Deixe a Crise para a Concorrência
Por Carlos Hilsdorf
26/01/2009
O grande questionamento atual, como não poderia deixar
de ser, está ao redor do impacto que o rompimento da
“bolha americana” ocasionará à economia brasileira.
Da mesma forma que grandes acidentes aéreos não
acontecem por uma única causa, mas sim pela sucessão de
erros em cascata, existem várias “micro crises” dentro
da crise, e os seus efeitos se somam!
Do ponto de vista meramente econômico, o que acontece de
imediato é uma diminuição de crédito, mesmo com a
redução da taxa de juros. Como vivemos em um ambiente
consumista viabilizado pelo crédito, que permite às
pessoas gastarem mais do que ganham e financiar padrões
de vida imediatamente incompatíveis com seus
rendimentos, fica fácil perceber que se o crédito
diminui, as pessoas consumirão menos, por um tempo.
Acontece que a redução de crédito não afeta apenas as
pessoas físicas, mas também as empresas, que de imediato
adiam a tomada de financiamento para investimentos em
função da desaceleração da economia.
A crise de expectativas e incertezas leva os agentes
econômicos a pisarem no freio dos investimentos e, ao
mesmo tempo, no acelerador da especulação. Apostar na
especulação pode parecer mais oportuno que assumir o
risco de apostar na produção frente a um mercado que
respira “ares recessivos”.
Menos produção se traduz em menos empregos diretos e
indiretos e isto realimenta o “efeito freio” sobre a
economia, empurrando o nível de negócios para baixo. De
maneira bem simples e coloquial, sem economês, é isto
que acontece, com um agravante...
O agravante é que o mercado vive de expectativas, e
expectativas em um mundo de incertezas significa: medo.
Com medo, todos consumidores, produtores, investidores,
pisam no freio com muito mais força do que deveriam,
agravando o “efeito freio” que, elevado a níveis mais
profundos implica recessão: a economia começa a andar
para trás.
Muitas das demissões que estamos presenciando agora em
Janeiro de 2009 e muitas das anunciadas para fevereiro
de 2009 refletem muito mais a crise de expectativas que
a crise real.
Se as expectativas fossem de expansão, mesmo com carros
no pátio, as montadoras continuariam produzindo e
mantendo os níveis de emprego e investimento.
Em economia de mercado, as crises de expectativas são
sempre muito mais poderosas que as crises técnicas. O
medo da crise é maior que a própria crise e termina por
criá-la e muitas vezes por ampliá-la.
Como sempre acontece, alguns setores são mais afetados
que outros. A carga tributária e o câmbio, explicam em
parte, estas diferenças, e há até mesmo os que lucram
com a crise, um pequeno grupo, normalmente...
O fato é que o verdadeiro tamanho da crise dependerá do
conjunto das atitudes de todos os agentes econômicos,
tanto no setor público quanto no privado.
A primeira coisa a fazer é buscar informações relevantes
e escapar dos efeitos nocivos da má interpretação e
precipitação de alguns meios de comunicação. Há muito
ruído e sensacionalismo – crise é um fato polêmico e dá
muito ibope. Basta lembrar que a redução da taxa de
juros não implica, necessariamente, a manutenção do
volume de emprego, como foi prenunciado em muitos
artigos e comentários equivocados na mídia.
A segunda coisa a fazer é buscar reconhecer (ou seja,
conhecer de novo) o nosso negócio dentro dos possíveis
cenários que a realidade econômica pode oferecer. Estes
cenários são três:
1) Crise com curva em “L”: Este cenário representa uma
queda abrupta e fortíssima dos níveis de atividade
econômica que se mantém por um tempo bastante longo, daí
a imagem do “L”.
2) Crise com curva em “V”: Este cenário representa uma
queda rápida e fortíssima dos níveis de atividade
econômica, seguido de uma recuperação igualmente rápida
(reversão das expectativas ruins e saneamento rápido do
crédito internacional).
3) Crise com curva em “U”: Este cenário representa uma
queda gradual, seguida de recuperação igualmente gradual
dos níveis de atividade econômica.
