Controle de Estoques e Logística:
Receita de Sucesso
Por Henrique Montserrat Fernandez
07/08/2007
Os estoques representam capital investido, lançado no
ativo da empresa e com liquidez dependente do volume
produzido e vendido (ou apenas revendido, no caso do
comércio).
Apesar de, quanto mais se vender, teoricamente o ganho
obtido ser maior1, torna-se estratégico para qualquer
empresa o controle adequado de seus estoques, de forma a
reduzir os custos gerados pela existência deles.
O ideal para as empresas seria efetuar as aquisições de
estoques somente para atender os pedidos de seus
clientes e, assim, obter a redução dos custos
envolvidos.
Infelizmente, a assim chamada entrega just in time (a
tempo)2 é muito difícil de obter, pois depende quase
exclusivamente do fornecedor, e haverá situações em que
este não cumprirá com o prazo estabelecido, afetando
qualquer planejamento prévio que tenha sido feito por
sua empresa.
Portanto, caso não esteja bem dimensionado seu volume de
estoques, a empresa pode acabar por ficar sem produtos
para atender seus processos fabris e/ou seus clientes ou
mesmo, por outro lado, perder dinheiro com o encalhe
desses estoques mal planejados.
É um sério risco, apesar de existirem técnicas que
ajudam muito num dimensionamento adequado.
É famoso o caso das primeiras empresas de vendas pela
Internet, que subdimensionaram seus estoques de
funcionamento, certas que estavam da garantia de entrega
de seus fornecedores e que, após venderem grandes
quantidades, não conseguiram entregar os produtos a
tempo para os clientes.
Percebe-se o dilema dessas empresas, pois como a
armazenagem sempre gera custos e despesas3 (exemplos:
aluguéis das áreas de armazenagem, impostos, depreciação
do imóvel, manutenção, seguros, mão-de-obra para
controle dos estoques, custo de aquisição dos materiais
estocados, risco de obsolescência e perdas), se fosse
possível minimizá-las através do just in time, o lucro
seria maior, através da remessa direta do fornecedor ao
cliente final. Essas empresas da Internet seriam apenas
intermediárias no processo de venda e se esquematizariam
desde o início para isso.
Entretanto, devido aos problemas de fornecimento
citados, elas perderam competitividade, ao terem de
reformular seu negócio com o acréscimo de estoques a fim
de viabilizar sua existência como empresa. Isso fez com
que muitas não agüentassem os custos adicionais. Várias
fecharam.
Cito mais um caso, para se ter uma idéia do quão
problemática é a questão do controle de estoque: o de
uma empresa do ramo médico na qual atuei, cujos produtos
têm lote e data de validade, que recebe suas importações
da matriz de forma aleatória, ou seja, pode receber
produtos que irão vencer antes, após o recebimento de
lotes mais novos. O controle do estoque tem de ser feito
num esquema do tipo PEPS (primeiro que entra é o
primeiro que sai), mas tendo como base a data de
validade, ou seja, o primeiro que vence é o primeiro que
deve sair. Apesar disso, são comuns as perdas por
expiração da data de validade. E os produtos são
caros...
O valor dos estoques, entretanto, não é igualmente
proporcional em todos seus itens4.
Essa é a base de conhecimento que permite gerar a
chamada Curva ABC, que classifica os produtos em três
categorias, das quais o valor de A representa a maior
parte do valor dos bens estocados (80%), apesar de ser a
menor parte em quantidade (15 a 20%). B por sua vez
representa de 35 a 40% dos bens, porém valendo em torno
de 15% do total estocado, enquanto C representa a grande
maioria dos materiais (40 a 50%), porém valendo apenas
de 5 a 10% do total do estoque (percentuais mencionados
no citado artigo4).
Isso significa, que os esforços no controle de estoque
em sua empresa devem ser centralizados nos itens que
compõem a classe A, os mais valiosos mas em menor
quantidade (claro que as classes B e C não devem ser
negligenciadas).
O uso dos computadores e programas de gestão auxiliam em
muito o processo de controle dos estoques.
***
Responsável pelo sucesso das empreitadas militares desde
os tempos antigos, a logística5 vem, modernamente, sendo
uma valiosa aliada das empresas.
Ela tornou-se parte primordial das relações comerciais
globalizadas. Sua importância estratégica cresce a todo
momento e pode ser sentida em toda sua força, no
dia-a-dia das cidades.
Imagine o esforço e dinheiro que são gastos diariamente
no abastecimento da Grande São Paulo: Essa trabalheira
toda envolve, só na capital, 200.000 caminhões!6
Esse volume enorme de veículos aumenta ainda mais o
caótico trânsito da metrópole (ver meu artigo SÃO PAULO:
ESTÁGIO PARA O INFERNO), e as entregas feitas por eles
geralmente atrasam devido ao grande volume de tráfego.
Para reduzir esses problemas, as empresas têm investido
em tecnologia -- em especial em programas de computador
responsáveis por traçar e cronometrar os roteiros das
cargas.6
Como a logística tem por missão a disponibilização nos
seus respectivos locais de consumo, dos bens e serviços
corretos, entregues em tempo hábil e na condição que o
cliente deseja, ao menor custo possível5, é essencial
entender que nenhuma empresa pode funcionar sem executar
atividades logísticas e, portanto, reduzir custos nestas
atividades é fundamental a fim de aumentar a
competitividade do negócio.
