Bem e Mal
Por Henrique Montserrat
Fernandez
18/01/2007
Bem e mal, verdade e mentira,
branco e preto, coragem e
covardia, riqueza e pobreza.
Parece que a vida humana é
regida por antônimos. Não se
fala dos nuances, dos tons de
cinza, dos equilíbrios, nem das
ambigüidades.
Olhando à nossa volta, a
realidade não parece ser tão
estática, tão cara-ou-coroa.
Queira ou não, o conceito de bem
e mal que conhecemos é
estritamente cultural. Não
devemos supor que seja igual em
todo o mundo, ou que tenha sido
sempre o mesmo desde o início
dos tempos. Por exemplo, ficamos
horrorizados quando ouvimos
falar de rituais canibalísticos
ou infanticídio no passado,
achando com certeza que é um
retrato vívido do mal no mundo
e, que seus praticantes, são
verdadeiros demônios. Não
devemos ser tão apressados em
rotulá-los como devotos do mal,
sem antes compreender os motivos
que os levaram a isso, mesmo que
não gostemos desses motivos.
Isto não é apologia, é
entendimento.
Diz-se que o que separa o homem
das feras é justamente sua
capacidade de raciocínio, seu
auto-conhecimento. Isso faz com
que sejamos ótimos em tirar
conclusões do que vemos ao nosso
redor, mas nem sempre, o que
enxergamos é a realidade. Não é
porque o sol "nasce" a leste e
"se põe" a oeste, que isso
significa que o Sol gira ao
redor da Terra.
O que deveria nortear a
humanidade é a procura da
verdade (mesmo que nunca a
alcancemos totalmente), gostando
ou não do resultado obtido. Não
é porque alguém crê em Deus e no
que diz a Bíblia, que deve
refutar a realidade da evolução.
Os que a negam, infelizmente,
fazem o cultural prevalecer
sobre a razão das evidências.
Esse aparente paradoxo, de ter
de levar sempre em consideração
o cultural para entender as
motivações humanas e apesar
disso, não deixar esse mesmo
contexto cultural negar a
realidade dos fatos, é difícil
de concretizar, mas acaba sendo
a chave para o equilíbrio que
constrói o saber.
Este equilíbrio, que rege a
natureza do Universo, parece não
agradar ao homem. Os excessos
sempre chamaram mais a atenção
do que o comedimento. Por isso
são mais famosos os pilotos de
fórmula um do que os praticantes
de caminhadas, mesmo que muitas
vezes, vivam menos. Da mesma
forma, a paciência não é uma das
virtudes mais aplicadas em nosso
mundo.
Tendo os extremos em tão alta
conta em nossa sociedade
moderna, é normal que o caminho
do meio não seja visto como o
mais recomendado em situações
cotidianas, se quisermos vencer.
Parece que vivemos em eterna
disputa ! Ao dirigir um veículo,
ao entrar num banco, ao caminhar
pelas ruas, é como se
estivéssemos atrás de bater
algum recorde num estádio, ou
defender nossa vida numa arena
romana!
O mal que isso nos faz, tanto
física como psicologicamente, é
o único "prêmio" que auferimos,
com esse estilo de vida.
A competição é salutar e gera
inovação, mas em excesso, é a
causa também da fome e das
guerras. Mais uma vez o
equilíbrio parece ser a resposta
a esse dilema.
Agora, pensemos um pouco
naqueles que utilizam a
paciência e a perseverança para
obter o saber:
Os paleontólogos ou arqueólogos
que permanecem debruçados sobre
um sítio por meses ou anos a
fio, com alguns poucos
instrumentos e muita paciência,
escavando camada após camada de
sedimentos, à procura do
conhecimento que a natureza, no
passado, escondeu para o futuro.
Os físicos, os cosmólogos e
outros que como eles, passam a
vida toda tentando decifrar a
escrita da realidade do macro e
do microcosmo, utilizando
instrumentos feitos em geral sob
medida, como um terno, e outros
ainda, que devem ser criados do
nada, além de muita matemática,
lógica e raciocínio dedutivo a
fim de conseguir informações de
coisas que, em geral, não
parecem ser o que são.
Estes são apenas exemplos. Todos
podem aproveitar as virtudes do
equilíbrio, da paciência e da
perseverança em seu cotidiano,
basta exercitá-las. Pode parecer
difícil, demorado e até
antiquado à primeira vista, mas
dá frutos bastante saborosos no
final.
Equilíbrio, paciência e
perseverança são atitudes que,
utilizadas como ferramenta de
crescimento na busca do
conhecimento, permitem uma
satisfação mais duradoura quando
este é enfim alcançado.
Henrique Montserrat Fernandez é
Administrador de Empresas com
pós-graduação em Análise de
Sistemas e MBA em Tecnologia da
Informação / E-management pela
Strong/FGV. Com 29 anos de
atuação profissional, trabalhou
em empresas de médio e grande
portes, tais como Grupo
Bonfiglioli, Copersucar e SENAC,
entre outras. Foi Gerente de
Sistemas e Métodos da Zanthus,
tradicional fabricante de
Terminais Ponto de Venda, onde
atuou por mais de seis anos. Foi
também professor universitário
na década de 90.