Brainstorming – do presencial ao
eletrônico, a eterna máquina de
produzir idéias
Por Gisela Kassoy
20/10/2007
O Brainstorming desenvolvido
pelo publicitário Alex Osborn
nos anos 40, foi rapidamente
incorporado na linguagem das
empresas. Trata-se da mais
conhecida técnica de geração de
idéias, notadamente eficaz,
quando usada adequadamente.
De fato, a popularidade do
Brainstorming o banalizou a
ponto, às vezes, de seus
princípios não serem mais
considerados. Nesses casos, a
chamada tempestade cerebral se
transforma numa lista de
clichês, sem levar em conta seu
principal componente, que é a
criatividade.
Vamos então aos princípios:
O Brainstorming possui duas
etapas: a Divergente, na qual a
proposta é produzir muitas
idéias e a Convergente, na qual
as sugestões são selecionadas,
agrupadas e avaliadas.
A etapa convergente não é muito
diferente do que fazemos no
nosso cotidiano: somos todos
experts em fazer julgamentos,
aprovar, vetar... Já a etapa
divergente pode parecer mais
difícil: ela exige ousadia,
capacidade de combinar soluções
e até um certo esforço mental
para direcionar o pensamento
para além do trivial.
As regras do Brainstorming -
adiar o julgamento, visar a
quantidade, combinar e
aperfeiçoar idéias alheias - têm
sua razão de ser: quando
direcionamos o pensamento num
determinado sentido,
potencializamos nossa capacidade
mental. Por exemplo, quanto mais
observamos detalhes, maior a
nossa capacidade de percebê-los.
Da mesma forma, quanto mais
idéias temos, maior a nossa
capacidade de produzi-las.
É por isso que nessa fase, não
importa se as sugestões são boas
ou não, o que importa é a
fluência de idéias. Além disso,
as propostas ditas malucas são
justamente aquelas que têm mais
potencial para inspirarem idéias
originais e válidas.
O que se observa é que, mesmo
que os princípios do
Brainstorming sejam entendidos,
não é fácil praticá-los. Um
estudo do Journal of Personality
and Social Psychology, dos EUA,
verificou que um Brainstorming
em equipe gerou 28 propostas,
20,8% das quais consideradas
boas. O mesmo número de pessoas
trabalhando individualmente com
uma demanda semelhante gerou 74
idéias, 79,2% consideradas boas.
Explica-se: os grupos atuam em
conformidade com seus valores, e
na prática as pessoas temem
falar o que não for senso comum
e serem reprovadas.
Portanto, um grande inimigo do
Brainstorming é a cultura das
organizações: normalmente
valoriza-se o bom senso, os
acertos, as boas argumentações.
Entretanto, na etapa divergente
do Brainstorming, o que importa
é o arrojo, a fluência e as
elucubrações.
Organizações como a IDEO,
empresa de design e benchmark
global em criatividade, possuem
uma cultura toda voltada para a
diversidade, a ousadia, a
capacidade de ser diferente.
Entretanto não seria possível,
nem pertinente, que bancos,
indústrias químicas e
montadoras, ou seja, empresas
que precisam inovar (e quais não
precisam?) possuam uma cultura
semelhante a das empresas de
design ou das agências de
propaganda.
O desafio é combinar a coragem
de quem está produzindo idéias
sozinho, e, portanto não teme
ser censurado, com a riqueza da
diversidade, a sinergia criativa
e a capacidade de aperfeiçoar
sugestões alheias.
Para ter o melhor dos dois
mundos, as empresas podem contar
com a ajuda de um facilitador
que legitima a técnica e cria um
clima de estímulo e permissão.
Quero, portanto compartilhar
minha experiência como
facilitadora, sem pender para o
Presencial nem para o Virtual,
até porque a escolha tende a ser
feita principalmente em função
das necessidades das equipes.
Apresento abaixo alguns exemplos
de procedimentos possíveis em
ambos os casos, sempre
respeitando os princípios da
técnica:
1. Pensamento Adequado para as
Diferentes Etapas - No
Brainstorming Presencial,
sinalizo o momento da equipe
atuar de forma Divergente ou
Convergente, e proponho
aquecimentos para gerar o clima
adequado. No Brainstoming
Eletrônico o clima pode ser
provocado por breves explicações
e exemplos de cada etapa, e pode
ser pontuado pela cor ou ícone
que acompanha a mensagem, já
previamente estabelecido pela
equipe.
2. Ausência de Componentes
Intimidadores - No Brainstorming
Presencial, aplico técnicas e
táticas específicas. O
Brainstorming Eletrônico pode se
valer do anonimato total ou cada
participante pode ter um ou mais
nicks. Garanto que o resultado é
frutífero e, pelo que já vi, o
processo torna-se muito
divertido!
3. Quantidade de Idéias – Numa
situação presencial, desafio o
grupo a dar um número
determinado de idéias em um
breve período de tempo, por
exemplo. Para estimular a
fluência, no Brainstorming
Eletrônico podem ser
estabelecidas regras tais como
mandar no mínimo 5 ou mais
idéias por vez.
4. Utilização de Outras Técnicas
- Há várias técnicas e táticas
que podem ser sugeridas durante
o Brainstorming, tais como as
Provocações de Edward de Bono
(atalhos que fazem com que as
pessoas evitem o Pensamento
Linear). Numa reunião
Presencial, o facilitador
percebe a necessidade do grupo e
sugere técnicas ou táticas, mas
nada impede que um membro do
grupo ou o moderador as traga
virtualmente.
5. Avaliação e Seleção de Idéias
– Na etapa convergente, em ambos
os casos, todas as idéias devem
estar registradas, seja no
papel, seja no computador. No
Brainstorming Eletrônico as
idéias podem ser apresentadas de
forma mais agradável
visualmente, e a avaliação e
seleção das mesmas também poderá
ser feita anonimamente.
De fato, o Brainstorming
Eletrônico não é apenas um
veículo para fazermos as mesmas
coisas à distância e de maneira
assíncrona, mas uma iniciativa
que pode ser muito rica se
soubermos adaptar os princípios
da técnica ao mundo virtual.
Às equipes que se propõem a
utilizar o Brainstorming
Eletrônico, recomendo:
1. Experiência Presencial prévia
e conhecimento uniforme da
técnica;
2. Um facilitador/moderador que
dá feed-back ao grupo,
complementa eventuais lacunas de
aprendizagem com e-learning e
estimula a participação;
3. Humor, prazer e o espírito
das Comunidades Virtuais não
profissionais;
4. Associar o Brainstorming
Eletrônico a outras iniciativas
virtuais.
Minha intenção não é esgotar as
possibilidades, mas sim incitar
a aplicação da técnica.
Experimente e depois nos conte
os resultados. Quem sabe este
artigo não gera algumas sessões
de idéias para todos nós?
Gisela Kassoy - Consultoria em
Criatividade