Como estruturar o departamento de Marketing
Por Marcelo Miyashita
24/08/2006
Já escrevi, em artigos anteriores, sobre a importância da prática da
visão de marketing estratégico. Fiz uma crítica às companhias que
mantém departamentos de marketing com funções apenas operacionais e
recomendei a mudança desta postura, onde é preciso compreender a
importância do marketing como propositor de estratégias empresariais
e táticas de mercado, com equipes estruturadas e com competências
específicas para sua realização. Dando continuidade, este artigo
pretende discorrer sobre um modelo estrutural de departamento de
marketing capaz de praticar ações e propostas de marketing
estratégico. Claro, só estruturação não é suficiente, mais
importante que isso é a visão dos gestores e empreendedores do
negócio que devem compreender e utilizar o marketing como ferramenta
de estratégia e, não somente, de operação de ações comumente ligadas
às comunicações da organização.
O marketing, quando estruturado, forma um departamento onde devem
coexistir profissionais com três funções específicas: pesquisa de
mercado, análise de marketing e gestão das ferramentas. Dependendo
do porte da companhia, essas funções podem ser realizadas por um
grupo mínimo de profissionais que cooperam e compartilham tarefas,
ou por um número considerável de profissionais especializados e até
subdivididos internamente em processos distintos, como acontecem em
grandes empresas. Fundamentalmente, o importante é que estas três
funções existam e sejam praticadas claramente por um grupo de
profissionais contratados especificamente para isso. Apenas esta
definição já deixa evidente que há muitas companhias que praticam,
infelizmente, só marketing operacional.
A pesquisa de mercado é função básica e condição “sinequanon” para a
prática de marketing estratégico. Sem pesquisas não há análises
aprofundadas. Muito menos gerenciamento de ações de marketing
coerentes e fundamentadas. Sem pesquisas o departamento pratica um
marketing empírico, instintivo, baseado mais em opiniões e menos em
fatos. O que é um risco - nem sempre compreendemos o mercado e tudo
que acontece nele, o 'feeling' e a arrogância muitas vezes se
misturam.
Companhias que praticam marketing operacional quase nunca investem
em pesquisas (mesmo internas) e quando os fazem não relevam suas
informações. Assim trabalham no escuro, na base da tentativa e erro,
ação e reação, sem entender os motivos dos acertos e, pior, os
porquês dos fracassos. Mensurar resultados, desenvolver métricas,
medidas de desempenho são atividades de marketing estratégico.
Toda essa carga de informação alimenta e habilita profissionais de
marketing para boas análises, esses formam os chamados analistas de
marketing. Desenvolvem, basicamente, atividades de planejamento
(estudos, análises e projetos de marketing). Pela sua
característica, são compostos por pessoas experientes capazes de
visualizar oportunidades de marketing a partir de informações
coletadas no mercado - é o estratégico que busca desenvolver ações
táticas para o mercado, os projetos de marketing. Apesar de ser
preocupação de qualquer profissional de marketing, parte do analista
buscar saídas, soluções e caminhos para os desafios mercadológicos e
apresentá-los internamente junto à alta gestão. É, portanto, o
'pensador' do departamento, catalisador de propostas inovadoras e
hábil na visualização de como implementar idéias e praticá-las na
organização.
Por fim, cada projeto de marketing na sua execução pode necessitar,
devido sua importância, de uma gerência mais próxima e particular.
Como é comum empresas desenvolverem projetos ligados às ações de
comunicação, encontramos com freqüência gestores específicos nesta
função, são os 'gerentes' de comunicação ou de propaganda. Algumas
companhias têm na sua base de atuação de marketing um trabalho
especial junto ao canal de varejo, via franquias. Neste caso, para
gerenciá-lo, temos os gerentes de franchising. Mais recentemente já
há empresas que, pela importância do cliente para os negócios,
elegeram profissionais específicos. São os gerentes de cliente.
Como apresentado, o marketing pode ser 'departamentalizado' para que
essas três funções básicas possam ser desenvolvidas com mais apuro e
cuidado. Claro que isso é excesso para pequenos negócios, o que não
significa que não devem ser executados conforme o crescimento da
empresa. Além disso, qualquer bom empreendedor, mesmo que
intuitivamente, os pratica. Afinal, pesquisar, analisar e gerenciar
também são atividades ligadas ao empreendedorismo. O desafio é
buscar estruturar o marketing na medida do crescimento dos negócios,
entendendo que da mesma forma que há áreas que, devido a maior
operação, necessitam de mais organização estrutural, o marketing
também deve passar por esse processo. Por essas razões, invista em
profissionais de marketing e na estruturação das suas funções
básicas. Não dá para trabalhar na base do instinto para sempre.
Marcelo Miyashita é consultor líder e palestrante da MIYASHITA
CONSULTING. É professor de marketing em cursos de MBA e
pós-graduação. Atualmente leciona na Cásper Líbero, FGV-EAESP GVpec,
Trevisan, PUC-SP COGEAE, Madia Marketing School, IMES e IBModa. Foi
colunista do Comercial & Cia, na rádio BandNews FM. Em 2006 recebeu
o Prêmio Marketing Best e em 2007 o título de Marketing Expert,
concedido pela Editora Referência (Jornal Prop&Mkt), pela FGV-EAESP
e pela MadiaMundoMarketing. É mestrando em Administração pela
PUC-SP, pós-graduado pela ESPM e publicitário pela Cásper Líbero.
Conheça seu trabalho: www.miyashita.com.br