A Arte de Gerir Pessoas
Por Rogerio Martins
22/11/2007
A atual era da informação e da
tecnologia nos coloca uma
questão inquietante: como gerir
e aproximar pessoas em um tempo
onde os indivíduos estão cada
vez mais individualistas e
focadas no ganho pessoal?
Durante anos a máxima foi: cobre
resultados e exija o máximo de
seus subordinados.
Hoje sabemos que mais do que
simplesmente cobrar resultados é
preciso criar um ambiente
saudável e estimulante para que
as pessoas produzam mais e
melhor. Esta função passa
diretamente pela capacidade que
o gestor deve possuir de
estabelecer relações positivas
com seus subordinados, e
estimular o espírito de equipe.
A tarefa não é fácil, até porque
a maior parte dos atuais líderes
das organizações são pessoas que
foram formadas tecnicamente para
agir em suas áreas de
especialização. Quantos gestores
atuais tiveram formação em
comportamento humano nos bancos
de suas universidades? Quantos
buscaram por conta própria este
conhecimento? Quais empresas têm
investido continuamente em seu
grupo de gestores para torná-los
mais “humanos” no relacionamento
com seu pessoal?
Certamente que as respostas
tendem a um crescimento na
humanização do gerenciamento de
pessoas. Há mais universidades
ensinando além do currículo
formal, mas ainda é pouco.
Também sabemos de profissionais
que investem não somente em
cursos de MBA, mas também em sua
formação como gestor de pessoas.
O fato é que este processo é
lento e requer muito mais do que
conhecimento teórico. É preciso
atitude.
Vou ilustrar este pensamento
através da história de Wilson.
Profissional dedicado,
trabalhava há mais de dez anos
em uma empresa de pequeno porte,
sempre em áreas relacionadas com
a produção. Até o dia que teve a
grande chance: foi promovido a
chefe de pessoal.
No início veio um misto de
euforia, contentamento e
desespero. “Será que conseguirei
dar conta do recado?”, pensou. A
questão é que Wilson não foi
devidamente preparado, e muito
menos se preparou, para
gerenciar um grupo de pessoas.
Sua experiência era
eminentemente técnica.
Até então ele era um dos membros
deste grupo, e agora estava à
frente de seus colegas. Os
primeiros meses foram difíceis.
Os até então colegas, passaram a
vê-lo como uma pessoa
autoritária e distante. Com
isso, começou a se afastar do
grupo. Logo vieram as primeiras
reclamações sobre seu
comportamento. As pessoas diziam
que ele havia mudado, tinha
perdido a alegria e eficiência
de sempre. E isso era verdade.
Wilson começou a agir de modo
isolado, sempre reativo e
nervoso. Em pouco tempo já dava
sinais de estresse. O ponto alto
de seu descontrole foi quando
reagiu aos gritos, no meio da
fábrica, por causa de um
problema irrelevante. Foi aí que
seu superior interveio. Demorou
para fazê-lo, mas sua atitude
foi educativa.
- Wilson – disse o gerente
Gérson - uma das virtudes dos
grandes líderes é o
autocontrole.
Gérson ainda comentou que o
líder é como um espelho. Suas
atitudes refletem nos
subordinados ações positivas ou
negativas. Falou, ainda, que se
o líder não tiver autocontrole
ele irá gerar um ambiente de
cobrança, tensão e má qualidade.
Oposto a isso, quando o líder
consegue manter seu equilíbrio
emocional, ele conquista dos
seus funcionários a melhor
produtividade, pois as pessoas
irão valorizar o ambiente onde
os erros são vistos como forma
de melhoria e aprendizado.
Wilson refletiu sobre o que seu
superior havia comentado, mas
não sabia como colocar isso em
prática. Afinal, aprendeu com
antigos gestores esta mesma
forma de agir. Porém, colocou
para si mesmo o desafio de
prestar atenção a tudo o que o
tirava do sério, o que o deixava
tenso e nervoso.
Nos primeiros dias percebeu e
anotou algumas situações que
aconteceram e fizeram com que
tivesse o pensamento e algumas
atitudes de descontrole. À
medida que foi anotando e
revendo o que havia escrito
percebeu um padrão nos
acontecimentos. Na maior parte
das vezes o que o fazia perder o
controle emocional estava
relacionado a falta de
treinamento do seu pessoal. Como
sempre reagia de forma
intempestiva as pessoas tinham
receio de perguntar e cometiam
erros. Estes erros o tornavam
mais nervoso e assim se formava
uma cadeia de desequilíbrio
emocional e ambiente tenso.
Aconselhado por seu superior
passou a observar mais seu
pessoal, conhecer melhor suas
fraquezas e limitações. Com
isso, pôde assertivamente
treinar sua equipe, diminuir os
erros que eram freqüentes e
tornar-se mais próximo de sua
equipe. Assim, Wilson foi
corrigindo sua postura como
líder e se preparando melhor
para gerenciar pessoas.
Então, quando tratamos de
gerenciamento de pessoas é
preciso ficar atento alguns
fatores importantes:
O líder é o espelho de sua
equipe. As pessoas vêem nele uma
referência. Por isso, o líder
deve ser o primeiro a perceber
suas atitudes positivas e
negativas. Esta auto-análise
passa por um profundo
conhecimento de suas atitudes no
dia-a-dia. Faça uma lista do que
gera tensão, irritação, alegria,
satisfação e outros sentimentos
no seu ambiente de trabalho.
Esta lista irá ajudar sobre como
agir em cada situação.
Ter autocontrole das emoções é
uma obrigação da liderança. No
mundo moderno não há mais espaço
para o líder que cria ambiente
de medo. As pessoas querem,
antes de tudo, trabalhar em um
ambiente saudável em termos
físicos e emocionais. Peça
feedback para as pessoas que
poderão ajudar no seu processo
de desenvolvimento pessoal.
Busque o aprimoramento pessoal
através de cursos, livros,
seminários, palestras, vídeos e
também no contato com outros
profissionais. Participe de
grupos de estudos e discussão
sobre liderança. O processo de
aprendizado deve ser contínuo e
para sempre. Gerir pessoas é um
processo dinâmico e requer
constante desenvolvimento.
Lembre-se que gerir pessoas é
uma arte e o artista não nasce
pronto. É preciso muita técnica,
prática e atualização. Sucesso!
Rogerio Martins é Psicólogo,
Consultor de Empresas e
Palestrante. Especialista em
Liderança e Motivação.
Sócio-Diretor da Persona
Consultoria e Eventos. Autor do
livro Reflexões do Mundo
Corporativo. Membro do Rotary
Club de SP Santana (Distrito
4.430).