Conflito de Gerações
Por Jerônimo Mendes
30/06/2009
A dinâmica atual dos negócios consegue reunir quatro
gerações distintas no mesmo ambiente de trabalho: a
Geração Tradicional, dos nascidos até a década de 1950;
a dos chamados Baby Boomers, dos nascidos entre 1951 e
1964; a Geração X, dos nascidos entre os anos de 1965 e
1983; e a “famigerada” Geração Y, muito bem representada
pelos meus filhos, nascidos a partir de 1984.
De acordo com pesquisa realizada pelo IBOPE Inteligência
e divulgada na Revista HSM Eletrônica no. 57, os filhos
da Geração Tradicional eram dedicados, cultuavam uma
perspectiva essencialmente prática e mantinham profundo
respeito diante da autoridade. A liderança se dava por
hierarquia e dentro dela reinava um imenso espírito de
sacrifício. Pense nos seus pais, avós e bisavós,
recém-libertados de um período de guerra, autoritarismo
e escravidão, muitos deles imigrantes, expulsos de sua
terra natal. Boa parte deles é fruto da Grande Depressão
de 1929 que destruiu fortunas imensas no mundo inteiro e
agravou ainda mais a situação do Terceiro Mundo.
A Geração Baby Boomers é a geração nascida no pós-guerra
(Segunda Guerra Mundial), a qual, salvo raras exceções,
mantinha uma perspectiva otimista e uma profunda ética
profissional, porém a postura diante da autoridade era
uma relação de amor e ódio. A liderança se dava por
consenso e apresentava um grande espírito de
automotivação, apesar das incertezas. Esse conceito não
é tão amplo para nós quanto é para os americanos,
japoneses, ingleses e alemães, entre outros, que viveram
o período difícil, antes e depois da Segunda Guerra.
A Geração X, apesar de possuir uma ética profissional
equilibrada, é a que mantém uma perspectiva cética e uma
postura desinteressada diante da autoridade. Para os
profissionais da Geração X, a liderança é fruto da
competência e, segundo a pesquisa, pesa sobre eles um
espírito de anticompromisso diante da realidade.
Atualmente, a Geração X ainda domina a hierarquia na
maioria das organizações. Trata-se de uma geração que
também é fruto do Mito da Tecnologia e da Modernidade, a
qual, diferente das gerações anteriores, teve acesso a
novos mercados, a novas línguas e a tecnologia após a
década de 1980.
Por fim, abrimos espaço para a “famigerada” Geração Y,
representada pelos nossos netos, filhos, sobrinhos e
filhos dos nossos amigos. Costumo me referir a eles como
a geração “prepotência” ou “autossuficiente” com uma boa
dose de carinho para evitar conflitos. Não pode ser
diferente, afinal, quando você menos espera eles se
transformam em chefes ou líderes de equipes e contestam
tudo o que existe e o que você diz. A única maneira de
segurá-los, até certo ponto, é pelo bolso, pois sem
dinheiro eles voltam a ser simples mortais.
Apesar de tudo, a Geração Y mantém uma perspectiva
esperançosa, é decidida, esbalda-se em cortesia diante
da autoridade. Aqui, a liderança assume um espírito de
coletivismo e, de certa forma, de inclusão. É a geração
que domina o mouse, o blog e o i-Phone com extrema
facilidade fazendo uso das múltiplas inteligências para
o fortalecimento de suas próprias redes sociais.
Com essas quatro gerações convivendo no mesmo espaço, a
nossa forma de ver o mundo deve se ajustar radicalmente.
Coisas do tipo “no meu tempo era assim”, “você não sabe
o que é sofrimento” ou ainda “ah, se fosse no meu tempo”
não faz a menor diferença. No mundo de hoje, experiência
é apenas uma etapa que já foi cumprida e não mais um
diferencial no mercado de trabalho, ávido por cabeças
pensantes recém-formadas e por uma carga de energia que
nem sempre os mais experientes estão dispostos a
fornecer.
De fato, o meu tempo, o seu tempo, o nosso tempo não
existe mais. O que existe é um novo tempo onde as
empresas e as pessoas estão muito mais preocupadas com
os resultados imediatos do que com o futuro da
humanidade e com os conflitos de gerações. Aliás, se o
conflito for bom para o crescimento da organização,
acaba sendo até estimulado, afinal, um pouco de pressão
não faz mal a ninguém; ao contrário, acirra os ânimos e
amplia a competição.
A convivência pacífica entre quatro gerações distintas
requer um novo olhar sobre a organização e uma nova
forma de liderança. Substituir profissionais apenas pela
necessidade de oxigenação é um pensamento simplista
demais, além de desumano. Em qualquer empresa existe
espaço para todas as gerações embora a maioria delas
continue optando pela impetuosidade dos mais novos em
nome do imediatismo.
Todas as gerações que ainda constituem a população
economicamente ativa do planeta têm muito que
contribuir. A questão é saber como lidar com todas elas
considerando tamanha diversidade. Aqui vão algumas dicas
para começar a entender o que ocorre no momento atual e
para saber lidar um pouco com tudo isso. O restante fica
por conta da habilidade de cada um, independentemente da
geração em que você se enquadre. Pense nisso e seja
feliz!
1. Mesclar energia e experiência, sabedoria e
impetuosidade, sensatez e tecnologia é uma tarefa digna
de líderes maduros que compreendem profundamente as
vantagens e os benefícios da diversidade; tenha bem
claro em mente o que cada geração pode produzir; se você
tenta igualar o conhecimento e o resultado, a frustração
é óbvia;
2. Entender as diferenças básicas entre as quatro
gerações é a chave para o acordo de paz entre elas, caso
contrário, a convivência e o entendimento se torna
impossível;
3. Compreender e aceitar as diferenças de cada geração
não significa abrir mão de suas convicções, princípios e
valores; ouvir um ponto de vista diferente não significa
que você deve concordar com ele; ter um membro de cada
geração na equipe não significa que você não é um bom
líder, ao contrário, significa maturidade para lidar com
idéias e comportamentos diferentes;
4. Quanto mais antiga a sua geração, maior a sabedoria,
portanto, não discuta nem insista, apenas coloque o seu
ponto de vista; sabedoria é diferente de inteligência;
se você não tem poder de decisão, não perca seu tempo
nem sua energia, continue remando ou apenas mude de rio.
Jerônimo Mendes é Administrador, Consultor e Palestrante
Autor de Oh, Mundo Cãoporativo! (Qualitymark) e Benditas
Muletas (Vozes)
Mestre em Organizações e Desenvolvimento Local pela
UNIFAE