Consultorias: Dicas para a
Contratação
Por Maria Rita Gramigna
29/03/2007
Imagine a seguinte situação: sua empresa contrata uma
determinada consultoria para realizar um programa de
treinamento ou desenvolvimento. Dedica um bom tempo ao
planejamento e organização do evento, marca as datas e
providencia o convite aos participantes. Cinco dias
antes do referido curso, você recebe um fax ou um
telefonema do diretor da terceirizada informando que não
poderá desenvolver o trabalho.
Quais seriam suas reações? Que providências tomaria? Que
transtornos causaria tal atitude?
Provavelmente tal atitude levaria ao descrédito os
profissionais que agiram daquela forma. As providências
poderiam variar desde a decisão em retirar do seu
cadastro aquela empresa, até a cobrança de multas
resultantes do contrato estabelecido entre as partes.
Além disto, os transtornos causados poderiam refletir na
imagem de sua área junto à clientela interna e
dificultar a implantação de novos projetos de
treinamento e desenvolvimento.
Apesar de raro, pode ocorrer este tipo de problema nas
empresas que terceirizam serviços. Por outro lado a
forma como as contratantes estabelecem relações
comerciais com as prestadoras de serviço precisam ser
revistas. É comum a solicitação urgente de propostas
para projetos ainda na fase das idéias, pedidos de
orçamentos quando já se tem o fornecedor do serviço
definido e, eventualmente, algumas contratantes
confirmam a aceitação das propostas e desmarcam os
eventos “em cima da hora”, em prazos que não permitem à
prestadora de serviços preencher aquela lacuna com outro
projeto.
Quando acontecem cancelamentos ou adiamentos, estruturas
são abaladas.
Por já ter estado dos dois lados da mesa (em empresas
contratantes e, atualmente, à frente de uma empresa
prestadora de serviços), decidi publicar este artigo com
a finalidade de estimular uma discussão ética que
favoreça ambas as partes: consultorias e contratantes.
Para tal, exponho minha visão pessoal sobre a situação,
com base na minha experiência, observação e contatos com
consultorias e empresas-cliente localizadas em todos os
estados brasileiros e países do Mercosul.
COMO FUNCIONAM AS PRESTADORAS DE SERVIÇOS
As pequenas e médias empresas de consultoria têm, em sua
maioria, uma estrutura organizacional enxuta:
sócios-diretores, um ou dois funcionários
administrativos, poucos consultores internos e outros
associados que são acionados de acordo com as demandas
apresentadas.
Quando solicitadas a apresentar propostas de trabalho
detonam seu mecanismo de planejamento e toda a pequena
equipe é envolvida em ações e expectativas, a saber:
• estreitamento dos contatos com a empresa-cliente;
• seleção e definição de instrumental específico, nas
intervenções de consultoria;
• no caso de treinamento, seleção e preparação de
textos, apostilas, cartazes, transparências, outros;
• seleção, definição e aquisição de material de apoio;
• definição de consultores para aquele projeto;
• treinamento de auxiliares e monitores.
Neste estágio, tanto a direção da pequena empresa quanto
funcionários administrativos e consultores voltam toda a
sua atenção para aquele projeto. Dependendo da demanda,
a fase de planejamento pode se estender em até um mês.
Quando não há retorno sobre as propostas enviadas e
adiamento ou cancelamento de projetos, geralmente
ocorre:
• expressiva baixa de energia e motivação do pessoal
envolvido;
• reações de desagrado direcionadas à empresa-cliente;
• reflexos na imagem da direção junto aos consultores
envolvidos no processo, já que fica inviável sua
designação para outro trabalho em tempo hábil;
• problemas na estrutura financeira;
• desperdício de tempo e dinheiro.
Esta cadeia de consequências negativas vem, de forma
incisiva, influindo no rumo das pequenas e médias
empresas de consultoria (em seu clima interno e em suas
finanças). Muitas não passam do segundo ano de vida e
seus sócios já se vêem no mercado à procura de nova
colocação. É preocupante esta dificuldade em estabelecer
uma relação comercial que transforme as empresas
envolvidas em parceiras.
