Atitudes e Linguagem
Por Maria Rita Gramigna
25/06/2007
.
As palavras e as atitudes
exercem um poder assustador na
vida das pessoas. Podem ajudar a
construir uma auto imagem
positiva ou destruir sonhos e
desejos.
Um pouco do que somos e fazemos
hoje deve-se aos estímulos que
recebemos dos outros.
Os familiares exerceram
influência em nossa infância,
professores e mestres na
educação formal e na vida
profissional os gerentes e
líderes com os quais convivemos.
Há poucos dias, participei de um
encontro internacional de
líderes em recursos humanos,
onde a comunicação interpessoal
foi um dos temas mais
discutidos.
Neste artigo, pretendo abordar
três componentes essenciais
neste processo: pessoas,
realidade e linguagem.
Pessoas são diferentes umas das
outras e enxergam um mesmo fato
de forma única. Há casos em que
a atitude pessoal facilita a
convivência e em outras ocasiões
torna a interação um encargo
pouco agradável. E é com esta
realidade que os líderes
precisam aprender a conviver.
Vejamos dois exemplos, muito
comuns no cotidiano empresarial:
SITUAÇÃO NÚMERO UM:
O relacionamento entre as partes
está esgarçado. Os envolvidos
percebem que há chances de
superação e resgate da
confiança. Existe abertura e
flexibilidade para ouvir e
esclarecer possíveis mal
entendidos, o que torna o
contato mais produtivo. O
resultado quase sempre é o
retorno da harmonia.
SITUAÇÃO NÚMERO DOIS:
Os problemas de interação são
passíveis de resolução, porém
uma das partes se mantém
inflexível, recusa uma
aproximação e mantém a posição
de “dono da verdade”. Neste
caso, as relações permanecem sob
um clima de ressentimento e
fatalmente afetará o ambiente.
Duas posições existenciais
destacam-se nas situações acima.
A primeira marcada pela abertura
e a última pela inflexibilidade.
Ilustram as diferenças
individuais e suas conseqüências
no clima organizacional.
Existe uma crença bastante
arraigada nas empresas e que
precisa ser repensada: as
pessoas devem ser tratadas da
mesma forma. Desconfio da
veracidade desta máxima.
A realidade de cada um é
interpretada de acordo com sua
experiência de vida. Um
comentário lúdico e bem humorado
sobre o trabalho, para uma
pessoa pode ser percebido como
um gracejo sem maiores
conseqüências e para outra,
significar uma grave ofensa.
Daí a necessidade do líder
desenvolver cada vez mais sua
habilidade em comunicação.
Cuidados com a linguagem, a
forma e o momento são
imprescindíveis.
OS ATOS LINGÜÍSTICOS
Gerentes e líderes de equipes
têm ao seu dispor vários tipos
de linguagem, uns mais
eficientes e outros menos.
• As afirmações, descrevem um
fenômeno com neutralidade, sem
juízo de valor. É a forma mais
imparcial no processo de
comunicação e a que menos afeta
emocionalmente as pessoas.
• As declarações definem a
realidade. No ambiente
empresarial, quem declara é o
presidente, diretor ou gerente.
Eles possuem autoridade para
tal. Declarações feitas por
pessoas que não detém o poder
formal, tornam-se inválidas. Faz
parte do papel do declarante
assumir a responsabilidade pelo
que declarou e suportar
conseqüências das mudanças nas
regras do jogo.
• Os julgamentos incluem
opiniões pessoais influenciadas
por valores e crenças. Além das
conversas informais, os juízos
se estendem no ambiente
empresarial, entrelaçando-se nos
outros tipos de linguagem.
Sorrateiramente, como quem não
quer nada, o juízo de valor vai
influenciando no comportamento
das pessoas, nem sempre de forma
positiva.
• As solicitações e ofertas são
usadas quando se pretende gerar
compromissos na equipe.
• As promessas configuram o
futuro. A cada solicitação
segue-se uma oferta, atrelada a
resultados negociados.
Dicas de utilização dos diversos
tipos de linguagem:
As declarações, as solicitações
e as promessas, quase sempre vêm
acompanhadas de juízos de valor,
interferindo em sua finalidade.
Por representar a realidade
unilateral, o julgamento
dificulta as relações
interpessoais e o atingimento do
resultado desejado.
• Se o que se pretende é obter a
adesão de colaboradores em um
projeto específico, deve-se usar
a linguagem de solicitação,
evitando qualquer crítica ou
referência a fracassos do
passado. Apontar êxitos, indicar
pontos fortes, desafiar para a
ação, negociar metas, definir
formas de acompanhamento de
resultados e qualificar o
potencial das pessoas, são
atitudes que certamente agirão
como fonte de estímulo.
• Se o objetivo da comunicação é
declarar mudanças , deve ser
anunciada pela autoridade em
questão. Nem sempre as mudanças
declaradas são aceitas de bom
grado pelas equipes. Neste caso,
o gerente é o responsável pelo
repasse de informações que
permitam a compreensão do
contexto e pela sensibilização
das pessoas.
• A linguagem afirmativa, por
ser neutra auxilia todas as
outras.
