Consumidor não é Ingênuo
Por Claudio Czapski
1212/2007
Promoções mal planejadas podem trazer graves
conseqüências tanto para os varejistas quanto para a
marca
Dezembro de 2007 - Promoções fazem parte do dia-a-dia do
varejo e são um importante instrumento de atração de
clientes e de geração de fluxo na loja. Mas, para que
cumpra seus fins, é necessário utilizá-lo da forma
correta. O mau uso de um meio tão poderoso pode ter
graves conseqüências, que se refletem em vários pontos
da cadeia de abastecimento.
As promoções podem ser classificadas em dois grupos. As
"do bem" são aquelas realizadas de modo planejado, por
meio da análise criteriosa de produtos e categorias, que
geram oportunidades para o consumidor receber um valor e
agregam diferenciais à loja, à marca e à categoria. As
promoções "do mal" são aquelas que destroem valor e
demonstram claramente que a última alternativa para
solucionar o problema foi entregá-lo por preço abaixo do
custo. Por exemplo, as "queimas" de estoque, em que o
varejista deixa claro que está se livrando de um
encalhe, de um item que foi comprado por equívoco, não
atingiu seus objetivos e tomou espaço de outros que
poderiam ter gerado faturamento e lucro.
Na realidade, não existem bons ou maus produtos e, sim,
adequados ou não ao mercado ao qual são oferecidos, com
preço e qualidade que servem como balizadores do
desempenho que prometem. Não há quem questione os
atributos intrínsecos dos automóveis de marcas como
Porsche, Ferrari, Rolls-Royce e outras da mesma
categoria. Apesar de excelentes, há nichos para os quais
eles são absolutamente inadequados, por maior que seja o
poder aquisitivo dos moradores da região. Seria o caso
de locais muito afastados de centros urbanos, com
estradas precárias, sem assistência técnica
especializada etc., ou seja, o típico exemplo de um
excelente produto que não encontra posição no mercado.
Existem muitas situações semelhantes nas prateleiras das
lojas. São mercadorias inadequadas, que não têm demanda
atual ou potencial no ponto em que estão sendo
oferecidos, por mais espaço que possam ter em outra
parte.
Comprar errado e depois tentar "queimar" o estoque, como
única alternativa para minimizar os prejuízos acumulados
é, do lado do varejo, confessar ao mercado a
incompetência para compreendê-lo e lhe oferecer o que de
fato necessita. A indústria, dona da marca, também pode
sofrer importantes perdas de imagem, quando seu produto
é entregue abaixo do custo, em uma promoção.
Na situação inversa, as verdadeiras promoções são
planejadas cuidadosamente, com o dimensionamento do
valor que será entregue ao consumidor e da forma de
recuperação do investimento, com objetivos claros e
mensuráveis.
Na base do problema está a cultura do comprar bem -
muitas vezes interpretada como comprar pelo menor preço
-, uma contraposição à boa prática de vender bem, por
meio da oferta de mercadorias que o consumidor realmente
busca, sem tentar atraí-lo com falsas tentações de
preços baixos.
Há ainda enorme espaço para criar oportunidades reais e
criativas nas lojas, bastando para tanto olhar o
ponto-de-venda com os olhos do consumidor. É no mínimo
frustrante ter de entregar produtos encalhados abaixo do
custo ao consumidor disposto a vir até a loja para pagar
um preço justo pela solução adequada às suas
necessidades.
Claudio Czapski - Superintendente da Associação ECR
Brasil
Fonte: Versátil - Assessoria de Imprensa do Autor.