O que ocasiona este ciclo vicioso entre empresas
contratantes e empresas contratadas?
Creio que toda a base do problema esteja na ausência de
um plano de desenvolvimento de recursos humanos efetivo,
com base nas reais necessidades das empresas e na
inexistência de um modelo que oriente o posicionamento
dos consultores atuantes no mercado. Tanto contratantes
como contratadas precisam redefinir suas práticas. E um
bom começo é pelo planejamento.
A TÍTULO DE SUGESTÃO, ENUMERO ALGUNS PASSOS PARA QUE
EMPRESAS CONTRATANTES ESTABELEÇAM DIRETRIZES E PLANOS
ANUAIS DE TREINAMENTO E DESENVOLVIMENTO
• manter um programa sistematizado de levantamento de
necessidades de treinamento e desenvolvimento;
• utilizar a tecnologia disponível para cadastrar os
levantamentos efetivados (por área e clientela);
• planejar as ações até novembro de cada ano, com base
nos levantamentos efetivados;
• elaborar um plano de treinamento e desenvolvimento que
contenha além das informações básicas de cada projeto:
• previsão de recursos físicos e financeiros
• definição da equipe ou profissionais de apoio e suas
responsabilidades
• cronograma de execução
• resultados esperados em cada projeto (mudanças e
melhorias pretendidas)
• indicadores de medição de resultados e formas de
acompanhamento
• submeter o plano anual de treinamento e
desenvolvimento à aprovação antes de iniciar os contatos
com consultorias externas.
DICAS PARA CONTRATAR
• As empresas públicas têm seu processo de contratação
claro e definido pela Lei de Licitação. Apesar de menos
flexível, o processo bem administrado trará como
consequência a transparência das ações.
• Já as empresas privadas, têm maior liberdade de
escolha nos serviços terceirizados e não precisam se
ater ao menor preço. Neste caso, a responsabilidade
pelos resultados recai sobremaneira sobre a área
contratante. Cabe a ela, buscar no mercado os melhores
serviços pelo preço justo.
• A máxima QUALIDADE E PREÇO, pode ser viabilizada ainda
na fase da pesquisa de consultorias.
É importante:
1. manter um cadastro atualizado de empresas de
consultoria em disponibilidade no mercado;
2. pesquisar e informar-se sobre a atuação destas
consultorias;
3. solicitar documentos que comprovem qualidade dos
serviços prestados e idoneidade da empresa, currículo
dos consultores e custo médio de cada projeto;
4. estabelecer contato com base nas informações
recebidas.
Algumas empresas privadas já vêm adotando uma
sistemática de vanguarda na contratação de serviços.
Após uma primeira seleção em seu cadastro de
consultorias, convidam cada uma delas para apresentação
de seus projetos. Participam desta reunião
representantes da área de recursos humanos, da direção
da empresa e da área-cliente. A decisão final é
discutida após ouvirem cada prestadora de serviços. A
estratégia em questão implica na co-responsabilidade
entre as partes interessadas no serviço.
O MERCADO DE CONSULTORIA
Nos últimos anos, as empresas prestadoras de serviço têm
se multiplicado. A pouca oferta de empregos, as
demissões em massa, os planos de aposentadoria
voluntária e o grande número de recém-formados no
mercado, trazem como resultado a opção de montar um
negócio próprio.
A abertura de uma empresa é bastante facilitada hoje em
dia. Basta ter um pequeno capital, um local (em alguns
casos a própria residência), o mínimo de estrutura e
consegue-se viabilizar a consultoria. Não há nenhum
órgão que regulamente a profissão e nada é exigido para
comprovar formação básica.
Daí, estabeleceram-se no mercado, categorias diversas de
consultores:
1. profissionais recém-formados que não conseguem uma
colocação;
2. aqueles que se desligaram de suas empresas através de
planos de demissão voluntária;
3. profissionais aposentados;
4. alguns ainda ligados às suas empresas e que fazem um
“bico” de vez em quando;
5. os que optaram pela área de consultoria, se
prepararam, investiram e se estruturaram para tal.
