A Arte do Recomeço
Por Jerônimo Mendes
16/02/2009
Apesar do esforço coletivo dos
governantes para reverter
situação da economia mundial
através do estímulo ao consumo,
a crise financeira não dá sinal
de tréguas e já atingiu até os
meus amigos, vizinhos e
parentes. Quase todos os dias eu
recebo currículos de conhecidos
ou do amigo de um amigo que, por
sua vez, acaba se tornando meu
amigo e fazendo parte da minha
rede de contatos. Cada vez que
isso acontece, eu lembro a
famosa frase de Harry Truman,
ex-presidente dos Estados
Unidos: recessão é quando o seu
vizinho perde o emprego;
depressão é quando você perde o
seu.
O fato é que o discurso dos
livros de auto-ajuda é muito
diferente do que acontece na
prática. Pensar positivo,
entregar o currículo
pessoalmente, utilizar o
networking e outras estratégias
semelhantes nem sempre funcionam
quando você mais precisa delas.
Portanto, se você não tomar
cuidado, com o passar do tempo e
aquele monte de bobagens que a
mídia despeja ao seu ouvido
diuturnamente, a frustração será
inevitável e o recomeço ainda
mais difícil.
A realidade é que ao entrar para
o mundo dos profissionais à
disposição do mercado – não
gosto da palavra desemprego -,
você acaba refletindo sobre tudo
aquilo que poderia ter sido
feito enquanto estava bem
empregado e agora, numa situação
de desvantagem temporária, não é
tão simples quanto parece, como,
por exemplo, procurar um novo
emprego sem ter emprego.
Você já notou que as empresas
procuram os profissionais
somente quando eles estão bem
empregados? Dificilmente alguém,
por livre e espontânea vontade,
bate à porta da sua casa, quando
você está disponível para o
mercado, e diz: você não
precisando de um emprego com
ótimo salário e excelente
carteira de benefícios? Parece
que a experiência, a energia, a
inteligência e a capacidade de
realização são demitidas junto
com o profissional.
Quantas vezes, durante as
discussões com o chefe ou mesmo
com um colega de trabalho, você
deve ter se perguntado em
silêncio: o que é que eu estou
fazendo aqui? Talvez estivesse
ali a sua grande oportunidade de
mudar a história dos
acontecimentos, entretanto, você
não consegue mudar o passado,
mas pode reconstruir o futuro.
Eu posso afirmar de boca cheia
que, depois da minha primeira e
última demissão na vida,
tornei-me um expert nesse
negócio, portanto, como eu
sempre gosto de dizer,
repetidamente, se existe algo
com que você não deve se
preocupar é o afastamento
temporário do mercado de
trabalho.
Como diziam nossas avós, é no
andar da carruagem que as
abóboras se ajeitam. Além do
mais, o mundo já passou por
inúmeras crises e aqueles que
mantiveram a cabeça no lugar e o
ânimo, apesar de tudo,
sobreviveram.
Por conta disso, ainda que você
consiga relaxar e dar tempo ao
tempo, você não pode se
distanciar da profissão tampouco
ignorar a crise, afinal, as
contas continuam chegando e o
dinheiro é algo que não se
multiplica sem a contrapartida
do estímulo, quer pelo trabalho,
quer pela aplicação correta do
excedente, quando possível.
Conclusão: você precisa retornar
ao mercado de trabalho o mais
rápido que puder, a menos que
esteja pensando em abrir um
negócio por conta própria, o
que, em muitos casos, pode ser a
melhor opção. Se esse for o seu
desejo, mude radicalmente a sua
estratégia e comece a pensar
como empreendedor.
Para facilitar a vida de quem se
encontra em situação semelhante,
aqui vão algumas dicas que
considero úteis para acelerar o
processo de retorno ao mercado
de trabalho. Deram certo comigo,
entretanto, devo lembrar que
cada um tem uma história e isso
é algo que ninguém pode mudar, a
não ser a própria pessoa. Pense
nisso e seja feliz!
1. Nada de ficar em casa
esperando a morte chegar,
remoendo o fato e tentando
entender o motivo; isso provoca
insegurança na família; não
existe razão, existe o fato
consumado, portanto, erga a
cabeça e encare mais um dos
inúmeros obstáculos que ainda
terá pela frente nos próximos 50
anos;
2. Prepare o currículo,
selecione as empresas que valem
a pena arriscar o contato e,
dentro do possível, entregue-o
pessoalmente, ainda mais se você
tiver um conhecido na empresa; o
ditado ainda vale: quem não é
visto não é lembrado;
3. Levante cedo, reflita,
concentre-se, leia tudo o que
puder a respeito das novas
oportunidades no mercado de
trabalho; nossa mente é incrível
e vai processando as informações
de maneira proporcional ao nosso
esforço; você nunca sabe de onde
pode vir uma luz;
4. Utilize o networking a seu
favor; eu fui demitido numa
segunda-feira pela manhã; de
tarde chorei um pouco, pensei na
vida e fiquei com a família; de
terça a sexta eu visitei 32
empresas do meu círculo de
relacionamento; dentre elas
havia empresas de clientes, de
amigos e de fornecedores da
empresa onde eu trabalhava; eu
me apresentava como alguém
“disponível para novos
desafios”;
5. Utilize a Internet e o
correio eletrônico a seu favor;
tenha sua própria lista de
e-mails, dispare alguns de vez
em quando, exceto aquelas
correntes de anjinhos que servem
mais para tomar o tempo dos seus
amigos do que para ajudá-los a
lembrar que você está à procura
de emprego;
6. Pense no que você quer
realmente fazer; em geral, todos
querem sobreviver, mas se você
tiver foco, será mais efetivo e
desperdiçará menos energia; não
adianta atirar o currículo para
todos os lados,
Comercial/Financeiro/RH/Logística/Produção,
ou seja, o que vier eu aceito;
as empresas precisam cada vez
mais de especialistas.
Jerônimo Mendes é Administrador,
Consultor e Palestrante
Autor de Oh, Mundo Cãoporativo!
(Qualitymark) e Benditas Muletas
(Vozes)
Mestre em Organizações e
Desenvolvimento Local pela
UNIFAE