O juízo de valor faz mais
estragos nas relações
interpessoais, quando é
direcionado para as pessoas.
Frases tais como “você não está
se esforçando”, “você precisa
estar atento” ou “nós nunca
planejamos nesta empresa”, minam
a motivação da equipe.
Meu desafio para os leitores é
usar as palavras de forma
construtiva e imparcial,
eliminando os juízos de valor.
Elas são tão poderosas que podem
mudar a realidade de uma pessoa.
O poder das palavras pode ser
exemplificado no texto de E.
Bucklev, “O GAROTINHO”
Uma vez um garotinho foi para a
escola. Ele era bem um
garotinho. E a escola era bem
grande. Mas quando o garotinho
viu que podia ir para a sua sala
caminhando diretamente da porta
lá de fora, ele ficou feliz e a
escola não parecia tão grande
assim.
Numa manhã, quando o garotinho
estava há pouco na escola, a
professora disse:
- "Hoje nós vamos fazer um
desenho !"
- "Bom !", pensou o garotinho.
Ele gostava de desenhar. Ele
podia fazer todas as coisas!
Leões e tigres, galinhas e
vacas, trens e barcos... E pegou
sua caixa de lápis e começou a
desenhar. Mas a professora
disse:
- "Esperem. Não é hora de
começar!"
E ela esperou até que todos
estivessem prontos.
-"Agora", disse a professora, "
Nós vamos desenhar flores".
- Bom, pensou o garotinho.
Ele gostava de desenhar flores.
E começou a fazer bonitas flores
com lápis rosa, laranja e azul.
Mas a professora disse:
- "Esperem, eu lhes mostrarei
como se faz!"
E era vermelha, com a haste
verde.
-"Aí!" disse a professora,
"Agora vocês podem começar".
O garotinho olhou a flor da
professora. Então olhou para a
sua. Ele gostava mais da sua
flor do que a da professora. Mas
ele não revelou isso. Ele apenas
guardou seu papel e fez uma flor
como a da professora. Era
vermelha, com a haste verde.
Outro dia, quando o garotinho
abria a porta lá fora, a
professora disse:
-"Hoje nós vamos trabalhar com
argila!"
...Cobras e bonecos, elefantes e
ratos, carros e caminhões... E
começou a puxar e amassar a bola
de argila. Mas a professora
disse:
-"Esperem, não é hora de
começar"
E ela esperou até que todos
estivessem prontos.
-"Agora" disse a professora,"
nós vamos fazer uma travessa."
_ "Bom", pensou o garotinho.
Ele gostava de fazer travessas.
E começou a fazer algumas, de
diferentes tamanhos e formas.
Mas a professora disse:
_"Esperem e eu lhes mostrarei
como fazer uma travessa funda."
_"Aí", disse a professora, "
agora vocês podem começar".
O garotinho olhou para a
travessa da professora. Então,
olhou para as suas. Ele gostava
mais das suas do que as da
professora. Mas não revelou
isso. Ele apenas amassou sua
argila numa grande bola. E fez
uma travessa como a da
professora, que era uma travessa
funda.
E logo o garotinho aprendeu a
esperar e a observar. E a fazer
coisas como a professora. E
logo, ele não fazia as coisas
por si mesmo.
Então aconteceu que o garotinho
e sua família mudaram para outra
casa numa outra cidade. E o
garotinho teve que ir para outra
escola. Essa escola era ainda
maior do que a primeira. E não
havia porta lá fora direto para
a sua sala. Ele tinha que subir
alguns degraus e seguir por um
corredor comprido para chegar a
sua sala.
E, justamente no primeiro dia
que ele estava lá, a professora
disse:
-"Hoje nós vamos fazer um
desenho".
Bom, pensou o garotinho.
E esperou pela professora para
dizer-lhe o que fazer. Mas ela
não disse nada, apenas andou
pela sala. Quando aproximou-se
do garotinho, ela disse:
-"Você não quer desenhar?"
-"Sim", disse o garotinho. "Mas
o que é que eu vou fazer?"
-"Eu não sei até que você faça",
disse a professora.
-"Como eu farei?", perguntou o
garotinho.
_"Por quê" disse a professora,
"faça do jeito que você quiser".
_"E de qualquer cor?" perguntou
ele.
_"De qualquer cor" disse a
professora. "Se todos fizessem o
mesmo desenho e usassem as
mesmas cores, como eu poderia
saber quem fez o que e qual era
qual?"
_"Eu não sei", disse o
garotinho.
E começou a fazer uma flor
vermelha, com a haste verde.
Maria Rita Gramigna é Mestre em
Criatividade Total Aplicada pela
Universidade de Santiago de
Compostela (Espanha). Graduada
em Pedagogia pela Universidade
Federal de Minas Gerais e
pós-graduada em Administração de
Recursos Humanos pela UNA –
União de Negócios e
Administração (MG). Atua no
Mapeamento de Competências,
contatos estratégicos com
clientes, capacitação gerencial
e treinamento da equipe de
consultores da MRG Consultoria e
Treinamento Empresarial.