Energia ou Experiência
Por Jerônimo Mendes
01/12/2008
Há um dilema que ainda persiste na maioria das
organizações, em razão da competitividade avassaladora
que tomou conta da economia mundial: apostar as últimas
fichas na experiência dos mais velhos ou apostar novas
fichas na energia e no ímpeto dos mais novos?
Apesar de se tratar de uma questão meramente subjetiva,
considerando que a inteligência não tem idade e o
esforço é uma característica muito particular, o mundo
corporativo está recheado de exemplos de sucesso e
insucesso em ambos os lados. Entretanto, a pressão
exercida pelo mercado faz as empresas optarem cada vez
mais pela energia dos mais novos como a “salvação da
lavoura”.
Em termos de produtividade, executivos e profissionais
mais novos em geral são mais arrojados, menos
hesitantes, pelo simples fato de ter que mostrar
trabalho para conquistar o seu espaço, além de concorrer
de igual para igual com os mais experientes. Por conta
disso, é comum vê-los atropelar quem estiver pela frente
ainda que isso lhe custe mais adiante o cargo. Em termos
de liderança, salvo raras exceções, os mais novos ainda
têm muito que aprender.
Naturalmente, no auge da sua impetuosidade juvenil,
qualquer recém-formado se sente capaz de revolucionar o
mundo; portanto, a mínima possibilidade de crescimento é
suficiente para uma boa discussão. Se por um lado há
energia de sobra, por outro falta equilíbrio e visão de
longo prazo. Na prática, é impossível atropelar as fases
da vida profissional.
De qualquer maneira, os mais novos precisam ganhar
terreno, o que demanda uma postura mais agressiva e
interessada, por assim dizer. A observação pura e
simples dos fatos me diz que, a despeito da boa vontade
e da energia canalizada unicamente para resultados, eles
acabam atropelando o bom-senso, na maioria das vezes.
Contudo, não se pode ignorar o fato de que a força dos
mais novos traduz a impressão, por ora equivocada, de
que os mais experientes precisam ser substituídos para
“oxigenar” a empresa.
Em geral, apesar do esforço da gerência sênior para
manter o respeito entre dois profissionais tão
distintos, o conflito é apenas uma questão de tempo,
motivo pelo qual devemos explorar o segundo grande
dilema dos acionistas e donos de empresas: o que fazer
nesse caso? Aproveitar a experiência dos mais velhos ou
apostar na impetuosidade dos mais novos? Dar uma nova
oportunidade para os mais antigos, os quais se
mantiveram fiéis nos momentos mais difíceis, ou
simplesmente esquecer que eles existem, considerando que
os tempos mudaram?
Antes de responder a essa questão, vale destacar a
experiência japonesa sobre o assunto. É sabido que no
Japão dificilmente um profissional assume cargos de
liderança antes dos 40 ou 50 anos e um presidente de
empresa, antes dos 60 anos. O respeito pela sabedoria
dos profissionais mais experientes faz parte da cultura
milenar japonesa. Por essas e outras razões, o estilo
japonês de produção - organizado, sistemático e
planejado - faz com que os principais bens produzidos
naquele país – carros, aparelhos eletro-eletrônicos e
motos – sejam admirados no mundo todo.
Esse fato contraria muitas teorias que conspiram a favor
da renovação do quadro de profissionais com base na
idade. Tal constatação também demonstra que a construção
do aprendizado leva tempo, porém culmina com uma virtude
essencial no mundo dos negócios, a experiência, que fez
do Japão uma das economias mais prósperas do planeta.
Tenho acompanhado esse dilema com freqüência nas
empresas, o que me permite compartilhar a experiência
pessoal com algumas lições que considero fundamentais
para extrair o melhor da situação:
1. Entre a energia e a experiência, fique com os dois.
Mesclar energia e experiência é um grande desafio para
os gestores e, ao mesmo tempo, uma excelente maneira de
aproveitar o máximo das potencialidades de profissionais
extremamente producentes em fases distintas da vida;
2. Não estimule a concorrência desleal. Colocar alguém
para fazer sombra para os mais experientes (ou mais
velhos, na prática) é uma atitude deselegante, soa
desrespeito e falta de consideração pelo profissional
que, às vezes, precisa de um simples reposicionamento.
Seja honesto e direto com ele e o efeito será mais
benéfico.
3. Cada um no seu quadrado. Não tente sugar a energia
que os profissionais mais experientes já não apresentam;
tampouco exigir dos mais novos a experiência que eles
ainda não têm. Com um pouco de habilidade, metas e
objetivos bem definidos, além do diálogo aberto entre as
partes, será possível extrair o melhor de cada um e
estimular a convivência pacífica entre eles.
Por fim, lembre-se: o tempo não dá saltos. As fases da
vida profissional são diferentes e o ciclo de vida das
empresas alterna o tempo todo entre fracasso, mudança e
sucesso, independentemente do esforço e da idade dos
profissionais por ela contratados. O profissional
inescrupuloso que hoje dispensa outros, baseado
exclusivamente no critério da idade, amanhã será
dispensado também, geralmente pelo mesmo motivo, para o
bem da empresa e para o seu próprio bem. Pense nisso e
seja feliz!
Jerônimo Mendes é Administrador, Consultor e Palestrante
Autor de Oh, Mundo Cãoporativo! (Qualitymark) e Benditas
Muletas (Vozes)
Mestre em Organizações e Desenvolvimento Local pela
UNIFAE