O Consumo nos dias atuais
Por Rosângela Maluf
08/12/2007
Introdução
Quando o consumidor pensa em adquirir um bem ou um
serviço, inúmeras são as influências e os processos
mentais a que ele se submete e que irão certamente,
influenciar o tipo de decisão a ser tomada por ele.
Embora alguns aspectos dessa influência psicológica não
estejam perfeitamente esclarecidos sabe-se que esses
fatores são capazes de afetar profundamente o
comportamento humano.
Assim como o estudo de suas necessidades, motivação,
percepção, atitudes e personalidade, entre outros, o
conjunto dessas variáveis permite melhor compreensão do
estudo do comportamento do consumidor.
O interesse pelo consumidor e pelas suas formas de
consumo, não é de hoje. Desde que se têm notícias, as
relações de troca já buscavam explicações para o
comportamento dos compradores ainda que de maneira pouco
estruturada. Há 150 anos Karl Marx já teorizava sobre a
essência da posse, o que levou a estudos mais complexos
sobre a sociedade de consumo.
Entretanto, existe pouca novidade e quase nenhuma
renovação nas teorias explicativas. Por outro lado,
nunca se consumiu tanto - seja pela variedade imensa de
produtos e serviços disponíveis, seja pela influência
das celebridades em nosso dia-a-dia, seja pelas
facilidades que o crédito nos proporciona, seja por
apelos emocionais das campanhas publicitárias e das
propagandas, seja pela diversificação dos tipos de mídia
- a verdade é que todas as teorias sobre o comportamento
ainda são insuficientes para explicar as atitudes do
consumidor diante de uma situação de compra.
Assim, o desejo exagerado pelo "ter" passou a ser objeto
de estudo das mais diversas áreas e hoje profissionais
de marketing, professores, psicólogos e sociólogos entre
outros, buscam respostas para o comportamento de compra
do homem moderno, reconhecendo suas necessidades, suas
escolhas, suas atitudes e suas decisões de compra
tentando compreender suas motivações e expectativas.
Histórico
Uma das maiores curiosidades sobre o comportamento do
consumidor, objeto de inúmeras pesquisas de marketing, é
conhecer a motivação - consciente ou não - que
impulsiona o comprador de um bem ou serviço. O estudo do
comportamento do consumidor é bastante recente. Voltando
um pouco no tempo, por volta do final do século XIX,
encontraremos estudiosos como Thorstein Veblen que
buscavam, já naquela época, em 1899, avaliar os exageros
do consumo propiciado pela revolução industrial (Engel,
2000). Segundo Minor & Mowen (2003) nos primeiros anos
do século XX os escritores iniciavam debates sobre a
utilização dos princípios psicológicos na elaboração dos
anúncios publicitários. Pouco tempo depois muitas das
idéias da teoria freudiana foram popularizadas pelos
pesquisadores de motivação e usada por anunciantes.
Assim surgiram os interesses iniciais no estudo do
comportamento desses compradores. A Psicologia, com
idéias e teorias inovadoras, serviu ao longo desse
século, como referência para uma melhor compreensão do
comportamento de compra das pessoas. O que faria com que
alguém optasse por um produto e não pelo outro? Que
razões levariam uma pessoa a comprar ou a deixar de
comprar? Que motivos seriam esses e como eles
influenciariam no modo de agir dos consumidores?
Inicialmente, o estudo desse comportamento destinava-se
ao conhecimento das reações dos consumidores diante de
uma mensagem promocional assim como a resposta, em forma
de compra ou aquisição do bem ou serviço ofertado.
O pensamento sobre o homem econômico permaneceu até
metade do século XX quando as empresas supunham ainda
que as decisões de compra seriam basicamente racionais,
dependentes da utilidade de satisfação máxima ao menor
custo possível (Samara,2005). Na década de 50, ainda
segundo Samara(2005), os numerosos estudos, referentes
ao comportamento de compra das pessoas, influenciaram
diretamente os cursos de Administração.
As teorias sobre a motivação humana surgiam servindo
como base para os anunciantes da época e seus discursos
persuasivos. Foi nessa década que surgem os conceitos e
as várias ferramentas do marketing em que o cliente é
visto como parceiro de troca, e o seu papel entendido
como uma forma de proporcionar um padrão de vida
superior (Kotler, 2000).
A partir dos anos 50, na avaliação dos modernistas ou
positivistas (Samara,2005), os consumidores passaram a
ser vistos como seres racionais que tomam decisões de
compra após avaliação de alternativas.
As causas e efeitos ligados ao consumo já podiam ser
isolados e identificados enquanto constatava-se que os
clientes buscavam sempre soluções para os seus problemas
envolvendo-se diretamente com os processos de
informação. Assim, as causas do comportamento dos
consumidores poderiam ser identificados e as empresas
poderiam influenciar esses consumidores beneficiando-se
dessa influência. (Schiffman e Kanuk,2000).
Ainda segundo os autores, a chamada era pós- modernista
teve início exatamente quando os pesquisadores, chamados
então de experimentalistas, deram início a
experimentações com os consumidores utilizando-se de
metodologias específicas como a etnografia, a semiótica
e entrevistas individuais estruturadas.
