Determinação e Comprometimento
Por Jerônimo Mendes
15/12/2008
Poucas coisas motivam tanto o ser humano quanto a
possibilidade de fazer sucesso e, consequentemente,
amealhar uma quantia razoável de dinheiro. É óbvio que
existem comportamentos motivados por coisas menos
estimulantes como ajudar um parente distante que há anos
não aparece, mas lembra de você quando precisa de
dinheiro, ou mais preocupantes e, por vezes,
intransferíveis como, por exemplo, emprestar dinheiro
para os pais ou os filhos em momentos de dificuldade,
mesmo sabendo que esse dinheiro nunca volta para as
nossas mãos.
Imagine se você recebesse a promessa de ganhar um milhão
de reais para realizar um curso superior de suma
importância para o seu país desde que você nunca
faltasse a uma aula sequer e suas notas fossem
superiores a 9.0 durante o tempo em que permanecesse na
universidade. Você acredita que conseguiria?
Apesar de você dizer que sim, o fato é que 4 ou 5 anos
de espera é muito tempo para alguém manter a disciplina
e abrir mão de prazeres imediatos por conta de um futuro
distante enquanto a mídia despeja no seu ouvido, de 15
em 15 segundos, que você pode ser feliz agora e a
felicidade está ao seu alcance na casa lotérica, no show
do milhão ou na concessionária de veículos mais próxima.
Agora, imagine se o seu único filho estivesse acometido
de uma doença rara e o tempo de vida dele não fosse
superior a 5 ou 6 anos, além de o tratamento ser
disponível somente no exterior e custar um fábula de
dinheiro. Se a pessoa que você mais ama no mundo
estivesse em perigo, você conseguiria manter a
disciplina e o esforço necessário para conseguir um
milhão de reais?
Se a realidade fosse algo parecido com isso,
provavelmente, moveríamos céus e terras para manter a
disciplina, seríamos capazes de dormir sobre os livros
e, se necessário, acordaríamos cedo todos os dias com
aquela vontade inabalável de não chegar atrasado à
escola. Possivelmente, faríamos tudo para alcançar a
nota recomendada e assim ter direito ao prêmio no final
do curso.
Ao reconhecermos o fato de que temos plenas condições de
assumir um compromisso, admitimos também a capacidade de
cumpri-lo até o fim. É questão de determinação e
comprometimento. A grande realidade é que, para
conquistar o respeito e a confiança alheia, precisamos
encarar os compromissos com extrema seriedade. Em geral,
por natureza, o ser humano é o campeão da desistência,
da falta de comprometimento, da procrastinação e das
justificativas sem fundamento enquanto a vida vai
passando furtivamente diante dos seus olhos.
Penso que poucas pessoas ouviram falar de Bill Joy,
criador de uma das linguagens mais utilizadas em
computação - a Java - e também conhecido como o “Edison
da Internet”, uma alusão a Thomas Edison. Seguramente,
Joy é uma das personalidades mais influentes do mundo da
computação. Foi ele quem escreveu a maior parte do
software que nos permite acessar a Internet.
Na década de 1970, aos 17 anos, Bill Joy entrou para a
Universidade de Michigan, a única que oferecia um Centro
de Computação arrojado para a época, quando foi
contagiado pela mania de programação. O centro
funcionava 24 horas e Joy ficava por lá durante a noite
toda. Voltava para casa a pé nas primeiras horas da
manhã. Para se tornar um expert no assunto, estava
determinado a aprender e, por conta disso, chegava a
passar de 8 a 10 horas programando todos os dias. Às
vezes, adormecia sobre o teclado. Durante 5 anos na
Universidade foram mais ou menos dez mil horas de
programação. Pura determinação. Trinta anos depois, o
mundo da Internet continua reverenciando Bill Joy.
De acordo com o psicólogo Michael Howe, as obras
iniciais de Mozart não são nada excepcionais. As
primeiras peças do músico foram escritas por seu pai e,
provavelmente, aperfeiçoadas durante o processo. Muitas
composições de Mozart durante a infância são em grande
parte arranjos para obras de outros músicos. De todos os
concertos mais antigos, apenas um é considerado uma
obra-prima e, acredite, foi criado quando Mozart tinha
21 anos, portanto, uma informação muito diferente
daquela que retrata o gênio tocando piano aos 5 anos de
idade em Amadeus (o filme). Nessa idade, Mozart já vinha
compondo concertos há mais de 10 anos.
