Construindo Marcas Sólidas
Por Nori Lucio Jr.
08/10/2007
Marca é e sempre será cada vez mais importante para o
sucesso das organizações que pretendem competir pelo tão
disputado espaço no cérebro do consumidor, seja ele um
indivíduo ou uma empresa.
A marca “num mundo digital” tem novos desafios que devem
mudar a forma com que são construídas e mantidas. O
número de impactos em qualquer audiência vem aumentando
significativamente por meios de comunicação de “mão
dupla” e agora convergentes, ou seja, interagem com o
consumidor de forma instantânea via Blogs, E-Commerce,
TV digital, Wireless, smartphones, enfim, todas as
tecnologias que permitem resposta imediata.
Muitos “marketeiros” vem substituindo as mídias
tradicionais, chamadas “off-line” por programas de
geração de demanda de resposta direta.
Uma característica que aumenta o grau de dificuldade na
construção das marcas é a superficialidade promovida
pelos meios “on-line” que limitam a experimentação e
conseqüentemente a compreensão do potencial total que um
determinado produto ou serviço foi desenhado para
proporcionar.
Existem várias escolas de pensamento que analisam a
marca em seus diferentes aspectos. Umas enfatizam a
representação gráfica, traços artísticos, símbolos quase
tratando a marca como uma jóia. Outras observam aspectos
culturais, cognitivos e até antropológicos.
Independente da tendência mais cognitiva ou mais
artística, a busca é por um único resultado, ou seja,
pelo reconhecimento da marca pelos clientes que através
dela recebem toda a carga de atributos que caracterizam
sua essência dando a marca uma narrativa única,
original, inovadora e por fim autêntica.
No passado era mais freqüente o surgimento de marcas que
hoje se tornaram verdadeiras lendas. Naquela época a
experimentação do produto, o envolvimento era construído
mais lentamente. Os detalhes eram mais bem degustados
pelos usuários que acabavam por incorporar determinados
produtos em seu dia-a-dia a ponto de determinarem um
estilo de vida peculiar caracterizado por um conjunto de
atitudes que influenciaram desde a forma com que certos
grupos de pessoas se vestem, a linguagem corporal, até
tom de voz.
As marcas legendárias têm influência sobre estes grupos
quase como os mitos têm sobre seus fãs, ou seja,
despertam reações, estabelecem pontos de vista,
opiniões, transformam-se em souvenires como camisetas,
bonés, etc.
Toda marca tem uma narrativa, uma história que a define
com maior ou menor intensidade e rigor nos detalhes.
Quanto mais consistente e coerente for a construção da
marca ao logo dos anos, mais fiel será a construção da
sua narrativa e conseqüentemente a reprodução durante
sua perpetuação através do tempo.
A propaganda reforça esta narrativa mas não tem o poder
sozinha de criar a marca. Propaganda é como um
auto-falante gigante que reproduz a história para
milhões de pessoas. Existe uma frase antiga que diz “ -
Tenho certeza que metade do que gasto em propaganda vai
para o lixo, só não sei qual metade”
Nenhum “marketeteiro” tem a chave ou a fórmula mágica de
como transformar uma marca comum em lenda. A compreensão
de como o cérebro interpreta certos estímulos a ponto de
associá-los ao inconsciente coletivo e transformar uma
marca em mito é desconhecido. Não existem fórmulas nem
livros que expliquem a criação de fenômenos como Nike,
Harley-Davidson, Apple entre outras relatadas em
qualquer livro de marketing.
Em comum estas marcas possuem narrativa própria, vida
própria que independe do diretor de marketing que a
gerencia por certo período de tempo. O gestor de
marketing não tem domínio sobre o caminho que estas
marcas irão trilhar. Assim como elas são criadas por
estímulos que ativam áreas cognitivas desconhecidas,
outros estímulos podem neutralizá-las. Normalmente isso
ocorre quando se tenta racionalizar este relacionamento
através de propagandas que tentam explicar o
inexplicável.
Claro que como temos o livre arbítrio, neste caso,
caracterizado pela incompetência de gestores de marca e
marketing que acabam neutralizando estes “ícones”
executando ações sem estratégia portanto disformes.
Eliminam a relação emocional entre a marca e seus
usuários levando-as ao lugar comum. Coca Cola, por
exemplo, tentou alterar seu sabor original para
conquistar mercado do concorrente.
Outro fator de neutralização é o poderio econômico. A
Microsoft e Intel, por exemplo, conseguiram durante anos
confinar a Apple num nicho de mercado. Assim que os dois
gigantes relaxaram a Apple retornou com força ainda
maior e conquistou segmentos de mercado criados pelas
próprias gigantes. MP3 é sinônimo de iPod! No Brasil a
penetração de iPods é incrível mesmo sem a Apple ter
investido R$1 em propaganda nos últimos anos.
Um outro exemplo: dificilmente a Microsoft conseguirá
neutralizar o Google que se aproveitou da mesma
anestesia e com muita competência, agilidade e inovação
conquistou a internet de forma irreversível .
Como tudo que nos cerca no mundo, o sucesso depende da
originalidade que quase sempre está associada a
inovação. A velocidade das mudanças na economia mundial
exigem das empresas uma constante renovação em suas
ofertas de produtos.
No entanto, vale lembrar que “produtos vem e vão, a
marca fica!”
Nori Lucio Jr. é fundador da brandMe, consultoria
especializada em planejamento estratégico. - 20 anos de
experiência na indústria de tecnologia, com passagens
pela gerência de marketing e comunicação na Intel® e
Microsoft®. Formado em marketing, com especializações no
Brasil e exterior, respondeu pelo desenvolvimento de
vários projetos relacionados a construção de marca,
marketing & comunicação e desenvolvimento de canais de
venda no Brasil, América Latina e Estados Unidos.