Essas pesquisas permitiram concluir que: - não existe
uma verdade única, a realidade é subjetiva; - cada
experiência de consumo, é única; - as causas e efeitos
não podem ser isolados; - a relação
pesquisador/consumidor pode influenciar no resultado da
pesquisa; - as descobertas não são válidas para
populações maiores.
Ainda hoje os mais diversos tipos de pesquisa vêm sendo
aplicadas com o objetivo de compreender o comportamento
dos consumidores e seus processos de compra. Em Alderson
(1957) encontramos as primeiras organizações das teorias
sobre o consumidor. Segundo ele, num sistema de trocas a
compra não pode ser considerada apenas como racional e o
consumo deveria ser entendido como um processo, um ato
em etapas, em paralelo com a teoria da solução dos
problemas. Ainda nesse mesmo estudo, o autor afirmou que
resolver problemas significaria reduzir a incerteza até
o ponto em que um curso de ação pudesse ser adotado com
relativa segurança.
Essa teoria buscaria uma estrutura capaz de ser aplicada
também ao comportamento humano. Giglio,2002) O
Consumismo Nas últimas décadas do século XX uma imensa
expansão do consumo foi observada nas sociedades. O
consumismo passou a ser uma das mais importantes
características do mundo em que vivemos e tem sido
objeto de discussões sob a real perspectiva do seu
significado. Segundo os estudiosos, temos consumido não
apenas para suprir nossas necessidades, mas pelo
significado dos próprios produtos, por tudo aquilo que
ele nos devolve como benefício adicional, ou seja,
status, imagem, entre outros.
Para Salomon(2002) o consumo pode representar uma
experiência emocional, uma integração com a manipulação
dos objetos, uma classificação ou ainda, um jogo em que
experiências são compartilhadas com identidades do
grupo. Assim, a busca por respostas leva os estudiosos
para outro campo: o que levaria alguns indivíduos a
consumirem compulsivamente? Como explicar esse lado
negativo do consumo? De que maneira contribuir para sua
redução? Para Blackwell(1995), pela primeira vez, as
pesquisas têm apresentado resultados em que se reconhece
o comportamento de consumo, ou consumismo, adquirindo
formas e direções, claramente, contra produtivas.
O termo consumo compulsivo surge então para classificar
as práticas, justificadas como apoiadoras da
auto-estima, mas que podem chegar a ser inadequadas,
excessivas e destruidoras. As compensações, as sensações
agradáveis são efêmeras, com pouquíssima duração, além
de causar, entre outros sentimentos como culpa, mais ou
menos profundas e impotência, além de vários graus de
arrependimento. Ainda segundo o autor, as empresas se
confundem ao abordar esses temas tão atuais! Há um
desconforto generalizado, principalmente quando
considerarmos que o colecionador, aqueles consumidores
portadores dos sintomas do vício em compras, assim como
o vício em jogo, em comida ou bebida, são todos eles
vítimas de um longo processo no qual a aquisição
constante proporcionaria um sentimento de poder e
progresso. O mais interessante, entretanto, é que,
paradoxalmente, ao mesmo tempo que se consome tanto, se
teme pelo final do interesse em consumir, cada vez mais,
de tudo.
Conclusão
Em tempos não muito remotos, o Marketing incentivava,
por meio de propaganda e publicidade, o consumo de bens
e serviços; e ainda que uma parcela da população não se
rendesse a tais apelos, com o passar do tempo, as
pessoas foram se dando conta de que era preciso
consumir, cada vez mais!. A compra, baseada até então,
nas necessidades do indivíduo foi sendo substituída
gradativamente pela compra por impulso, pela compra de
ocasião, pelo preço baixo, pela pechincha, pelas
liquidações - justificativas não faltavam para esses
justificar esses excessos. Assim, com a mídia mostrando
que só quem consumisse estaria up e in o número de
consumidores foi aumentando apoiado por uma legião de
celebridades, formadores de opinião que passaram a
inundar as revistas de circulação nacional , além das
telas de tv.
Respaldados pela auto-estima elevada, esses consumidores
passaram a justificar seu excesso de consumo por meio de
frases feitas ( "eu mereço") e a corrida desenfreada
pelo TER, continua ainda hoje. Só que, ainda mais grave
que os distúrbios provenientes de tal compulsão pela
compra, temos visto e observado, em camadas muito jovens
da população, uma mudança perversa no desejo de ter:
hoje é preciso "ter", mas ter ANTES de qualquer outra
pessoa, seja do meu grupo social ou fora dele. Mais
importante do que ter, é preciso ter primeiro que os
outros. Se por um lado, alguns segmentos (entre eles o
da Moda), beneficiem-se profundamente com essa
tendência, o que tem sido observado é um descarte muito
rápido dos bens adquiridos, logo substituídos por outros
e por outros e outros. Mais modernos, mais caros, mais
fashion, de maior tecnologia, mais rápido, mais potente,
mais chic, mais caro...enfim, todos os adjetivos são
válidos na tentativa desenfreada de ,buscar fora de si
mesmo, a tão sonhada felicidade!!!
Rosângela Maluf é Mestre em Administração, pós graduada
em gestão Estratégica de Marketing, professora
universitária, lecionando Comportamento do Consumidor
para a graduação, pós e MBA