Como vencer a concorrência
Por Tom Coelho
18/12/2007
Contaram-me que os peixes não se importam de serem pescados,
pois têm o sangue frio e não sentem dor.
Mas não foi um peixe que me contou isso.
(Heywood Broun)
Não sejamos hipócritas. Esta estória de que concorrência é saudável
porque estimula o desenvolvimento e combate o imobilismo é
filosoficamente bela, mas não retrata a realidade.
Frédéric Bastiat, economista francês do século XIX e grande defensor
do livre comércio, dizia: Destruir a concorrência é matar a
inteligência. Pois então que morra, neste caso, a inteligência!
Qualquer empresário ou gestor há de concordar que concorrência boa,
é concorrência morta.
É por isso que o mundo corporativo tem sido marcado por fusões e
aquisições, com a formação de grandes grupos econômicos. Tome-se
como exemplo o setor bancário. Chama menos atenção a redução do
número de instituições financeiras, o que não seria uma medida
estatisticamente adequada, mas a concentração do patrimônio líquido,
dos depósitos e do crédito entre os quinze maiores bancos do país.
As grandes companhias buscam o caminho dos ganhos de escala e da
redução de custos operacionais, princípios econômicos legados da Era
Industrial. É uma forma de debelar a concorrência absorvendo-a
(aquisição) ou aliando-se a ela (fusão). Mas fica a pergunta: e
quanto às pequenas empresas?
Firmas de pequeno e médio porte têm uma natural vocação autofágica.
Em outras palavras, digladiam-se por um pedaço de osso como se fosse
carne de primeira. Chegam até mesmo a praticar dumping (vender
abaixo do preço de custo) para evitar que o vizinho ganhe o pedido.
Cooperativismo e associativismo são palavras ausentes do vocabulário
e do dicionário da maioria dos empresários. É uma questão cultural
alicerçada num modelo mental ultrapassado: cada um que cuide de seu
terreiro.
Houve uma época em que bastava produzir o que fosse para surgir um
comprador. Outro economista francês, este no final do século XVIII,
Jean-Baptiste Say, cunhou uma lei de mercado que dizia: Toda oferta
cria sua própria demanda. Sua assertiva teve vida longa, a ponto de
Henry Ford declarar no auge da produção de seu veículo Modelo T:
"Você pode ter o carro da cor que quiser, contanto que ele seja
preto".
Mas os tempos áureos sucumbiram em 1929 com a Grande Depressão. O
impacto econômico foi tamanho que, nos Estados Unidos, a taxa de
desemprego saltou de 9% para 25% em apenas três anos.
Hoje vivemos um período de comoditização ampla, geral e irrestrita.
Os produtos são todos muito parecidos em funcionalidade. E os
consumidores dão as cartas, reinando no trono da infidelidade e com
elevado poder de barganha.
O sofrimento é ainda maior no comércio que na indústria. Basta
caminhar em São Paulo, por exemplo, pela Teodoro Sampaio dos
instrumentos musicais, a Consolação dos lustres, a Santa Ifigênia
dos eletrônicos ou simplesmente as praças de alimentação de qualquer
shopping center para sentir na pele e na veia a ferocidade da
concorrência. O que fazer?
1. Cuide do visual.
O jogo começa na aparência que conduz à sedução. É o marketing de
percepção. Você precisa captar a atenção do cliente para que ele
escolha, entre as inúmeras alternativas, o seu ponto. Isso envolve a
fachada, o letreiro e até mesmo o nome do estabelecimento. Os trajes
dos atendentes, a pintura das paredes, a limpeza do piso, o índice
de luminosidade, a organização dos produtos expostos e a facilidade
de acesso a eles. Perceba que as mesmas regras aplicam-se a uma loja
virtual. Neste caso, falamos de um site de fácil navegação, com
diagramação e cores agradáveis, ágil na transição de páginas,
amigável na busca por produtos.
2. Treine seu pessoal.
Considerando-se que os produtos são similares e, portanto,
facilmente comparáveis, o único canal possível de diferenciação é o
da prestação de serviços. A palavra de ordem agora é atendimento.
Não apenas um atendimento bom, mas sim um excepcional, prestado por
uma força de vendas que antes de tudo conhece em profundidade o que
está ofertando. É a chamada venda consultiva que compreende
necessidades, orienta sobre tipos e modelos, instrui com foco na
adequação e assiste através do pós-venda promovendo a fidelização.
3. Tenha o produto disponível.
Parece óbvio, mas esta é uma das grandes falhas de gerenciamento no
ponto de venda. Imagine ter atraído o consumidor para sua loja e
tê-lo presenteado com um atendimento exemplar. Após analisar todas
as possibilidades ele escolhe um produto que está esgotado. Era o
modelo perfeito de calçado, mas não na cor desejada. Era o prato
ideal para o almoço, mas sem o molho preferido. Você terá o
desprazer de ver seu cliente, igualmente frustrado, sair pela porta
afora de mãos vazias mas agora seguro do que pretende comprar,
evidentemente em seu concorrente. Portanto, mantenha um estoque de
segurança. E se você não dispõe de espaço ou capital para tê-lo, é
preferível reduzir a gama de produtos oferecidos ou especializar-se
em um grupo específico. Se você não é o primeiro e nem o maior, seja
o melhor no que se propõe a fazer.
4. Crie diferenciais.
Além do excelente atendimento, seja criativo nos detalhes e tenha a
inovação como lema. Promova campanhas e concursos, crie bônus por
fidelidade, escute e surpreenda seus clientes com novas soluções
integradas. Propicie condições variadas de pagamento estabelecendo,
por exemplo, parceria com instituições financeiras. Vivemos uma onda
de crédito abundante e facilitado, ainda que caro, mas que permite
adquirir bens para pagamento em longo prazo mediante suaves
prestações mensais. Você não precisa assumir o ônus dos riscos do
financiamento. Não é este o seu negócio. Mas uma financeira fará
este papel com todo prazer.
5. Diga não à guerra de preços.
Venda benefícios associados aos produtos, desviando o foco do preço.
A regra é vender valor e não preço. Por isso a importância do
atendimento, inclusive no pós-venda, além da oferta de acessórios,
de assistência técnica permanente e de condições diferenciadas de
pagamento, conforme já mencionado.
6. Em guerra deflagrada, lute para ganhar.
Jamais se esqueça de que você está em guerra permanente com seus
concorrentes. Esteja, pois, preparado. Conheça bem, e de perto, seus
concorrentes. Visite-os ou coloque alguém para visitá-los. Telefone
para monitorar a qualidade do atendimento. Pesquise preços. Descubra
seus pontos fortes e os copie. Descubra seus pontos fracos e guarde
as cartas na manga. Contrate seus melhores funcionários. E,
fundamentalmente, inove. Torne-se único a ponto de tornar a
concorrência irrelevante. Mas lembre-se: eles podem estar fazendo
exatamente o mesmo em relação a você.
Tom Coelho, com graduação em Economia pela FEA/USP, Publicidade pela
ESPM/SP e especialização em Marketing pela MMS/SP, é empresário,
consultor, escritor e palestrante, Diretor da Infinity Consulting,
Diretor do Simb/Abrinq e Membro Executivo do NJE-Fiesp.