Coerência no Posicionamento, Consistência na Comunicação
Por Nori Lucio Jr.
08/10/2007
Não raro os executivos seniores das empresas julgam de forma
precipitada que têm pleno conhecimento sobre os anseios de seus
clientes e também sobre a dinâmica do mercado em que atuam. Este
tipo de atitude normalmente observada em executivos antigos, cheios
de paradigmas e vícios, acaba por engessar a operação comprometendo
a performance atual e definitivamente impactando de forma negativa o
crescimento futuro.
Quem já não ouviu ou falou: “Eu trabalho neste mercado há 30 anos,
quem é você pra me falar sobre….”. A realidade dá-se pelas
evidências! Décadas se passaram e a empresa fica com mesma cara, com
o mesmo portfólio de produtos e com os mesmos clientes enquanto o
mercado muda quase que na velocidade da luz.
Outro equívoco comum, ainda na tentativa de compreender o mercado
através de “palpites isolados”, é perguntar para o vendedor da
própria empresa se os clientes estão satisfeitos com os produtos e
serviços. Você conhece algum vendedor que falaria para o presidente
da empresa que seu produto é realmente ruim, ou que sua empresa não
tem qualidades percebidas pelo mercado? Imagine só qual seria a
resposta do Presidente….
“O posicionamento da empresa só será coerente quando: sua imagem,
identidade, proposta de valor e estratégias estiverem
compatibilizados. Antes disso a recomendação é não gastar nenhum
dinheiro em marketing sobre o risco de se jogar todo o investimento
no lixo”.
A ferramenta correta, portanto a mais eficaz para explorar todos os
aspectos relacionados ao relacionamento da empresa com seu
“ecossistema”, é fazer uma “pesquisa de mercado formal”. A pesquisa
deve ser elaborada e conduzida por um profissional experiente que
através da manipulação de variáveis e estímulos consegue extrair a
verdadeira essência do que está acontecendo com a empresa e, aí sim,
produzir a partir do feedback de qualidade. O resultado da pesquisa
deve ser ouvido com atenção ao ponto de ser transformado num
conjunto de ações emergenciais.
Consistência na Comunicação
Com os elementos relacionados à marca calibrados, ou seja, imagem,
identidade, proposta de valor e estratégias articulados
coerentemente, a empresa pode investir num plano de marketing e
comunicação consistente. A empresa estará pronta para “falar” com
seus clientes, representantes de vendas e fornecedores. Entra em
ação o “mix” de comunicação que será o responsável por transmitir
atributos da marca reforçando seu posicionamento e também por gerar
demanda sobre produtos e serviços. É importante observar nesta hora
os elementos que representam a marca visualmente. Estes elementos
exigem consistência! São eles: tom, estilo, logotipo, cores,
fotografia, slogan etc. Todos devem seguir um manual, o “GUIA DE
ESTILO” para utilização da marca.
O “guia de estilo” é um patrimônio da empresa e deve ser mantido com
rigor por um executivo sênior. Qualquer material promocional que
saia da empresa deve estar em conformidade com o guia. A
criatividade de agências de propaganda e “marketeiros” devem estar
absolutamente confinadas ao mecanismo dos programas de marketing e
vendas e não nas “cores do folheto” ou na “propaganda engraçadinha”.
Coerência e Consistência garantem a manutenção da personalidade de
uma marca. Pode se estabelecer um paralelo com o relacionamento
humano. A marca está viva e sofre positiva ou negativamente pelos
estímulos produzidos pelo mundo, assim como um ser vivo, bípede e
falante. Estes estímulos devem ser observados e controlados para que
não haja um “desvio de comportamento”.
A marca vai muito além dos traços artísticos que envolvem a
“logotipia (logo)” e a “tipografia (letra)”. A marca tem uma função
orgânica ou neural, ou seja, deve recuperar na memória que está em
algum lugar do cérebro do público alvo as sensações que a
representam.
Na prática a marca tem vida e voz próprias. Uma vez apresentada para
seu público alvo através de sua expressão visual (logotipo) seguida
normalmente de um texto complementar que descreve de forma mais
literal sua essência, seus valores, sua atitudes e por fim sua
personalidade.
Tudo isso vende! Vende muito ou pouco dependendo da COERÊNCIA E
CONSISTÊNCIA na sua construção e manutenção.
“O investimento na construção da marca deve ser dissociado da venda
de produtos ou da receita da empresa. Lembre-se que produtos vêm e
vão a marca fica”
O processo de construção da marca deve ser contínuo, acompanhando o
amadurecimento do mercado e a evolução da própria empresa. A marca
certamente exigirá monitoramento intensivo e manutenção preventiva.
O desafio é não comprometer a “identidade da empresa” conforme cria
novos produtos e serviços, penetra em novos mercados e refina seu
posicionamento.
Se algum profissional lhe propuser um “reposicionamento”, fuja
rápido antes que ele despersonalize sua empresa. O risco é seus
clientes não mais reconhecê-lo! Mesmo que seus clientes o
reconheçam, vão olhar com desconfiança, neutralizando a antiga
credibilidade conquistada passo a passo durante anos de trabalho
duro.
“Vale reforçar que o RECONHECIMENTO da marca pelo cliente, tende a
se transformar em VALOR. Muitas empresas valem muito mais que seu
patrimônio declarado”
Nori Lucio Jr. é fundador da brandMe, consultoria especializada em
planejamento estratégico. - 20 anos de experiência na indústria de
tecnologia, com passagens pela gerência de marketing e comunicação
na Intel® e Microsoft®. Formado em marketing, com especializações no
Brasil e exterior, respondeu pelo desenvolvimento de vários projetos
relacionados a construção de marca, marketing & comunicação e
desenvolvimento de canais de venda no Brasil, América Latina e
Estados Unidos.