A Cadeia de Marketing e
Criação de Valor para o
Cliente
Por Admir Borges
14/12/2006
O grande desafio das
organizações, neste
início de milênio, é
encontrar uma forma de
reduzir as distâncias
entre o processo
produtivo e o consumidor
final, pois, como se não
bastassem a complexidade
e os altos custos da
cadeia de distribuição,
o mercado sinaliza
incessantemente para a
necessidade da criação
de valor para o cliente.
Se de um lado as
tecnologias de venda
avançam de forma
acelerada, do outro a
gestão dos canais de
distribuição torna-se um
empecilho para a redução
dos custos operacionais.
Os intermediários do
processo sempre
encontram mais uma forma
de multiplicar a cadeia,
o que tem dificultado,
por parte do fabricante,
o controle dessa
variável interna do
marketing. Segundo
Domenico Barili, expert
em marketing, “Muitas
indústrias renunciaram,
apressadamente, ao papel
distributivo, à sell in
(venda do produtor aos
comerciantes) e à
distribuição direta à
loja, perdendo o contato
direto e vital com o
ponto-de-venda,
exatamente onde acontece
o encontro determinante
com o consumidor final.”
Na opinião do professor
e consultor David Bovet,
o grau de complexidade
da cadeia de suprimentos
é um dos motivos que
levam os fornecedores a
não se adaptarem a ela,
dificultando o
atendimento às várias
necessidades e demandas
do cliente. O fato é que
entender o processo de
distribuição e logística
requer um conhecimento
mais aprofundado de suas
fases evolutivas, além
das tendências que se
desenham num cenário de
alta competitividade.
A distribuição e a
logística devem ser
compreendidos
inicialmente pela
identificação e análise
de seus principais
protagonistas: o
fornecedor, o produtor,
o distribuidor e o
consumidor. A estrutura
da cadeia é composta por
esses elos, que permitem
uma melhor administração
desde que haja um
alinhamento às
estratégias e demandas.
São elas: o fornecedor,
elemento responsável
pelo fornecimento da
matéria-prima adequada
ao processo de produção
e às necessidades do
cliente; o produtor,
elemento que se
compromete a criar bens
adequados ao uso e ao
consumo e sempre
disponíveis nos
pontos-de-venda; o
canal, elemento que se
dedica ao fluxo de
mercadorias sem
bloqueios, nem
estratégias que
dificultem a aquisição e
satisfação dos clientes
e o consumidor, elemento
chave no processo, pois
é a partir dele que se
concebe o sistema
logístico. Enquanto os
outros elementos
desenvolvem suas
estratégias, o
consumidor desenvolve
suas preferências
baseado na forma como é
tratado pela cadeia de
valor.
Ao percorrer o caminho
que leva o produto ao
destino podemos
identificar três fases
que irão determinar o
seu grau de sucesso no
mercado. A primeira tem
o foco no cliente e suas
necessidades quanto ao
nível dos serviços e a
qualidade do produto que
desejam. A segunda fase
é compreendida entre a
compra da matéria-prima
e produto acabado, num
processamento que prevê
a adequação e os
benefícios esperados
pelo consumidor. Na
terceira etapa temos o
fluxo que permite uma
distribuição ágil e
eficaz, onde a
transferência do produto
ao consumidor deve
acontecer naturalmente,
sem que ele perceba ou
questione qualquer
falha.
No Brasil, o esboço do
formato de distribuição
ganhou seus primeiros
traços logo no início do
século XX, quando
empresas conhecidas como
o Mappin, inaugurada em
1913, a Mesbla e a
Sloper, foram as grandes
lojas de departamento
eram instaladas nas
principais capitais
brasileiras
A distribuição de
alimentos, que mais
tarde suplanta os outros
segmentos, demorou um
pouco mais a aparecer no
cenário, o que ocorreu
nos anos 50. Nesse caso,
o mercado vivenciou o
aparecimento e
crescimento dos grandes
atacadistas, como o
J.Alves Veríssimo e o
Armazém Martins, que se
transformaram em fator
decisivo para o sucesso
de muitas marcas. Deles
dependia toda e qualquer
possibilidade do produto
chegar até o consumidor.
Mais tarde,
especificamente nos anos
80, com o
desenvolvimento
sócio-econômico do país,
houve um significativo
aumento da concentração
dos negócios: na
indústria e no varejo.
Período em que o
atacadista tradicional
começa a perder fôlego.
Por sua vez, o marketing
ganha espaço na
indústria, permitindo
melhor política e
controle dos mercados de
consumo através da
identificação das
exigências do
consumidor. A proposta
de eliminação das
estruturas
intermediárias convergia
para as novas
estratégias que iam
surgindo e ganhando
adeptos. O tradicional
comércio de atacado teve
seu espaço reduzido e
isso fez com que se
buscasse uma nova forma
de agir, daí o
surgimento das chamadas
redes voluntárias. Então
eles se tornavam
proprietários de centros
de distribuição e de
redes varejo. Não
demorou muito, porém, e
os velhos atacadistas
começam a enfrentar uma
outra concorrência, que
chegava de fora trazendo
uma tecnologia de
distribuição
inteiramente nova, são
os gigantes franceses e
holandeses, como o
Carrefour, a Makro (cash
& carry) e da C&A.
