Cadastro de Clientes:
Estratégia de Marketing
ou Burocracia?
Por Marcelo Miyashita
12/04/2006
Volta e meia ao fazermos
compras passamos por uma
situação interessante na
hora de pagarmos. No
geral, há sempre a
solicitação do
fornecimento de dados
para cadastro. E não é
para a liberação de
crédito. É, como alguns
bem intencionados
atendentes explicam,
para que a loja se
relacione com o cliente
pelo envio de promoções,
lançamentos e convites.
Se o cliente acreditar e
se identificar com a
loja, ou se o ato não
for um desconforto, ele
até fornece os dados sem
pestanejar. Muitos, no
entanto, não enxergam
isso como algo agradável
ou, calejados, sabem que
não levarão vantagem
nenhuma, ou pior, sabem
que o lojista não fará
nada com essa informação
- nenhuma ação de
relacionamento, nem
mesmo de melhoria da sua
estratégia de marketing.
Só que não adianta
discutir, muitas vezes,
se não forem passados os
dados, o 'sistema' não
mudará de tela e não
concretizará o processo
de pagamento. O cliente
tem que passar seu
cadastro, mesmo que a
empresa não faça nada e
ele saiba disso. Que
relacionamento é esse?
Há alguns anos passamos
o boom da automação
comercial, muito pela
obrigação do cupom
fiscal, é bom lembrar.
Com a automatização
vieram vantagens, como a
promessa de melhor
controle e administração
de produtos, estoques e
compras; desempenho de
vendas, gerentes e
vendedores; faturamento,
fluxo de caixa e toda
contabilidade; e também
a possibilidade de
conhecer seus clientes,
segmentá-los e para eles
desenvolver ações de
relacionamento.
Praticamente todo
sistema de gestão de
varejo possui o módulo
de CRM. A questão é que
nem todo lojista o
utiliza simplesmente
porque isso significa
adotar novas formas de
atuar. Trabalhar
pós-venda, estabelecer
contatos rotineiros por
meio de comunicação
dirigida, realizar
promoções e eventos
exclusivos, oferecer
benefícios vantajosos,
montar campanhas de
marketing direto -
coisas muito além do
software, que é uma
ferramenta necessária,
mas que depende de boas
estratégias para que seu
uso seja justificado.
Afinal, de que adianta
captar dados de clientes
e não utilizá-los? Como
consultor e dirigente de
uma consultoria
especializada em
marketing de
relacionamento, até por
pesquisa de trabalho,
sempre forneço meus
dados para verificar que
ações as lojas irão
desenvolver comigo, como
consumidor. A maioria
não faz absolutamente
nada, uma pequena parte
envia mala-direta sem
segmentação de perfil e
muito ocasionalmente, em
raríssimos casos,
percebo algumas lojas
trabalhando meus dados.
Esse painel é um
desperdício, de
oportunidades de
negócio, de software e
de paciência do cliente
- que também percebe, e
que por isso, é natural
que seja reticente em
fornecer informações. E
o ruim é que a própria
equipe de vendas e
atendimento sabe que o
cadastro não é
utilizado, o que
contribui para que a
própria captação de
dados seja tratada como
uma burocracia do
processo de vendas.
Talvez por essa razão,
ao estudarmos uma base
de dados encontramos
muitos endereços
inexistentes e telefones
do tipo “1111-1111”.
Certamente isso não é
marketing de
relacionamento. Dados
são necessários, mas
importante mesmo é saber
utilizá-los como fonte
para o desenvolvimento
de estratégias. E muita
coisa pode ser feita.
Com informação pode-se
conhecer melhor o
cliente das lojas,
descobrir que não há um
perfil único e trabalhar
para o grupo dos poucos
que formam a nata da
clientela. Eles são
valiosos não só pelo
faturamento que geram,
mas porque muito
provavelmente gostam da
loja, dos produtos e dos
serviços prestados. O
bom vendedor sabe quem é
esse cliente e formula
para ele boas técnicas
de vendas.
Intuitivamente dá mais
atenção, abre diálogo,
sugere produtos e
trabalha para o bom
cliente sempre voltar.
Mas nem sempre a alta
gestão consegue
identificá-lo e formular
boas estratégias de
marketing, valorizá-lo
em suas ações
promocionais,
beneficiá-lo com
serviços vantajosos e
produtos direcionados.
Claro, bom atendimento e
bons serviços todos
devem receber, mas há
sempre alguns que podem
receber mais, pela sua
importância e relevância
para o negócio. No
entanto, para a maioria
das empresas, o bom
cliente é tratado igual
a todos, o que é um erro
estratégico. Todo
negócio tem seus
clientes especiais, seus
VIPs, sua nata. Esses
são mais rentáveis, são
os heavy-users, são
aqueles poucos
responsáveis por uma
parcela significativa do
faturamento. A
organização precisa dar
atenção a mais para
estes clientes especiais
e não deixar só para o
gerente da loja, em
conjunto com seus
atendentes, fazer a
diferença. Técnicas de
vendas ajudam, ainda
mais quando se tratam de
redes de lojas ou
franquias, mas o
dirigente não pode só
depender da atuação
particular de cada
gerente e da memória de
seus vendedores.
A tecnologia no varejo
tem evoluído muito e
fornecido a
possibilidade de
cadastrar, conhecer,
identificar e até
rastrear os clientes na
loja. Isso tudo não pode
ser um bando de dados e
seu CRM uma caixa preta.
Tem que ser utilizado
para justificar seu
investimento, mas,
principalmente, para
realizar mais negócios
com quem dá importância
e escolhe com freqüência
sua loja. Eles estão aí,
mas podem não estar
amanhã. Dê mais atenção
a quem lhe dá mais
atenção. Isso é
marketing de
relacionamento.
Marcelo Miyashita é
consultor líder e
palestrante da MIYASHITA
CONSULTING. É professor
de marketing em cursos
de MBA e pós-graduação.
Atualmente leciona na
Cásper Líbero, FGV-EAESP
GVpec, Trevisan, PUC-SP
COGEAE, Madia Marketing
School, IMES e IBModa.
Foi colunista do
Comercial & Cia, na
rádio BandNews FM. Em
2006 recebeu o Prêmio
Marketing Best e em 2007
o título de Marketing
Expert, concedido pela
Editora Referência
(Jornal Prop&Mkt), pela
FGV-EAESP e pela
MadiaMundoMarketing. É
mestrando em
Administração pela
PUC-SP, pós-graduado
pela ESPM e publicitário
pela Cásper Líbero.
Conheça seu trabalho:
www.miyashita.com.br