Conquiste o cliente e venda mais
Por Marcelo Miyashita
11/10/2006
A difícil arte do continuar vendendo para o mesmo
cliente
Há uma diferença significativa entre a primeira venda e
as vendas seguintes para um mesmo cliente: o peso do
cumprimento das promessas. Quando vendemos para um novo
cliente é comum que se promova todo um movimento de
conquista e persuasão por meio de argumentações e
demonstrações que buscam valorizar o objeto da venda. Em
outras palavras, apresentamos promessas. Prometemos
qualidade, resultados, serviços eficientes, atenção e
prestatividade - tudo para convencer prospects a
transformarem-se em novos clientes. Aí reside o perigo
para a segunda venda: é possível que se exagere nas
promessas; na ânsia de vender, elevar expectativas acima
da capacidade do produto e da competência de serviços da
companhia. Prometer demais não inviabiliza uma primeira
venda - pelo contrário, aumenta suas chances - no
entanto, ao cometer exageros promovemos um
distanciamento entre a expectativa e a realidade. E isso
poderá ser crucial num esforço para conseguir uma
segunda venda, principalmente, se o cliente for mais
consciente e compreender que há opções no mercado. E
sempre há.
Na segunda compra, o cliente tem no seu processo de
tomada de decisão algo mais forte que suas promessas,
tem sua própria experiência como usuário - onde verifica
se as promessas foram atendidas, se a expectativa
confirmou-se na realidade e se houve satisfação com o
primeiro negócio.
Vender sempre para o mesmo cliente exige mais
responsabilidade, pois exageros podem ser cruciais. Esse
é o dilema que muitos empresários enfrentam: promessas
responsáveis podem gerar menos vendas, mas, ao exagerar,
o resultado no curto prazo pode ser melhor, porém,
compromete a segunda venda e o crescimento na carteira
do cliente. O que fazer então?
Se a área de vendas precisa mesmo exagerar nas suas
abordagens para fazer seu trabalho, está claro que a
combinação produto-serviço-empresa não está bem
posicionada junto à percepção do cliente como a melhor
oferta natural. Esse é um problema de marketing. Cabe à
gestão desenvolver estratégias e ações para que suas
propostas sejam percebidas como ofertas vantajosas. Há
diversas técnicas e recomendações para isso, desde
buscar a melhor posição competitiva - vale mais ser
grande num mercado pequeno - até investir em comunicação
e tudo que trabalhe a percepção sensorial da sua
proposta. Ou seja, é necessário pensar e fazer a lição
de casa do estrategista. Se isso não for feito pela
direção, o problema passa à frente e aí sobra mesmo para
a área de vendas resolver. E exagerar nessa situação,
ainda mais precisando bater metas, é tentador.
Quando a companhia atua num mercado em crescimento, com
concorrentes que não incomodam, onde há poucas ofertas e
opções, esse descaso estratégico não é muito sentido. As
vendas tendem a acontecer e se repetir, muito mais pelas
características do mercado do que pela competência da
organização. Só que esse cenário é raro. Normalmente há
muita competição, que exige mais esforços de venda,
porém, antes, bem mais de estratégia.
Por outro lado, com as questões resolvidas, a proposta
ofertada, por si só, torna-se competitiva. Exige menos
exageros, que gera promessas mais responsáveis, com mais
possibilidade de satisfazer novos clientes e, daí,
encontrar espaço para segundas, terceiras e quartas
vendas.
Vender sempre só é possível se houver reconhecimento por
parte do cliente. Esse dará reputação, promoverá boa
imagem - o famoso boca-a-boca – e tornará o trabalho de
vendas mais consultivo com fechamentos de negócios
baseados em menos pressão e mais confiança. Vender mais,
portanto, é saber como vender sempre.
Etapa cumprida, entramos numa outra questão também
importante: para vender sempre é preciso construir e
manter boas relações, pessoais e institucionais. O
relacionamento pessoal não se restringe ao corpo-a-corpo
do vendedor. É importante, considerada característica
natural e sinequanon do profissional de vendas, mas,
este, para fazer seu trabalho de relacionamento com
eficiência necessita de uma organização que o apóie com
ações institucionais de relacionamento.
Eventos, encontros, comemorações...Enfim, atividades
presenciais promovidas pela companhia renovam o contato
humano e aproximam as pessoas da empresa com as pessoas
do cliente. Além disso, ações de comunicação periódicas
e rotineiras - como newsletters, boletins e revistas
corporativas - ajudam na tarefa do árduo follow-up para
manter com constância contatos estabelecidos. Quando
essa atividade se restringe apenas à iniciativa do
vendedor, dependendo do ramo e do tempo da venda,
pode-se tornar um fardo. Novidade é a palavra que gera
interesse a cada contato de manutenção de conta. Se a
empresa formula e desenvolve novidades, comunica e ainda
promove encontros, o dia-a-dia de vendas tornar-se mais
produtivo e gerador de negócios, pois, terá apoio e
tempo para especificar o melhor momento e a melhor
abordagem para relacionar mais e continuar vendendo
sempre. Todo vendedor sabe da importância de trabalhar a
carteira, a questão é que ele precisa do apoio de
estratégias voltadas para a valorização do
relacionamento e da segunda venda. Sozinho, o caminho é
transformar-se num guerreiro das vendas. Com apoio da
gestão, juntos, podem construir relações sólidas com
seus clientes.
Marcelo Miyashita é consultor líder e palestrante da
MIYASHITA CONSULTING. É professor de marketing em cursos
de MBA e pós-graduação. Atualmente leciona na Cásper
Líbero, FGV-EAESP GVpec, Trevisan, PUC-SP COGEAE, Madia
Marketing School, IMES e IBModa. Foi colunista do
Comercial & Cia, na rádio BandNews FM. Em 2006 recebeu o
Prêmio Marketing Best e em 2007 o título de Marketing
Expert, concedido pela Editora Referência (Jornal
Prop&Mkt), pela FGV-EAESP e pela MadiaMundoMarketing. É
mestrando em Administração pela PUC-SP, pós-graduado
pela ESPM e publicitário pela Cásper Líbero. Conheça seu
trabalho: www.miyashita.com.br