Nas últimas décadas
acentuou-se a alteração
no panorama da
distribuição no Brasil.
Isso fez com que se
estruturasse um novo
modelo, saindo do
conceito básico de
transferência de
mercadoria pelos elos do
sistema, constituído por
empresas atacadistas,
representantes e
revendedores. Com isso,
apareceram as novas
formas negócios e a
diversificação de
canais, que se
configuraram nos
seguintes tipos:
Estrutural - com as
cooperativas, uniões
voluntárias, grupos de
compra; Dimensional -
com o surgimento dos
supermercados e
hipermercados; Modal -
com os atacadistas, cash
& carry, varejistas e
grandes distribuidores.
No entanto, podemos
afirmar que todas essas
mudanças têm origem no
processo de saturação
dos mercados e nas
transformações do
comportamento de compra
dos consumidores, que
possuem hoje padrões
muito mais sofisticados
e exigentes, cobrando
das empresas uma postura
mais profissional.
Assim, desenvolveu-se a
gestão do marketing de
distribuição e logística
e maior concentração no
varejo, que passou a
adotar políticas de
forte pressão sobre os
intermediários.
Como objetivo principal
da cadeia de
suprimentos, as empresas
buscam incessantemente
uma forma de dominar o
canal de distribuição,
quer seja pelo
fabricante, atacadista,
ou varejista. O
interesse no controle do
canal passa pela
possibilidade de se
obter maiores ganhos e
poder de decisão na
cadeia. Um forma de
conseguir esse domínio é
a compra de redes
menores pelas grandes
redes, o que tem
ocorrido no Brasil,
segundo estudos do
BNDES.
Imagine que com uma
estrutura maior é
possível exercer maior
pressão sobre o
fabricante, que perde em
parte o controle do
processo de negociação.
Essa pressão vai estar
apoiada num sinergismo
de distribuição,
propaganda e promoção.
Nesse sistema de canais
de distribuição é
possível identificar
pelo menos três formas
de domínio: pelo
fabricante, pelo
atacadista e pelo
varejista.
O marketing da cadeia de
distribuição e logística
tem a tarefa de traduzir
a voz do mercado e
encontrar mecanismos que
possibilitem aumentar o
valor do produto para o
cliente, ampliando os
benefícios percebidos. A
ordem é maximizar a
relação de forma que se
possa garantir a
satisfação dos
consumidores. Também na
relação que envolve duas
empresas, onde uma é
fornecedora e a outra
cliente, pode se
garantir maior valor
para o cliente com um
alto desempenho da
logística, criando uma
capacitação em cadeia,
com estoques reduzidos e
custos de pedidos mais
baixos.
Em qualquer empresa
produtora, onde se
pretenda criar
mecanismos de competição
mais modernos e
eficazes, é fundamental
que seja elaborada uma
proposta de cadeia de
valor, que é seguramente
uma declaração de como,
onde e quando o valor
será criado para
clientes ou segmentos de
mercado específicos.
Esta proposta deve fazer
parte dos princípios em
que se baseiam todas as
atividades da empresa,
do desenvolvimento do
produto à execução do
pedido. Ao formalizá-la
é preciso estar certo de
que ela fornecerá uma
base consistente para a
obtenção da vantagem
competitiva sem esquecer
que os resultados
positivos só terão
possibilidade de
aparecer se ela for
definida pela ótica do
cliente.
O consumidor realiza a
compra quando sabe da
importância que um
determinado produto tem
para ele, porque desta
forma a percepção do
valor acontece na
seqüência do processo de
relacionamento. A
empresa deve estar
sempre na busca de novas
estratégias que possam
traduzir a posse do
produto ou serviço em
valor agregado, quando
os benefícios suplantam
o preço pago. Os
atributos intangíveis
são a parte externa, não
embutida no produto.
Essa ampliação, desde
que percebida pelo
consumidor, cria o
conceito de valor para o
cliente.
O que podemos constatar
é que ainda hoje poucas
empresas estão
conseguindo projetar e
administrar com sucesso
os canais de
distribuição, mesmo
organizações de grande
porte e altamente
respeitadas encontram
dificuldades nessa área.
A Coca-Cola e a Pepsi,
por exemplo, vivem numa
luta sem fim com os
engarrafadores
independentes no mundo
inteiro. A IBM viu
frustradas suas
tentativas de criar um
sistema de distribuição
para os computadores
pessoais; e os canais de
distribuição utilizados
pela Nokia e pela
Ericsson para seus
sistemas de telefonia
celular são organizados
de maneira muito
estranha.
As cadeias de
distribuição tendem a
ganhar uma musculatura
multiescalonada, criando
mais intermediários do
que o necessário, e isso
é um complicador, haja
vista que o mercado não
suporta e não admite
custos que não agreguem
valor para o consumidor.
