A Difícil Missão do RH
Por Jerônimo Mendes
05/01/2009
Em tempos de crise, a missão mais difícil geralmente
sobra para a equipe de RH. Alguém lá em cima decide
cortar 10% do efetivo e o DP, que até então era
conhecido como RH, assume a difícil tarefa de comunicar
as demissões em massa, sem muito alarde e com muito
jeitinho, é óbvio, para não causar a impressão de que a
empresa está com problemas. Nada de pânico, é apenas um
procedimento de rotina, pois o mercado mudou, ou seja, a
crise chegou na empresa e os ajustes são mais do que
necessários.
Não é difícil distinguir a missão da área de Recursos
Humanos da missão do Departamento de Pessoal. Como eu
sempre digo durante as palestras, as pessoas são
admitidas pelo RH, com direito a crachá, plano de saúde,
VR, vale-transporte, etc., porém, em caso de demissão,
elas são encaminhadas para o DP, o qual tem a árdua
responsabilidade de retirar tudo isso e ainda lhe
desejar boa sorte.
Isso demonstra o maior ou o menor grau de importância de
uma área que, em princípio, é vital para qualquer
empresa, afinal, são as pessoas que fazem as coisas
acontecerem. Não existe nada mais gratificante do que
gerar empregos, admitir pessoas e sustentar milhares de
famílias, entretanto, a demissão é algo difícil mesmo
para quem está acostumado com ela.
Em geral, a demissão em massa causa maior impacto, porém
é mais fácil de justificar. É a crise. Quando se decide
demitir um ou dois empregados, a missão sobra para o
superior imediato e o confronto entre as partes é quase
inevitável, afinal, precisa-se justificar o motivo, olho
a olho. Ao contrário, quando se demite uma quantidade
maior de pessoas, um simples comunicado pelo correio ou
ainda por telefone torna a tarefa um pouco mais
digerível.
O fato é que, em tempos de crise, mesmo que as empresas
não sejam completamente afetadas por ela, muitas
aproveitam a situação para promoverem os seus ajustes
internos e, nesse caso, salve-se quem puder. Aqui
deveria entrar em cena aquilo que tanto prezamos como
líderes: o senso de justiça. E convenhamos, não é fácil
fazer justiça quando você tem a equipe na mão e a
absoluta certeza de que cada colaborador dá o melhor de
si, afinal, todos foram treinados por você, o único que
conhece o perfil e a até mesmo vida particular de cada
um.
A menos que você seja desprovido de hormônios, não há
como manter a tranqüilidade numa situação como essa.
Independentemente dos motivos alegados pela direção,
fica para o RH a triste e difícil missão de colocar em
prática aquilo que já está decidido, portanto, resta
cumprir a tarefa sob pena de acabar fazendo parte do
mesmo pacote. Talvez o único consolo seja o fato de que,
sendo o RH o principal condutor dessa incômoda tarefa, a
própria equipe seja poupada, o que, em geral acontece.
Durante os meus 30 anos de carreira nunca vi alguém do
RH ou do DP se rebelar e dizer: - se for para demitir
toda essa gente, eu me demito antes! É a lei da
sobrevivência, cada um no seu quadrado. No apagar das
luzes, o RH, que resiste bravamente até o último minuto,
entretanto, até que o processo seja finalizado, passa
por maus bocados dentro e fora da empresa.
Em tempos de crise, o chefe ruim fica bonzinho e o chefe
bonzinho fica meio insensível. Pessoas difíceis se
tornam mais fáceis e até mesmo aquele sujeito que dizia
não para tudo acaba cedendo temporariamente aos apelos
do chefe para que ele chegue mais cedo e saia mais
tarde. Uma crise transforma as pessoas, motivo pelo qual
fica ainda mais difícil praticar o senso de justiça.
De fato, ninguém quer demitir pessoas. Todo mundo sorri
quando novas vagas são criadas, sinal de prosperidade,
entretanto, ninguém sorri quando alguém perde o emprego
ainda que seja seu inimigo. Aliás, conheci apenas um
profissional em toda minha vida profissional que tinha
enorme prazer em demitir sorrindo, porém o tempo
encarregou-se de colocá-lo no devido lugar. Ele não
resistiu à clava do destino, como dizia Napoleon Hill.
Por ocorrência da crise financeira mundial, tenho visto
um número cada vez maior de empresas utilizando a
prática da demissão em massa como a única alternativa
para suportar as novas condições de mercado. Nessa hora,
o papel do RH é fundamental para amenizar a situação e
alguns cuidados são necessários para evitar comoção
maior ainda do que a provocada pela própria notícia da
crise.
Eu tive a oportunidade de trabalhar em oito empresas
diferentes e de passar por inúmeras crises econômicas e
financeiras, o que me credencia a dividir um pouco da
experiência acumulada em relação ao papel do RH em
situações dessa natureza. E qualquer que seja a origem
das demissões, é sempre uma missão difícil que provoca
angústia para ambos os lados, portanto, como
profissional de RH ou dependente dele, tenha em mente o
seguinte:
1. Evite sofrer por antecipação; não demita nem se
demita antes do tempo; você não conseguirá reverter o
que já está decidido, portanto continue dando o melhor
de si;
2. Se as demissões são inevitáveis, o que deve
prevalecer é o senso de justiça. Contudo, isto nem
sempre é possível, por questões políticas e outras que
raramente conseguimos entender;
3. Nessa hora, a comparação é inevitável, portanto,
quanto mais justo for o critério de demissão, melhor a
aceitação por parte daqueles que deixam a empresa e
também dos que continuam na empresa;
4. Respeito e consideração é o mínimo que se pode
esperar de ambos os lados. Nada supera uma palavra de
conforto e otimismo em relação ao futuro, afinal, a vida
continua.
Ser um profissional de RH, ou mesmo de DP, significa
conviver com as alegrias e tristezas do mundo
corporativo. Logo atrás de uma onda de prosperidade
sempre surgem as crises, as fusões, as aquisições, as
incorporações e, então, o cenário muda. O que não deve
mudar é a disposição e o profissionalismo de quem
carrega a difícil missão de causar o menor impacto
possível na vida das pessoas que dão o sangue pela
empresa, mas, inevitavelmente, são afetadas nesse
processo. Pense nisso e seja feliz!
Jerônimo Mendes é Administrador, Consultor e Palestrante
Autor de Oh, Mundo Cãoporativo! (Qualitymark) e Benditas
Muletas (Vozes)
Mestre em Organizações e Desenvolvimento Local pela
UNIFAE