Brainstorming – O comportamento
dos grupos e as equipes
Por Gisela Kassoy
20/10/2007
Foi convidado para facilitar uma
sessão de brainstorming? Então o
primeiro passo é planejar a
composição da equipe de
participantes. Pessoas de vários
perfis, formações e culturas,
inclusive de áreas não
envolvidas no projeto geralmente
trazem resultados mais
interessantes, mas há algumas
variáveis que precisam ser
consideradas
Em pesquisa publicada no Journal
of Personality and Social
Psychology dos EUA verificou-se
que um Brainstorming em equipe
gerou 28 propostas, 20,8% das
quais consideradas boas. O mesmo
número de pessoas trabalhando
individualmente com uma demanda
semelhante gerou 74 idéias,
79,2% avaliadas como boas.
Explica-se: os grupos atuam em
conformidade com seus valores, e
na prática as pessoas temem
falar o que não for senso comum
e serem reprovadas.
Vamos, portanto explorar mais
detalhadamente a questão da
conformidade, o grande vilão da
ousadia entre os times de
trabalho. Conformidade é um
fenômeno social que faz com que
qualquer grupo tenda a se
homogeneizar. Com o convívio, as
pessoas absorvem
inconscientemente comportamentos
e valores uns dos outros. Quanto
mais estreito e duradouro for o
relacionamento, mais as pessoas
tendem a pensar e agir de forma
semelhante. Há também um aspecto
da conformidade que é
consciente: convivendo em grupo,
as pessoas desenvolvem uma boa
noção do que devem ou não devem
fazer, o que “pega bem” ou não.
Nesse caso, a opção entre atuar
dentro da conformidade é
calculada e varia de acordo com
o perfil de cada um.
Daí a importância de chamarmos
para o brainstorming pessoas que
não sejam membros das equipes,
sejam elas de outras áreas ou
novatas. Além disso, as idéias
enriquecem quando é convidado um
cliente, por exemplo, que
necessariamente tem outros
pontos de vista. Por outro lado,
seres humanos precisam sentir-se
bem para poderem opinar. Segundo
William Schutz, pesquisador de
Harvard, os grupos passam pelas
seguintes fases:
Inclusão - Dá início à
interação. Nessa fase, os
indivíduos têm necessidade de se
sentirem considerados pelos
outros, de perceberem que sua
presença no grupo é de interesse
para os demais. Algumas pessoas
ainda não incluídas numa equipe
tendem a ser mais observadoras e
não farão nada que não seja a
voz comum; outras necessitam ser
notadas e são capazes inclusive
de comportamentos dissonantes
para marcar espaço. Esta
dissonância não é
necessariamente construtiva,
mas, em se tratando de
brainstorming, o facilitador
pode aproveitá-la para incluir a
pessoa nova. Um exemplo: conduzi
um grupo de desenvolvimento de
estratégias de marketing no qual
um novo participante deu uma
idéia profundamente antiética,
causando certo mal estar aos
demais. Imediatamente eu
reforcei a regra de não censurar
e desafiei o grupo a aproveitar
o que havia de viável na idéia
anterior. A pessoa e o grupo
ficaram mais à vontade e a idéia
acabou levando o grupo a uma
proposta bastante original, além
de ética e viável.
Controle – Esta é a fase do
“quem é quem”, na qual se
estabelecem relações de mando e
autoridade. Nesse momento
emergem os líderes, os rebeldes,
os brincalhões, os seguidores,
etc. É uma fase de jogo de
forças, competição por
lideranças, discussões e
formulação de normas de conduta
dentro do grupo. Cada um busca
atingir um lugar satisfatório às
suas necessidades de controle e
influência. O facilitador pode
aproveitar os papéis recém
estabelecidos. O que eu faço,
por exemplo, é pedir ao menos
tímido que inicie a dar idéias.
Estimular a competição é uma
faca de dois gumes: boa na fase
divergente, quando as pessoas
devem contribuir com o maior
número de idéias possível, tende
a ser daninha na fase de
avaliação das idéias, quando a
competição fará com que cada um
acredite que a própria idéia é a
melhor.
Abertura – É a fase da
afetividade, confidências e
aceitação. Os participantes já
se sentem à vontade para
discordar, colocar seus pontos
de vistas, sair da caixa. Esta
fase é o melhor dos mundos para
o brainstorming, mas nem sempre
é o que vamos encontrar. Nem por
isso a sessão de idéias não dará
frutos: cabe ao facilitador
entender o momento da equipe e
dos participantes novos. Assim
como ele pode aproveitar cada
etapa conforme ela se descortina
e pode também alavancar a equipe
rumo à abertura. Daí o uso de
dinâmicas de aquecimento, locais
diferenciados e descontração.
E o Chefe? Outra pergunta que me
fazem com freqüência é se o
chefe pode participar. Se
estivéssemos nos anos 80 eu
diria que não. Atualmente, eu
digo que mesmo o mais liberal e
descontraído dos chefes pode
participar desde que não seja
visto como autoridade. Não falo
de autoritarismo, mas da
autoridade natural de quem sabe
mais. Durante a geração de
idéias ninguém sabe mais do que
ninguém. Só não recomendo que
ele atue como facilitador, para
não gerar confusão entre os
diferentes papéis. O facilitador
está antenado no processo do
grupo e deve, portanto, estar
fora do mesmo.
Gisela Kassoy - Consultoria em
Criatividade