Essa escalada da rede de
distribuição resulta em
ônus indesejado. As
empresas acabam
desenvolvendo uma
plumagem de aparência
enganadora, incapaz de
agregar qualquer valor
aos produtos e serviços
básicos. O produtor fica
numa situação
desconfortável e muitas
vezes impedido de
interferir na cadeia.
O processo de decisão
das áreas de
distribuição e de
logística têm criado
certos antagonismos,
principalmente porque em
muitas empresas os
profissionais dessas
áreas não conseguem
falar a mesma língua. Os
atritos gerados entre
elas acabam por
prejudicar o consumidor
final, quando não o faz
migrar para a
concorrência. Enquanto a
distribuição produz um
cadeia cada vez mais
extensa e custosa,
engessando a
flexibilidade e a
rapidez nas respostas ao
mercado, a logística se
preocupa em minimizar o
impacto do preço final
através de propostas de
eliminação de etapas
para reduzir o sistema
de estoque total, custos
de armazenagem e
manuseio e tempo de
avanço.
Por outro lado, as
regras do jogo mudam
freqüentemente e se as
empresas não conseguem
se adaptar de forma
rápida e eficaz, perdem
o fôlego e a capacidade
de competir. Sabe-se que
não é possível viver
sobre os padrões do
passado, onde a
indústria se orientava
para a produção, com uma
demanda crescente e uma
oferta inferior, quando
não se conhecia encalhes
e a distribuição não era
motivo de preocupação,
muito menos a logística.
Com o crescimento do
poder dos intermediários
em muitos mercados, é
imprescindível que os
fornecedores os
considerem como parte
integrante das
estratégias da cadeia de
valor. Seja ele um
distribuidor, um
varejista ou um
atacadista. Se não tiver
seu apoio é pouco
provável que, mesmo
sendo uma marca forte,
se consiga alcançar seu
potencial pleno.
A logística hoje é,
sobretudo, serviço e
tornou-se um fator
fundamental para a
conquista e retenção do
cliente. Esse cliente
está exigindo elevados
níveis de desempenho dos
fornecedores. A entrega
precisa ser ágil,
precisa ser rápida,
dentro das novas
expectativas do tempo de
resposta concebível. A
tolerância do consumidor
em esperar respostas
eficientes está sendo
reduzida.
Com isso, a tarefa da
cadeia de valor agora é
identificar as
exigências do segmento
em que atua e fazer uma
constante reestruturação
do processo de logística
e distribuição.
Assim sendo, quando uma
organização resolve
desenvolver um sistema
integrado de logística e
de distribuição, que
seja flexível e
dinâmico, objetivando
sempre a criação de
valor para o cliente,
estará sintonizada com o
que há de mais moderno
em termos de competição
mercadológica.
No entanto, muitas
dificuldades são
impostas ao
desenvolvimento e ajuste
dos processos de
distribuição e
logística. O tamanho
territorial do nosso
país proporciona a
multiplicidade das
cadeias, permitindo a
geração de
intermediários que só
servem para aumentar os
custos, elevando os
preços finais sem
agregar qualquer valor.
Os níveis de
concentração, a divisão
de poder entre os canais
e os produtores, bem
como a incorporação de
pontos-de-venda menores
pelas grandes redes, são
algumas questões para
consideração dos
produtores.
Pelo que se pode
constatar, existem dois
tipos de cadeia: aquela
que chega até o final do
processo com suas lojas
e estão preocupadas com
a qualidade e os preços
dos produtos que
precisam girar; e a
cadeia composta por
empresas independentes,
que estão preocupadas em
lucrar com as
transferências de
estoques. Nisso, muitos
produtores acabam se
perdendo no planejamento
da distribuição e da
logística, pois faltam
dados, faltam
informações, falta o
contato com o
ponto-de-venda e o
consumidor.
Um caminho bom para ser
tomado é o da parceria
entre fornecedores e
distribuidores,
utilizando a tecnologia
da informação e a
previsão de vendas. A
indústria deve estar
interligada com seus
fornecedores,
distribuidores e
ponto-de-venda. Ela deve
estar atenta para as
demandas, os novos
desejos e necessidades
de quem revende e de
quem consome seus
produtos. A ordem é
substituir estoques por
informações, é chegar
mais rápido ao
consumidor, é eliminar
ao máximo os
intermediários; é reagir
positivamente aos
movimentos e demandas do
mercado; é agregar valor
a cada etapa da cadeia,
sem inflar preços; é
selecionar bem os
canais; é satisfazer o
cliente.
É claro que não se pode
ser ingênuo o bastante
para acreditar que a
automação dos processos
e a criação de canais de
informação entre o
ponto-de-venda e o
produtor irão beneficiar
a todos, pois as
informações
privilegiadas e o poder
de barganha vão
continuar com os
gigantes do varejo em
seu estágio pleno de
concentração e domínio.
Admir Borges, consultor
empresarial na área de
atendimento ao cliente e
Coordenador e Professor
de Pós-graduação de
Marketing e Comunicação
da Uni-bh, Universidade
Fumec. e IEC-PUC.