Avaliação do Desempenho dos
Colaboradores
Por Henrique Montserrat
Fernandez
18/01/2007
Para que uma pessoa possa ser
avaliada1 e cobrada por um
desempenho satisfatório, ela
deve em primeiro lugar saber,
sem quaisquer dúvidas, quais são
suas atividades e o que elas
implicam para o dia-a-dia da
empresa.
Essas atividades, decorrentes
sempre do cargo que ocupam,
devem estar claramente definidas
por escrito2 e devem ser de
conhecimento de toda a empresa.
Isso evitará a clássica desculpa
“isso não faz parte de minhas
atividades”, muito comum quando
não se sabe o que cada um faz.
Em se tratando de avaliações de
desempenho, temos de levar em
consideração um fato muito
importante: essas avaliações são
geralmente malfeitas, gerando
mais conflitos que soluções. Em
geral, os dirigentes não sabem
realizá-las.
Outro fator importante é a
resistência humana às críticas,
sejam positivas ou não. E mais,
como fazer uma boa avaliação de
desempenho individual, se cada
vez mais as atividades têm de
ser realizadas em equipe, sem
que isso gere ainda mais
conflitos, por competitividade,
dentro da equipe?
Muitas empresas decidiram
simplesmente aboli-las em vez de
atacar diretamente o foco do
problema. E, além disso, não há
maneira melhor de aprimorar o
desempenho de uma pessoa do que
através de avaliações imparciais
e oportunas, feitas por seus
superiores, sempre ressaltando
os pontos positivos do avaliado
e informando onde ele pode
melhorar.
Em meus anos como professor
universitário, uma das maiores
dificuldades encontradas dizia
respeito a como avaliar
corretamente o desempenho dos
alunos. A faculdade exigia duas
provas por semestre, a fim de
determinar a média final. Cabia
ao professor, caso desejasse,
realizar avaliações
intermediárias, através de
testes ou trabalhos, a fim de
complementar a nota. Seria o
ideal, se não houvesse mais de
sessenta alunos por turma. Mal
havia tempo de preparar as
aulas, o que se dirá da correção
de avaliações contínuas, como
seria o melhor? (Sinceramente,
se eu mal conseguia me lembrar
do nome de dez deles, como fazer
para avaliá-los correta e
imparcialmente a posteriori?)
Esse exemplo pode ser
extrapolado para uma empresa.
Quais dos chefes numa grande
organização têm mais de sessenta
colaboradores para avaliar?
Quais desses chefes têm tempo
para isso?
Mas as chefias (e principalmente
os colaboradores) não podem
ficar sem conhecer o resultado
dessas avaliações. É uma
ferramenta de motivação3 (quando
mal utilizada, entretanto, pode
gerar a desmotivação do
avaliado). Se alguém vai mal em
uma avaliação, deve saber o
porquê e ser auxiliado no
processo de melhoria.
Portanto, se o avaliado não está
recebendo retorno satisfatório
dessas avaliações, é
interessante que ele pergunte ao
chefe sobre seu desempenho. E
importante: avaliação de
desempenho não visa somente
aumento de salário, mas sim o
aprimoramento profissional e o
alcance de metas
organizacionais. Deixe isso
sempre claro para seus
colaboradores.
Um exemplo de sistema de
avaliação, baseado em múltiplas
fontes, adotado para ajudar o
desenvolvimento do colaborador é
a denominada Avaliação 360
Graus4, fundamentada no fato de
que ninguém melhor para avaliar
um colaborador do que as pessoas
que fazem parte do "círculo de
atuação" dele.
Você se lembra do que fez em 14
de junho de 2006? Duvido que
sim. E seu colaborador, o José?
Você é capaz de dizer se ele fez
bem seu trabalho nessa data? Ou
ocorreu algum problema, do qual
você já não se lembra mais?
Como espera avaliar seus
colaboradores adequadamente, se
nem sabe o que comeu ontem? Faça
essa experiência: Tente se
lembrar de algo que fez trinta
dias atrás. Não consegue?
Quando passei a ser cobrado por
desempenho em minhas atividades
(e isso ocorreu bem rápido em
minha vida profissional), vi-me
nessa situação – não me lembrava
das atividades importantes que
havia realizado (sabia que tinha
feito algo de importante, não é
possível passar tantas horas
trabalhando sem realizar nada de
útil!).
Um amigo me disse, então, que
fazia resumos das atividades
diárias que realizava (em no
máximo cinco linhas), num
pequeno caderno que levava
sempre na maleta.
Achei enfadonho a princípio, mas
depois de pouco tempo percebi
como ficava mais fácil preencher
relatórios dos projetos sob
minha responsabilidade, bem como
me sentia mais confiante por
saber, a qualquer momento, em
que atividades gastava minhas
preciosas horas, caso fosse
questionado.
