Clientes Inativos: Sintoma de uma Doença Crônica
Por Yvan Nepomuceno
20/08/2007
Lembro-me que nossa empresa abriu um cliente no recôncavo baiano
devido a uma visita bem sucedida de um representante. Era um cliente
promissor em uma região onde havia a necessidade de nossos produtos
e a aceitação foi boa a princípio. Mas com o tempo, diga-se de
passagem, pouco tempo, aquele cliente não mais comprou os nossos
produtos.
Não demos muita importância, afinal: a contribuição desse cliente
sobre o faturamento da empresa era ínfima, não valia a pena nos
desgastarmos por tão pouco. Nossa prioridade era o cumprimento de
cotas mensais e para tanto fomos buscar aqueles que realmente
pudessem contribuir de forma significativa para tal objetivo.
Houveram outros casos como esse, inclusive em grandes capitais, mas
que não vingaram, e como havia dito antes, a contribuição era tão
insignificante que não valia a pena dispensar esforços.
Afinal, para que nos desgastarmos com clientes que contribuem com
0,02% quando podemos trabalhar aqueles que contribuam
significativamente para o cumprimento de nossas cotas?
É bastante comum esse tipo de situação nas empresas que possuem um
número expressivo de clientes. Se fizermos uma análise de nossa
carteira de clientes, vamos verificar que são centenas de clientes
nessas condições, algumas vezes milhares, e aprofundando-nos um
pouco mais, iremos verificar que se hoje parte desses clientes
estivessem ativos, estariam representando uma boa fatia do nosso
faturamento, uma contribuição significativa no faturamento mensal.
Iremos observar também, que no momento de sua primeira compra, as
condições comerciais e a expectativa de repasse de nossos produtos
aos clientes finais eram boas, caso contrário não teriam comprado.
Portanto, justificativas quanto a aspectos comerciais desfavoráveis
ao cliente ou mesmo quanto à atuação da concorrência, tornam-se no
mínimo questionáveis.
Mas então, porque se tornaram inativos? Porque aquelas conquistas
não se consolidaram? O que aconteceu no meio do caminho que os
transformaram em inativos?
Na verdade, os clientes não se tornaram inativos, simplesmente nos
trocaram pela concorrência.
Embora isso seja o óbvio, nos leva a refletir no sentido de buscar
as causas da "inatividade" desses clientes dentro de nossa própria
empresa, o que equivale a dizer que inatividade é inerente à
capacidade de nossa empresa em mantê-los como parceiros e isso muda
o foco da questão. Transferimos a responsabilidade da inatividade
dos clientes para nossa empresa abrindo a possibilidade de um leque
de ações no sentido de recuperá-los.
O que é crônico nisso tudo, é que conquistar e perder clientes já se
tornou um hábito corriqueiro nas empresas. Às vezes parece ser mais
importante conquistar um novo cliente do que manter os existentes,
sem se perceber que tal prática nos leva inexoravelmente à perda
futura dos clientes hoje conquistados.
Se compreendermos de forma clara que nossa empresa trabalha para os
clientes e que em última análise são eles os gestores de nosso
negócio com poder de perpetuar ou simplesmente encerrar nossas
atividades, vamos entender a importância de enxergarmos com os seus
olhos para descobrir o que lhe agrada ou lhe desagrada em nossa
organização.
Vale a pena refletirmos sobre as quinze questões mais frequentes
quando tratamos do tema clientes inativos:
Como recuperar os clientes inativos?
Podemos catalogar os clientes inativos em várias classes, que vão
desde aqueles que não nos interessam, por questões de rentabilidade,
logística de distribuição e outros aspectos, chegando finalmente
àqueles que nos parece o foco da pergunta, que são os perdidos para
a concorrência.
Nessa classe os clientes não são inativos. Simplesmente nos trocaram
pela concorrência.
Embora isso seja o óbvio, nos leva a refletir no sentido de buscar
as causas da "inatividade" desses clientes dentro de nossa própria
empresa, e isso equivale a dizer que a inatividade é inerente à
capacidade de nossa empresa em mantê-lo como ativo.
Isso muda o foco da questão, transferiremos a responsabilidade da
inatividade deles para nossa empresa e isso nos abre um leque de
ações "ativas" no sentido de recuperá-lo.