Somando-se à diversidade de consultores, está a
dificuldade em estabelecer critérios para a formação de
um preço de custo médio de oferta de serviços,
acarretando na enorme variação de valores. Projetos que
oferecem conteúdos similares têm percentual de variação
de até 1000% (isto mesmo... MIL)
Outro dado relevante é o grande número de empresas
multinacionais que pouco à pouco se instalam no país,
quer através de escritórios de representação, franquias
ou parcerias. Muitas delas vêm para somar e acrescentar
diferencial em nossas práticas. Outras trazem em sua
bagagem o peso da imagem e da cultura de seus países de
origem sem a preocupação em adequar seus “pacotes” à
nossa realidade.
Poderão fazer muitos estragos, já que o brasileiro é
adepto a muitos modismos (haja vista a famosa
reengenharia que foi adotada cá entre nós sem as devidas
adaptações, gerando um caos em algumas empresas
reengenheiradas e não trazendo melhorias significativas
nos seus resultados financeiros).
No Brasil, o mercado é emergente. Com a globalização,
nossas empresas vêm sentindo na pele a necessidade de
serem competitivas e de redirecionar seus modelos de
gestão para uma nova ordem. A cada dia mais empresas
investem mais capital em programas de modernização,
capacitação de pessoal, diagnósticos internos,
preparação para mudanças e implantação de inovações que
geram resultados significativos. Projetos antes
relegados a segundo plano estão sendo vistos como
prioritários.
Ocupar estes novos espaços exige das consultorias
brasileiras alto grau de profissionalização, atualização
e tecnologia de ponta. A concorrência está a cada dia
mais acirrada e só se manterão no mercado os melhores.
Aquelas empresas que resolverem investir em programas de
treinamento e desenvolvimento precisam estar atentas e
buscar no mercado as consultorias que atendam a alguns
requisitos básicos:
1. VISÃO DOS PRINCIPAIS PROCESSOS EMPRESARIAIS;
2. CONSCIÊNCIA DOS REFLEXOS QUE O RÍTMO ACELERADO DAS
MUDANÇAS IMPÕE ÀS EMPRESAS EM GERAL;
3. CAPACIDADE DE ASSESSORÁ-LAS NOS MOMENTOS DE
TRANSIÇÃO;
4. HABILIDADES INTERPESSOAIS QUE TORNEM POSITIVOS OS
CONTATOS COM O CLIENTE FINAL: FLEXIBILIDADE, CORTESIA,
RESPEITO, ÉTICA, ATITUDE COLABORATIVA E ABERTURA ÀS
COMUNICAÇÕES.
5. DOMÍNIO CONCEITUAL COM BASE EM FORTE REFERENCIAL
TEÓRICO E INSTRUMENTALIZAÇÃO ATRAVÉS DE TÉCNICAS DE
VANGUARDA NA EDUCAÇÃO EMPRESARIAL
Além do “preço”, há outros critérios a serem levados em
consideração.
Costumo reforçar a responsabilidade das partes
envolvidas na relação contratado-contratante com a frase
“treinamento não faz milagres”, principalmente quando
são instituídos para apagar incêndios e justificar a
existência da função na empresa.
É necessário um esforço conjunto que coloque a área de
recursos humanos (ou outro novo nome que a ela tenha
sido dado) em destaque nas organizações. Afinal,
qualquer modelo de gestão de sucesso é alavancado a
partir das pessoas que dele fazem parte. Conclamo a
todos os interessados no desenvolvimento e treinamento
de pessoas a repensar posturas e formas de atuação. É
chegada a hora-da-verdade!.
Maria Rita Gramigna é Mestre em Criatividade Total
Aplicada pela Universidade de Santiago de Compostela
(Espanha). Graduada em Pedagogia pela Universidade
Federal de Minas Gerais e pós-graduada em Administração
de Recursos Humanos pela UNA – União de Negócios e
Administração (MG). Atua no Mapeamento de Competências,
contatos estratégicos com clientes, capacitação
gerencial e treinamento da equipe de consultores da MRG
Consultoria e Treinamento Empresarial.