Levando-se em conta que no custo total da logística há
três atividades denominadas primárias, que contribuem
com a maior parcela desse custo, os esforços para
redução dos valores gastos e otimização das atividades
devem ocorrer preferencialmente nelas5:
-- Custos de transportes: como não existem operações de
empresas sem deslocamentos de materiais (incluindo aí os
produtos acabados) e pessoas, percebe-se não só a
importância desse custo, como também seu peso (de 1/3 a
2/3) no custo logístico total. Para minimizar os gastos
nesta atividade, é importante escolher o modal mais
adequado (por exemplo: rodoviário, ferroviário,
aeroviário, hidroviário, correio, couriers etc.), com a
melhor relação custo x benefício, observando sempre os
tempos de deslocamento, os melhores roteiros e os
volumes que serão transportados;
-- Custos de manutenção dos estoques, já comentados
anteriormente neste artigo;
-- Custos de processamento de pedidos: apesar de seu
valor ser pequeno, quando comparado com os custos
anteriores, o processamento de pedidos é fundamental na
questão da qualidade e rapidez no atendimento aos
clientes.
Portanto, ao administrarmos de forma adequada nossos
estoques e a logística empregada nos processos de compra
e venda, algumas das etapas mais importantes na gestão
do negócio estarão asseguradas.
Notas
1. Sérgio de Iudícibus, na época professor da FEA/USP,
em seu livro Análise de Balanços, comenta acerca de um
Quociente de Atividade muito importante para a empresa:
o índice de Rotação de Estoques, expresso pela fórmula:
Rotação de Estoques = Custo dos Produtos Vendidos /
Estoque Médio de Produtos Acabados
Este índice procura “representar quantas vezes se
‘renovou’ o estoque por causa das vendas” e pode ser
aplicado, também, “aos estoques de materiais e de
produtos em elaboração”.
Entretanto, um aumento desse índice não representa,
necessariamente, aumento no lucro.
2. Just in Time, também conhecido como Sistema de
Produção Toyota ou Sistema Kanban, é, segundo o
Dicionário de Economia e Administração de Paulo
Sandroni, “um sistema de controle de estoques no qual as
partes e componentes são produzidas e entregues nas
diferentes seções, um pouco antes de serem utilizadas.”
3. Os custos mais comuns, associados aos estoques, são,
segundo o Prof. Segura em seu artigo Gestão de Estoques
e Armazéns, publicado na Enciclopédia de Direção,
Produção, Finanças e Marketing da Nova Cultural:
“Custo de posse do estoque”, compostos principalmente
pelos custos “financeiros [decorrentes do estoque], os
de armazenamento e os de obsolescência”;
“Custo do pedido”, que inclui “os custos variáveis
relacionados com o lançamento de um pedido ou o
encaminhamento de um lote de produção”. Efetuar compras
ou produção nos chamados lotes econômicos é
indispensável para reduzir este custo;
“Custo de ruptura”, relacionado “com o fato de não poder
atender à demanda quando esta se apresenta”. Deixar de
vender é um custo que, apesar de subjetivo, importa
muito à empresa;
“Custo de aquisição”, que corresponde “ao montante pago
pelos materiais comprados”.
O “Custo total do estoque” será obtido através da
somatória dos custos descritos.
4. “É um fato conhecido que uma alta porcentagem do
investimento em estoques se encontra concentrada num
pequeno número de artigos.” – Jaime Ribera Segura, na
época Professor no IESE (Instituto de Estudios
Superiores de la Empresa -- España) – Gestão de Estoques
e Armazéns -- 1986 -- artigo publicado na Enciclopédia
de Direção, Produção, Finanças e Marketing da Nova
Cultural.
5.“O trajeto desde a obtenção da matéria-prima até a
recepção e aceitação do produto pelo consumidor final é
a rede logística.” “[Hoje é considerada] um dos
conceitos gerenciais mais modernos [e seu propósito] vai
desde a gerência das matérias-primas até a entrega do
produto final”. -- Prof. Almir G. Santos, 2002.
“A logística pode ser entendida como a coordenação da
estocagem, do transporte, dos inventários, dos armazéns,
das comunicações e do movimento de produtos acabados
desde a empresa até o cliente... a área de logística
requer investimentos (armazéns, meios de transporte,
equipamento de movimento de materiais, meios para tratar
da informação etc.) e também pessoal... as tarefas de
logística podem ser consideradas de duas maneiras:
simples meio para colocar os produtos no mercado; ou um
setor da empresa que, projetado e administrado
corretamente, traz vantagens competitivas.” -- A
Logística -- Marcelo Paladino, na época Professor de
Direção da Produção no Instituto de Altos Estudos
Empresariais de Buenos Aires na Argentina -- 1986 --
artigo publicado na Enciclopédia de Direção, Produção,
Finanças e Marketing da Nova Cultural.
6. “O desafio do abastecimento” matéria de Celia
Demarchi na Revista Exame SP, edição 19 de
novembro/2002, Editora Abril.
Henrique Montserrat Fernandez é Administrador de
Empresas com pós-graduação em Análise de Sistemas e MBA
em Tecnologia da Informação / E-management pela
Strong/FGV. Com 29 anos de atuação profissional,
trabalhou em empresas de médio e grande portes, tais
como Grupo Bonfiglioli, Copersucar e SENAC, entre
outras. Foi Gerente de Sistemas e Métodos da Zanthus,
tradicional fabricante de Terminais Ponto de Venda, onde
atuou por mais de seis anos. Foi também professor
universitário na década de 90.