Recuperar clientes que foram perdidos para a concorrência requer
adequar a nossa organização às expectativas e às necessidades dos
clientes e isso, via-de-regra, implica em uma reengenharia
envolvendo todas as áreas da empresa.
Devemos compreender que os clientes nos enxergam com os olhos do
consumidor final para quem repassa os nossos produtos e com esses
últimos sim, compõem uma parceria.
Para recuperá-los, é necessário antes de tudo, que também o
enxergamos da forma como eles enxergam e uma boa dica para se
conseguir isso é tabular, através de pesquisa junto aos mesmos quais
os fatores críticos que os levaram a se afastar de nossa empresa.
Que dicas podemos dar às indústrias para recuperarem os clientes
inativos?
Na verdade não existem "dicas" e nem mágicas capazes de recuperar um
cliente que nos trocou pela concorrência, existe sim um processo a
ser desencadeado de adequação da nossa empresa às necessidades dos
clientes.
Entenda os seus motivos. Reforço a necessidade de se elaborar uma
pesquisa junto a esses clientes com objetivo de identificar a partir
da visão dos mesmos, quais foram os motivos que os levaram a
deixarem de comprar de nossa empresa.
Compreenda também a partir de informações colhidas nessa pesquisa
quais os movimentos da concorrência, quais as vantagens que lhe
foram oferecidas e que os levaram a nos trocar pela concorrência.
Você pode em determinado momento dessa pesquisa identificar
"truques" da concorrência e contra-atacar, mas isso não será
suficiente para sedimentar uma parceria.
Manter um canal de comunicação aberto entre a empresa e seus
clientes o ajudará a colher essas informações no momento em que
surgem.
É possível determinar um perfil de cliente que não seja possível
recuperar?
Como havíamos dito antes, a capacidade de recuperação de clientes
que nos trocaram pelo concorrente está diretamente relacionada à
nossa capacidade de atendê-lo em suas necessidades.
Confessar que um cliente não possa ser recuperado seria o mesmo que
confessar nossa incapacidade de promover reestruturações internas no
sentido de atendê-lo.
É evidente que existem fatores de relacionamento que afastam
definitivamente um cliente de nossa empresa, mas esses fatores
também estão relacionados com nossa estrutura de atendimento na
venda e pós-venda, portando, devem ser também considerados como
pontos a serem trabalhados em nossa estrutura interna.
O mais importante é entendermos que a "inatividade" não é um fator
inerente ao cliente e sim à nossa empresa, na capacidade de
atendê-lo.
Quais são os motivos que levam um cliente a nunca mais querer seu
produto?
São cinco, os principais fatores que os clientes identificam, e a
partir deles desenvolve sua sensibilidade e o seu espírito crítico
para aceitar ou rejeitar os nossos produtos.São eles:
Preço
Qualidade
Prazo de entrega
Política comercial
Atendimento de venda e pós-venda
A partir desses fatores, o cliente analisa os seus produtos e
serviços, compara-os com os da concorrência, pesquisa e analisa os
hábitos e as exigências do consumidor final e identifica os fatores
não aceitáveis em sua estrutura organizacional interna.
O que pode ser feito para corrigir estes problemas?
O primeiro passo é identificar quais dos fatores citados que
sensibilizaram os clientes e os levaram a não mais querer os nossos
produtos.
Uma vez identificados, e uma pesquisa o ajudará nesse sentido, o
próximo passo será elaborar um planejamento de ações com foco na
reestruturação da empresa, e digo empresa, pois nesse processo toda
a organização é envolvida, com vistas à correção dos fatores
identificados como críticos.
Recuperar clientes inativos gera um custo alto? Como este custo pode
ser recuperado?
Isso vai depender muito do que indicar a pesquisa e dos passos
definidos pelo planejamento das ações. Empresas que não conseguem
ser competitivas em função de um parque industrial obsoleto terão
custos altíssimos em sua reestruturação com vistas à recuperação de
clientes.
Mesmo no caso dessas empresas é possível estudar modificações nos
produtos de forma a se agregar valores e torná-las competitivas e
rentáveis em alguns produtos.