Em função das condições técnicas da economia brasileira
na atualidade, excetuando-se alguma manobra catastrófica
da equipe de gestão, o formato em “U” parece ser o mais
provável. Ou seja, inevitavelmente experimentaremos uma
desaceleração da economia com perspectivas bastante
saudáveis de uma recuperação mais rápida. A resposta
positiva às promoções de venda de carros novos sinaliza
que a percepção da crise não atingiu plenamente a massa
dos consumidores e que as pessoas estão respondendo a
estímulos de compra. Os consumidores estão considerando
que o estado atual é passageiro e que deixar de comprar
seria perder uma excelente oportunidade. Os números
relativos à venda de carros novos em Janeiro de 2009
confirmam este comportamento ainda otimista do mercado,
frente a incentivos nitidamente convidativos, como a
redução temporária do IPI e interessantes taxas de
financiamento. Se em algum momento o mercado começar a
responder menos ou deixar de responder a estes
estímulos, então precisaremos dedicar máxima atenção a
um acentuado caráter recessivo da economia.
Seja qual for o cenário que se apresente, cabe a cada um
de nós como agentes econômicos, tanto no aspecto
particular, quanto no aspecto “business”, estabelecer um
planejamento estratégico para cada um dos cenários,
levando em conta que:
a) A crise não é a mesma para todos. Quem está mais bem
estruturado e maneja melhor a gestão e a capacidade de
adaptação e inovação, sofrerá menos.
b) Para muitos, a “crise” será uma grande oportunidade,
porque em momentos como estes há uma seleção natural no
mercado e só permanecem os “players” que estão mais bem
preparados.
c) O aspecto mais perigoso da crise é a percepção
negativa, as expectativas desfavoráveis e o medo,
portanto, esta é a hora de “levantar a moral da tropa” e
cativar as pessoas para utilizarem toda a sua
determinação, garra e capacidade de fazer acontecer.
d) O fato de que possa não haver crescimento para alguns
setores em alguns momentos não implica, necessariamente,
que precisa haver prejuízo. É possível não perder,
perder menos que a concorrência e, até mesmo crescer e
lucrar mais que a concorrência.
e) O melhor remédio é antecipar-se aos cenários e
TRABALHAR FORTE PELA VITÓRIA. Esta é a hora de colocar
toda a sua capacidade empreendedora e todo o talento da
sua equipe para GERAR RESULTADO!
f) Não se deixe abater pelos obstáculos e limites
momentâneos, você não está no mercado apenas por um dia
ou por um mês.
g) Seja proativo e não reativo. Não espere que as coisas
aconteçam para então pensar em como agir. Assuma a
responsabilidade de agir prontamente, antecipando-se ao
que poderá vir a acontecer.
Vale lembrar que em chinês a palavra crise é formada
pela união dos ideogramas que representam “risco” e
“oportunidade”, dois aspectos que sempre fizeram parte
da cartilha dos profissionais que, de maneira pró-ativa,
assumem os riscos, aproveitam as oportunidades e fazem
as coisas acontecerem.
A mais preocupante de todas as crises é a falta de
competência, esta não podemos permitir. Estabeleça seu
plano de vitória e deixe a crise para a concorrência.
* título de uma das novas palestras de Carlos Hilsdorf,
criada especialmente para este momento turbulento da
economia mundial. A palestra aborda tendências, cenários
e atitudes para que as organizações e profissionais
estejam preparados para enfrentar os desafios da
economia.
Carlos Hilsdorf
Considerado pelo mercado empresarial um dos melhores
palestrantes do Brasil. Economista, Pós-Graduado em
Marketing pela FGV, consultor e pesquisador do
comportamento humano. Palestrante do Congresso Mundial
de Administração (Alemanha) e do Fórum Internacional de
Administração (México). Autor do best seller Atitudes
Vencedoras, apontado como uma das 5 melhores obras do
gênero. Presença constante nos principais Congressos e
Fóruns de Administração, RH, Liderança, Marketing e
Vendas do país e da América Latina. Referência nacional
em desenvolvimento humano. www.carloshilsdorf.com.br