempre,
neste mundo de soluções rápidas,
temos com os outros.
A minha recomendação sempre é:
agregue valor ao seu chefe, SEMPRE!
Ele define a sua avaliação hoje, e
tem possibilidade de definir o seu
emprego de amanhã, quando, se for o
caso, for consultado como foi o seu
desempenho quando trabalhava com
ele.
Você não consegue perceber como ele
é, e não conseguindo perceber o
jeito de ser dele, não consegue
transmitir a sua visão para que ele
o compreenda:
- "Ele está errado!"
Ele nunca está errado!
Ao invés de focar a sua dificuldade
de se comunicar com ele, é mais
fácil para você julgar o outro. E
você, glorioso, sobre o conhecimento
adquirido na faculdade, redondamente
certo! Aparentemente, somente
aparentemente...
E ai nada mais resta do que pedir
demissão, porque este pessoal é
burro mesmo!
Ou não?
Eu sugiro, que nestes tempos de
mudanças, mudanças rápidas, os
administradores, todos os
administradores, independentemente
de sua formação, reflitam e ajam
definindo que serviços prestam e a
quem? Ou seja, pensem:
- "Quem são os meus clientes! Os
meus esforços são dirigidos para o
que e para quem?"
Carlos Alberto de Faria é sócio
diretor da Merkatus - Fonte:
Merkatus