Outras podem necessitar apenas de uma adequação de sua logística de
distribuição e atendimento de venda e pós-venda, onde os custos de
readequação da empresa devem ser bem menores.
Existem ainda empresas onde falta sincronia entre suas áreas
internas.
Enfim, os fatores que irão determinar os custos são inúmeros, e só
mesmo um planejamento será capaz dar a noção exata dos custos que
estarão envolvidos no processo.
É importante compreendermos que quando falamos em readequação da
empresa às exigências de nossos clientes, não estamos falando apenas
em recuperar clientes perdidos para a concorrência, mas
principalmente em evitar a perda de novos clientes.
Isso equivale a dizer que estamos tratando da capacidade de
sobrevivência da empresa.
Clientes perdidos para a concorrência é apenas um sintoma de que
existe uma doença que deve ser identificada e tratada antes que se
torne crônica.
Que fatores devem ser trabalhados na estratégia de recuperação dos
clientes inativos?
Como havíamos dito antes, os fatores são: preço, qualidade, prazo de
entrega, política comercial e atendimento de venda e pós-venda.
É importante ressaltar que esses fatores devem ser trabalhados a
partir da visão dos clientes, e não a partir de nossa visão, uma vez
que são eles que mantém um relacionamento estreito com o público
para quem repassa nossos produtos e consequentemente tem um espírito
crítico mais apurado do que o nosso do que o mercado exige.
Quais as ações que podem ser realizadas para gerar um bom retorno ao
reconquistar um cliente inativo? Tentar fidelizá-lo definitivamente
é um bom caminho?
Fidelizar talvez não seja o termo mais adequado, pois o mercado se
movimenta constantemente na busca de encontrar um equilíbrio dado às
inúmeras transformações pelas quais está passando nossa economia e
consequentemente a relação entre as empresas.
Ser fiel muitas vezes não é possível para o nosso cliente, embora
fosse até mais cômodo para ele assumir essa postura, no entanto,
tendo em vista que ele, nosso cliente, trabalha em função do
consumidor final para quem repassa nossos produtos, deve se
comportar conforme as exigências desses consumidores.
Prefiro utilizar o termo parceria tendo em vista que a empresa faz
parte de uma malha de relacionamento onde as regras são ditadas pelo
consumidor final e todos os componentes dessa malha trabalham
conjuntamente para atendê-lo.
Colocado dessa forma, a parceria é um bom caminho, desde que as
partes estejam sintonizadas com as exigências do consumidor final.
Quais as lições que a empresa pode tirar do trabalho feito para
recuperar clientes inativos?
Estar atenta às necessidades e exigências de seus clientes e aos
movimentos da concorrência.
O processo que se inicia na reflexão de que "inatividade" é inerente
à nossa empresa e não aos clientes, e desemboca em um profundo
trabalho de reestruturação para correção dos fatores críticos que
levaram os clientes a nos trocar pela concorrência, nos ensinará
importantes lições, no entanto a mais relevante é a de que tanto os
nossos clientes como nós mesmos temos um patrão em comum, o
consumidor final.
Perceba que avançamos dois níveis em nossa reflexão. Em um primeiro
momento entendemos que devemos enxergar o mercado pelos olhos de
nossos clientes e logo na seqüência compreendemos que nossos
clientes enxergam o mercado pelos olhos dos consumidores finais.
Talvez, a mais importante lição a ser aprendida é a de que nossa
empresa trabalha para o consumidor final e a ele deve se adequar.
Há como identificar quando um cliente tem tendência a virar inativo?
O que pode servir como indicador disso?
A abertura de canais de comunicação direta entre a empresa e os
clientes ajudam em muito, a identificar clientes com tendência a nos
trocarem pela concorrência.
Além disso, a implantação de um CRM possibilita também identificar
clientes que tem tendência a nos trocar pela concorrência.
É importante deixar claro que CRM não é apenas uma ferramenta de
informática, mas sim um processo onde toda a empresa está envolvida
para atender aos clientes.
Quando o cliente inativo foi perdido para a concorrência, como a
empresa pode agir para reconquistá-lo? Deve agir buscando ser melhor
que a concorrência ou ater-se às necessidades do cliente?