Não digo que você faça o mesmo,
se bem que o conselho é bom. Mas
não custa nada despender quinze
minutos diários para preencher,
numa planilha no computador – ou
mesmo numa folha de almaço
quadriculada – se o desempenho
diário de cada um dos membros de
sua equipe de trabalho foi
satisfatório ou não.
É algo bastante simples, como no
exemplo abaixo:
Nome / Dia 02/01/aa 03/01/aa
04/01/aa ... 31/01/aa
Colaborador A OK OK Melhorar
atividade x OK OK
Colaborador B OK OK OK OK OK
Colaborador C OK OK OK OK OK
Isso permitirá que você se
lembre do ocorrido numa certa
data e possa tomar providências
para resolver o problema junto à
pessoa, da forma mais adequada.
Percebemos que ainda falta muito
para que as organizações venham
realmente a utilizar de maneira
sábia esse importante
instrumento de gestão que é a
avaliação de desempenho. Espero
que você, estando alerta deste
problema, não incorra no mesmo
erro que, volto a lembrar, é um
dos principais fatores de
desmotivação entre os
colaboradores.
Notas
* Escolho o termo colaborador,
pois os termos funcionário e
empregado, carregam um certo
ranço pejorativo, visto em sua
própria definição no dicionário:
“...Pessoa física que presta
serviços de caráter não eventual
a um empregador, sob a
dependência dele e mediante
salário.” (Aurélio) – no mesmo
verbete, o termo também é
definido como criado.
Nesse dicionário, a definição de
colaborador condiz mais com a
verdadeira natureza do trabalho
realizado pelas pessoas nas
empresas: “...Aquele que
colabora...co-autor”, ou seja,
considero que sem os
colaboradores não há empresa.
1. “As avaliações mais valiosas
são as interações diárias entre
os chefes e seus subordinados --
e esse tipo de coisa não pode
ser traduzido em formulários...”
– Gina Imperato, “Como Fazer uma
boa avaliação de desempenho”,
Revista VOCÊ S.A., novembro
1998.
2. Quando participei da
implantação da Norma NBR ISO
9000 em empresas, um dos
aspectos facilitadores
geralmente mais negligenciados
pelos administradores dizia
respeito a colocar no papel as
funções dos cargos (isso auxilia
muito também na identificação
das necessidades de
treinamento). Parecia medo das
chefias (será que sentiam que
iam perder algum poder com
isso?) de “oficializar” aos
colaboradores quais eram suas
atribuições, sobre as quais
estes seriam cobrados no dia – a
- dia.
3. Motivar, segundo uma das
definições do Dicionário
Aurélio, é “...despertar o
interesse ou o entusiasmo;
estimular...”
Todo mundo já deve ter ouvido,
algum dia, a frase: “Você não é
pago para pensar”.
Esta é sem dúvida uma das
maiores bobagens ditas por
alguém que possui subordinados.
Em primeiro lugar por ser
tremendamente desmotivadora, em
segundo, por ser uma tolice
rematada. Se você tem um
colaborador, por que não
aproveitar as idéias que ele
tenha, pagando o mesmo no fim do
mês? Não é porque você é o chefe
(ou dono do negócio) que tem
todas as respostas corretas.
Poderá se admirar ao ver como
seus colaboradores podem
auxiliá-lo nesta questão.
Incentive-os a terem idéias e
recompense-os por elas.
4. Para saber mais sobre
avaliações de desempenho,
consulte Gestão de Pessoas,
Idalberto Chiavenatto, Editora
Campus, 1999.
Henrique Montserrat Fernandez é
Administrador de Empresas com
pós-graduação em Análise de
Sistemas e MBA em Tecnologia da
Informação / E-management pela
FGV/RJ. Com 29 anos de atuação
profissional, trabalhou em
empresas de médio e grande
portes, tais como Grupo
Bonfiglioli, Copersucar e SENAC,
entre outras. Foi Gerente de
Sistemas e Métodos da Zanthus,
tradicional fabricante de
Terminais Ponto de Venda, onde
atuou por mais de seis anos. Foi
também professor universitário
na década de 90, além de possuir
vasta experiência em treinamento
empresarial. É especialista nas
normas ISO 9000, sendo Lead
Auditor pela Perry Johnson Inc.,
desenvolvendo, inclusive,
softwares para essa área. Atual
Diretor da Zamplex Consultoria,
é autor do livro "Evitando a
Falência - Garanta o Sucesso de
Seu Negócio"
(www.zamplex.com.br), além de
escritor de vários artigos sobre
gestão empresarial.
Henrique Montserrat Fernandez é
Administrador de Empresas com
pós-graduação em Análise de
Sistemas e MBA em Tecnologia da
Informação / E-management pela
Strong/FGV. Com 29 anos de
atuação profissional, trabalhou
em empresas de médio e grande
portes, tais como Grupo
Bonfiglioli, Copersucar e SENAC,
entre outras. Foi Gerente de
Sistemas e Métodos da Zanthus,
tradicional fabricante de
Terminais Ponto de Venda, onde
atuou por mais de seis anos. Foi
também professor universitário
na década de 90.