Segundo Malcolm Gladwell, jornalista norte-americano,
Mozart – o maior prodígio musical de todos os tempos –
só conseguiu atingir a plena forma com dez mil horas de
treinamento. Para Gladwell, a prática não é aquilo que
uma pessoa faz quando se torna boa em algo, mas aquilo
que ela faz parar se tornar boa em algo. Para Mozart,
determinação e comprometimento significavam a perfeição.
O terceiro e último exemplo vem dos (The) Beatles. John
Lennon e Paul McCartney começaram a tocar juntos em
1957, portanto, 7 anos antes de pisarem em solo
norte-americano e suas maiores realizações artísticas –
Sgt. Pepper’s Lonely Hearts Club Band (1967) e The White
Album (1968) – aconteceram somente 10 anos depois de
suas primeiras apresentações.
Em 1960, ainda restritos ao mundo do rock do ensino
fundamental, os Beatles foram convidados para se
apresentar em Hamburgo, na Alemanha. Muitos grupos de
rock que se apresentavam nas boates e casas de show em
Hamburgo eram de Liverpool, segundo Philip Norman,
biógrafo dos Beatles. O que havia de especial em
Hamburgo? Nada, a não ser o fato de que deveriam tocar
horas a fio sem parar perante uma platéia indiferente,
entretanto, a quantidade de tempo que a banda era
forçada a tocar foi determinante para torná-los melhores
e mais confiantes. Em Hamburgo, foram oito horas por
dia, sete horas por semana e 270 noites em apenas um ano
e meio de apresentação. Finalmente, em 1964, quando o
mundo se rendeu aos Beatles, eles já haviam se
apresentado ao vivo cerca de 1200 vezes. Pura
determinação e comprometimento com um objetivo de vida.
O que é que você tem a ver com tudo isso? Não existe
esse tal de almoço grátis. A vida é um eterno dar e
receber, portanto, a exemplo dos Beatles, Mozart e Bill
Joy, além de outras centenas de pessoas ilustres que
tanto admiramos, a vida é uma questão de determinação e
comprometimento em tudo o que fazemos. Em ação, a lei da
compensação. Todo o esforço tende a ser recompensado, de
alguma forma. Quando aliado à oportunidade, o êxito é
apenas uma questão de tempo.
Lembre-se de que os problemas são comuns a todos os
seres humanos na Terra. Um dia da caça, outro do
caçador; um dia no topo, outro no vale; a vida é feita
de altos e baixos para o nosso próprio crescimento
pessoal. Portanto, levante todos os dias querendo ser
testado, promovido, convidado para fazer parte de um
projeto, de novos desafios, agraciado com novas idéias e
realizações.
Viva todos os dias como se fosse o último e faça do dia
seguinte um dia sempre melhor do que o dia anterior.
Descubra qual é a sua missão de vida e se entregue
verdadeiramente naquilo que faz. Coloque o seu coração e
a sua alma em todas as suas realizações. Procure
promover o bem das pessoas ao seu redor. Seja íntegro,
assuma a responsabilidade pelos seus atos, enfrente a
realidade e nunca se curve diante das dificuldades. Elas
são o caminho para um futuro melhor.
O mundo não é apenas violência, sacanagem, fofoca,
televisão, fantasia e consumo exagerado. Somos mais
fortes do que a hipocrisia do mundo. As palavras de Ken
Blanchard, co-autor de O Gerente Minuto, são apropriadas
nesse momento: há uma diferença entre interesse e
compromisso. Se você está interessado em fazer alguma
coisa, você a faz apenas quando lhe é conveniente.
Quando está comprometido com a realização de determinada
coisa, você não aceita desculpas, apenas resultados.
Pense nisso e seja feliz!
Jerônimo Mendes é Administrador, Consultor e Palestrante
Autor de Oh, Mundo Cãoporativo! (Qualitymark) e Benditas
Muletas (Vozes)
Mestre em Organizações e Desenvolvimento Local pela
UNIFAE