Em determinadas circunstâncias a concorrência pode utilizar de
artifícios e truques para conquistar um cliente, mas se não se ater
às suas necessidades e expectativas, essas ações terão efeito de
curto prazo.
O cliente busca parceiros que atendam às suas necessidades e que em
conjunto atendam às expectativas do consumidor final.
Ater-se às necessidades dos clientes o faz melhor do que a
concorrência e sedimenta um relacionamento que dificilmente será
abalado por ofertas ou vantagens que não serão mantidas no decorrer
do tempo.
Existem diversos fatores importantes na venda e no pós-venda, como
entrega, prazos de pagamento, assistência técnica, entre outros.
Qual a importância desses fatores para manter os clientes ativos? <
Dificilmente um cliente voltará a comprar de sua empresa se não for
bem atendido, e atendimento não se faz apenas no momento da venda.
Aspectos relacionados à pós-venda são tão ou mais importantes do que
a venda em si. O cliente deve sentir-se amparado, seguro em seu
relacionamento e vê-lo como um parceiro que lhe dá a sustentação do
seu negócio.
Muitas empresas despendem um esforço enorme na prospecção de novos
clientes e se esquecem de tratá-lo como parceiro dando-lhes a
assistência necessária, quando isso ocorre, o cliente o troca pela
concorrência e nesse caso houve a quebra de confiança, fator que
dificilmente poderá ser revertido trazendo-o de volta.
Como manter uma sincronia entre a diretoria da empresa e os
representantes, para manter os clientes ativos e evitar o surgimento
de clientes inativos?
Eu iria um pouco mais longe, é necessário que a empresa, interaja
diretamente junto aos clientes.
O representante possui um papel fundamental na relação das empresas
com seus clientes, mas não se pode terceirizar a área comercial da
empresa para os mesmos.
Quando um cliente liga para uma empresa, ele espera ser atendido
pela organização. A ele não importa se é o representante que está
ganhando comissão ou se essa função pertence exclusivamente a ele.
Toda a empresa, desde a telefonista até a diretoria deve estar
prepara para atendê-lo, ele deve sentir segurança na organização
como um todo.
A sincronia que deve existir não é entre a diretoria e o
representante, mas sim entre a empresa e o cliente.
Qual o papel da situação econômica do mercado neste contexto? De que
forma ela pode aumentar o número de clientes inativos e como as
empresas podem agir em relação ao mercado para não perder clientes?
Se olharmos em volta vamos verificar que hoje existe uma financeira
por trás de um posto de combustível, um supermercado, uma loja de
informática, uma loja de roupas e assim por diante.
Por enquanto, quem está pagando essa conta é o consumidor final, com
juros extorsivos que são impostos por essa política econômica que
privilegia o capital.
Os lojistas encontraram o único caminho viável para comercializar
seus produtos, utilizando-se dessas mesmas financeiras para
conseguir desovar seus estoques.
O que realmente nos preocupa é até quando os consumidores suportarão
os juros de mercado.
O que é mais importante: recuperar as vendas, a confiança do cliente
ou garantir a rentabilidade da empresa ? Por quê?
Os três fatores são fundamentais e devem ser desenvolvidos em
conjunto.
É evidente que uma empresa sem rentabilidade não vive o tempo
suficiente para conquistar a confiança de seus clientes e recuperar
vendas, no entanto, esses fatores não são conflitantes como parece.
É perfeitamente possível manter a rentabilidade, ampliar as vendas e
obter a confiança de seus clientes.
Agregue valores a seus produtos, identifique nichos de mercado para
os mesmos, mapeie o mercado identificando potenciais compradores,
reestruture sua organização para se adequar às necessidades do
mercado.
Muitas vezes é necessário se fazer uma reengenharia para se
recolocar no mercado com rentabilidade e uma carteira de clientes
que confiem em nossa empresa, no entanto, não podemos nos esquecer
que vivemos um momento onde as relações entre as empresas estão em
constantes transformações e é exatamente aí que surgem as grandes
oportunidades.
Yvan Nepomuceno é consultor de empresas com foco na recuperação de
clientes inativos, ampliação da base de clientes e é o responsável
pelo Projeto Gerenciador de Vendas.