Delegação e Delargação
Por Luís Sérgio Lico
18/04/2010
Como hoje é fácil mandar. Tudo é sinérgico, assertivo,
estratégico e voltado para ações que produzam
resultados. Em outras palavras, a lógica é de mandar
fazer. Aliás, você não mandou em ninguém hoje? Pare de
perder tempo! Faça um curso on-line de liderança e saia
na frente. Num mundo onde os processos parecem ter
dominado o ecossistema produtivo, temos esta realidade
mais escancarada. Dentro de uma unidade produtiva ou de
serviços, em suas subdivisões, todo mundo pensa que sabe
alguma coisa só porque acessa a web. Isto vale, também,
que estão na vanguarda da liderança, pois já fizeram um
Ead e agora estão aptos a mandar em nós.
Mas, estes não são os piores. Apenas os que do auge de
sua alienação, gritam seu desespero. O caso clássico é
aquela pessoa que está já há algum tempo na empresa e
pensa que lidera, quando na verdade, desconhece que a
essência da liderança não é ter lido o banal Monge e o
Executivo, mas saber delegar corretamente, entre muitas
outras coisas.
Quer um exemplo? Imagine uma empresa onde a equipe da
manutenção possui cerca de 50 funcionários cada um com
sua responsabilidade, que o gestor não os acompanha,
porque tem relatórios a fazer ou está abaixo de sua
dignidade tratar com a equipe. No papel, tudo planejado,
PDCA rodando e na vida real, vários erros no setor.
Quando finalmente são identificados, o próprio gestor
prefere ir resolver a ter que chamar a atenção do
funcionário. Se não dá para fazer, a solução é delegar
essa função ao supervisor. O programa de Avaliação de
Desempenho é respondido pelo próprio como 100% para toda
a equipe e a diretoria fica confusa quando os resultados
não batem e resolve endurecer contra os clientes, pois
eles “só reclamam”. Mas, a verdade é: As pessoas estão
deixando de viajar em nossos ônibus, porque eles quebram
muito.
Quer mais? Noutra empresa, as reuniões gerenciais são
realizadas mensalmente, os gestores se reúnem junto a
diretoria para apresentar indicadores e resultados do
setor. Não raro a diretoria se depara com indicadores
desatualizados, informações incorretas, inconsistentes e
o gestor não sabe responder aos questionamentos. Sendo
assim podemos concluir que não houve uma análise como
deveria ter sido feita. Quando o responsável é prensado
contra a parede ele se safa com as pérolas: - Eu pedi ao
fulano para totalizar as planilhas, mas não consigo
fazer eles acertarem. Tenho que fazer tudo sozinho. O
processo está errado, precisa mudar. Falta pessoal etc.
Como podem ver, o caso não é de delegação, mas
delargação. Ela funciona de uma maneira muito simples:
Eu sou o chefe e você subordinado. Pega e faz aí, eu
estou ocupado com tarefas importantes. O que recebeu,
por sua vez, se tem algum poder, repete a frase e, no
final um trabalho que exige perícia, competência e
liderança, está deixando de ser feito. Na melhor das
hipóteses está sendo conduzido por uma pessoa sem
comprometimento nenhum (e que reclama com razão do
excesso da carga de trabalho). É fácil falar. Deixar uma
dúzia de palavras no ar e, depois ir embora achando que
todos entenderam e que farão conforme você pensa. A
única coisa que ocorrerá será o infame deixa que eu
deixo. Liderar envolve checar suas fontes, é o básico.
Delegar é passar responsabilidades, atribuições e também
autonomia. Isto significa que se você não preparou a
pessoa para receber estas tarefas, tudo irá mal. O
líder, também é obrigado a repartir seu conhecimento e
tempo, para estabelecer canais de qualidade e pontos de
escuta, em todas as fases do processo. Não apenas dizer:
estamos na etapa B, então iremos para C. O processo é
cego, enclausurado em si mesmo. Por isso existe a
necessidade de pessoas para operá-lo e líderes para
guiar as pessoas, rumo a melhores resultados. Isto quer
dizer que além da receita, se busca a melhoria contínua
e a qualidade de vida. O gestor que passa o dia a
preencher requisitos e formulários e se esquece da
entrega de resultados tangíveis, falha do início ao fim.
Tente ver as coisas por este ângulo, antes de imaginar
qual sua próxima desculpa ao diretor. Não se esqueça
que, no mundo onde estamos, ela pode ser a última.
Luís Sérgio Lico é Palestrante e Conselheiro
Organizacional. Mestre em Filosofia e Especialista em
Gestão do Comportamento. Autor dos Livros: O
Profissional Invisível e Fator Humano.
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