Elogio e Crítica
Por Rogerio Martins
23/10/2007
Elogio é bom e quase todo mundo gosta, mas a crítica...
No mundo corporativo é comum observarmos situações onde
as relações são baseadas na crítica e punição.
Estudos do comportamento humano atestam que desde
crianças nossos pais e os adultos com quem convivemos
tem papel fundamental para o sucesso de nossas carreiras
e ações pessoais. A quantidade de críticas e elogios que
recebemos podem ser cruciais para o nosso futuro.
Pesquisas da Psicologia revelam que pessoas que foram
expostas a ambientes de muita crítica e punição tendem a
desenvolver um padrão de comportamento de omissão e
submissão. Aceitam tudo e sentem-se constantemente
culpadas. Sua produtividade geralmente é aquém das novas
exigências do mercado. Quando é cobrado por algum
resultado se esquiva, dá desculpas ou chora. Outro
padrão de comportamento que pode ser gerado neste mesmo
ambiente é totalmente contrário. A pessoa age de forma
agressiva, defensiva e desafiadora. Quando é pressionada
tende a agir compulsivamente.
Já aqueles que foram demasiadamente elogiados apresentam
características de arrogância e prepotência. Acreditam
que o mundo estará sempre aos seus pés. Tratam os outros
como súditos. Desprezam as hierarquias e querem o poder
a todo custo. Apresentam dificuldades para compreender a
dimensão ética das relações.
O equilíbrio entre crítica e elogio na vida pessoal e no
mundo corporativo é fundamental para a geração de um bom
ambiente familiar e profissional. Algumas empresas
estimulam seus funcionários a sessões de feedback
programado. Outras estruturam diversos tipos de
avaliações, como: competência, performance, desempenho,
participativa por objetivos etc. Assim, tem mais chances
de apontar claramente os caminhos, cobrar resultados e
criar um clima organizacional favorável para as
mudanças. Em meio a tudo isso, é fundamental o
treinamento e desenvolvimento das lideranças. Ao líder
cabe o papel principal de estabelecer critérios e
aplicar as críticas e elogios. Com isso, garantir o
equilíbrio no clima organizacional e o aumento da
produtividade.
A crítica, na sua essência, significa exame, apreciação
que se faz de uma obra. Portanto, quando fazemos uma
crítica ela deverá ser sobre o conjunto da obra, uma
idéia, ações tomadas, fatos e não sobre uma pessoa. O
que ocorre muitas vezes no cotidiano profissional e na
vida social é exatamente o contrário. Por isso, a
maioria das pessoas tem dificuldade em aceitar uma
crítica, pois se sentem ameaçadas, punidas,
menosprezadas e até mesmo humilhadas.
Isso me faz lembrar da história vivida pelo Pedro, ou
como os mais chegados o chamavam: Pedrão. Sujeito
simpático, falante, sempre com um sorriso no rosto,
demonstrando sempre estar de bem com a vida. Sua
característica principal era a franqueza. Sempre falava
o que pensava. Certa vez Pedrão foi convocado para
participar de um projeto onde não tinha muita
experiência. Como seu chefe insistiu e disse que daria
todo apoio, Pedrão aceitou, afinal poderia ser mais uma
oportunidade de mostrar suas qualidades. O projeto
começou e nosso bravo personagem começou a perceber que
tudo aquilo não tinha nada a ver com sua área de atuação
e, por isso, precisaria de mais tempo para estudar,
aprender e poder colaborar no projeto. Certamente que
este tempo não foi lhe dado, afinal o prazo para a
entrega do projeto era muito curto e precisava de todo o
esforço dos envolvidos. O fato é que Pedrão não se saiu
muito bem. Perdeu dias debruçado em materiais, livros,
apostilas e relatórios para tentar entender o projeto.
Passava horas a mais na empresa para dar conta do seu
serviço e se inteirar do plano. Tudo em vão. O resultado
foi uma gastrite que passou a conviver com ele
diariamente e a briga homérica que teve com o
responsável pelo projeto. A gastrite não vem ao caso
detalhar, mas sobre a discussão...
Tudo começou quando Pedrão resolveu apontar algumas
falhas na condução do projeto. Na verdade, o responsável
pelo projeto realmente cometeu alguns erros no
planejamento e isso gerou certo atraso, mas não foi o
fator principal. Houve um misto de incompetência da
equipe, falta de experiência dos participantes, prazo
muito curto, falta de apoio da diretoria e outros
detalhes menores. No fim sobrou para o Pedrão.
Certo dia, no meio de uma das muitas reuniões de
planejamento - munido de boa intenção - tascou a famosa
“crítica construtiva”. Disse que o projeto continha
falhas graves e que achava não ser possível completar no
prazo estipulado. Apontou também a falta de habilidade
do coordenador em liderar a equipe. Sua forma direta e
repleta de “achismos” chocou a todos. Nesta reunião,
além do coordenador do projeto, estavam mais seis
pessoas de diversas áreas que completavam a equipe. O
resultado foi catastrófico! O responsável sentiu-se
ofendido e esbravejou: c omo alguém que não tem
experiência no assunto pode falar algo desse jeito,
ainda mais na frente de todo mundo?
Bem, a conclusão desta história é que crítica
construtiva é balela. Ela só será construtiva se o outro
assim entender. Se ele perceber sua utilidade. Quando
uma crítica é apontada, por melhor que seja a intenção,
somente o outro poderá julgar sua aplicação. Em resumo
crítica é crítica, ou seja, é apreciação desfavorável, é
apontar falhas, é censura. A forma como é feita pode
mudar muita coisa, até sua aceitação.
Sendo assim, antes de fazer uma crítica é fundamental
perceber se o momento é adequado, escolher o local
apropriado e analisar os resultados que esta ação poderá
gerar. Mesmo sendo a mais pura verdade, nem todos
entenderão assim. Quando tiver de fazer uma crítica vá
direto ao ponto e apresente fatos. Pois como diz a
sabedoria popular, contra fatos não há argumentos.
Voltando ao início deste artigo: criticar é fácil, já
elogiar... Lembre-se que em termos de crítica e elogio
vale a seguinte regra: critique em particular, só para
as pessoas envolvidas; e elogie publicamente, pois todos
sentirão orgulho de pertencer a uma organização onde as
pessoas são reconhecidas e valorizadas pelo seu caráter
e competência.
Rogerio Martins é Psicólogo, Consultor de Empresas e
Palestrante. Especialista em Liderança e Motivação.
Sócio-Diretor da Persona Consultoria e Eventos. Autor do
livro Reflexões do Mundo Corporativo. Membro do Rotary
Club de SP Santana (Distrito 4.430).