Diversificar ou Focar?
Por Thiago Cabrino
11/05/2002
Uma das questões que mais afetam as organizações, é a
das decisões voltadas à diversificação ou não das suas
atividades. Acompanhando diferentes casos em situações e
ramos diversos, pude constatar que este processo é
difícil, lento e muito meticuloso, por se tratar de uma
modificação contundente. Muitas empresas não estão
preparadas estruturalmente e muito menos financeiramente
para gerar uma nova frente de trabalho.
A diversificação, seja ela unilateral ou multilateral,
requer decisões extremamente fortes e centradas, e que
seus representantes possuam total gabarito para
sustentar uma nova situação e desta prosperar, sem
“afundar” a primeira.
As decisões de diversificação, surgem por motivos
múltiplos, podendo ser financeiros, estratégicos, de
risco, de emergência ou de investimento, entre outros,
mas de uma forma ou de outra, deverão ser realizadas de
maneira planejada, pois a diversificação causa para
muitos a perda de direcionamento e foco em seu campo de
atuação, fazendo com que a primeira organização acabe
por sustentar a segunda e por fim, ambas acabam por
sucumbir e fechar.
Um exemplo bem claro, aconteceu junto a uma empresa no
ramo de prestação de serviços que assessorávamos. Em seu
campo de atuação a empresa possuía uma posição
privilegiada, e seus administradores focavam todas as
possíveis ações com a intenção de promover e alavancar.
Esta tática foi dando certo, ao passo que sua expansão
se deu de forma rápida e eficaz, dominando a cidade em
que se situava e expandindo para outras, com um ótimo
feedback.
Assim se sucedeu, até o ponto em que um de seus sócios
resolveu diversificar. Com a expansão da empresa inicial
e com a confiança da estabilidade financeira e
econômica, resolveu investir em um produto de commodity,
que possui em todo o mundo uma forte influência de
cartéis que regulamentam e controlam o setor. A compra
da nova empresa gerou um alto desprendimento financeiro,
proveniente de um empréstimo requerido à primeira
empresa. Com a aquisição, reformas foram realizadas e
novos processos organizacionais foram surgindo.
Com o novo empreendimento, este sócio acabou se
afastando da sua área inicial, sobre a qual detinha o
conhecimento e o know how, dedicando-se à atual
atividade. Nós, como assessoria, a todo momento o
alertávamos dos possíveis problemas a serem originados
por essa fase e que a diversidade do grupo deveria se
dar de forma a atingir o seu segmento de atuação e não
realizar uma mudança radical em campos diferentes.
Infelizmente, obcecado pela empresa adquirida, o mesmo
não nos deu ouvidos e continuou a investir em seu novo
negócio.
Durante o primeiro ano, inúmeras dificuldades surgiram
como esperado. Por se tratar de um segmento altamente
controlado e influenciado por inúmeros outros
representantes de grande força e poder, nosso cliente
deparou-se com a necessidade de novamente diversificar
dentro da sua nova organização. Porém, esta
diversificação acarretou em mais investimentos que até
então deveriam ser realizados pela primeira empresa, já
que a segunda, ainda não estava com uma situação
econômica estável, a ponto de assegurar melhorias e
benefícios.
Assim se sucedeu, aportes e mais aportes de capital
diante de todo tipo de dificuldade passada. Em meio a
esta situação, resolvi esclarecer algumas dúvidas
técnicas/profissionais junto ao meu professor de
marketing, em meu MBA, busquei aclarar certas nuanças
mercadológicas e principalmente discutir o caso em
questão, para saber se o que inicialmente havíamos
conversado com o cliente estava certo, e em um âmbito
mais global, quais seriam as possíveis ações a serem
realizadas e se o desfecho poderia ser melhorado. Em
meio a esta reunião, constatei que a nossa atitude
estava correta, sendo o diversificar ou focar uma
questão extremamente importante organizacionalmente
falando, pois muitas empresas diversificam e perdem o
seu foco inicial, prejudicando suas bases e sua
estrutura como um todo. Após esta discussão, pude ainda
participar de uma mesa redonda com professores que
conversavam sobre este tema, e acabaram por me elucidar
informações de grande valia e principalmente me lançaram
idéias que culminaram com meus pensamentos sobre o tema.
Assim, voltando ao cliente, com uma situação já avançada
diante de seu negócio, de forma a mostrar que os
acontecimentos estavam a um passo extremamente caótico,
a decisão foi tomada: para não perder o patrimônio,
prestígio e principalmente, arruinar com a primeira
empresa, foi necessário reorganizar o foco, voltar atrás
e se desfazer do segundo empreendimento antes que esse
viesse a arruinar todo o grupo. Assim se deu, a empresa
voltou a focar-se em seu ramo inicial, buscando diminuir
as perdas e alcançar novamente sua posição no seu
mercado de atuação.
É claro, que este é um caso de insucesso diante de um
diversificação que mostrou um despreparo e uma miopia
organizacional e culminou em inúmeros prejuízos, muitos
desses irreversíveis a curto prazo. Porém é sabido que
esta é uma tônica em muitos mercados e a falta de foco
transforma verdadeiras fortalezas em pequenas barricadas
altamente frágeis e suscetíveis a alterações de mercado
e concorrência.
Por isso, quanto pensar em articular novos investimentos
organizacionais, pese sempre quais os pontos que poderão
a todo momento interferir em seu novo campo de atuação e
principalmente avalie a sua capacidade
técnica/profissional para atuar em um novo ramo, pois
engana-se aquele que acha que porque obtêm sucesso em um
tipo de segmento, conseguirá em qualquer outro, já que
são inúmeras situações superadas e experimentadas que
fizeram de seu trabalho um sucesso.