As Escolhas de Mídia e o Varejo
Por Admir Borges
14/12/2006
O empresariado varejista tem à
sua disposição uma variedade de
ferramentas do mix de
comunicação, úteis para captar
clientes, alavancar e
incrementar vendas, gerar
tráfego, agregar valor à marca e
estimular as decisões de compra
do consumidor. Ele pode fazer
campanha institucional, de
promoção de vendas, de
liquidações, emissão de cupons
de descontos, realização de
sorteios. A utilização dessas
ferramentas deve cumprir os
objetivos de posicionamento e
imagem da loja. O estilo das
promoções, o conteúdo dos
anúncios, a definição da mídia,
tudo deve estar relacionado com
o perfil do público-alvo.
O mix de comunicação se compõe
de propaganda, publicidade,
relações públicas, assessoria de
imprensa, patrocínio,
merchandising, promoção de
vendas, venda pessoal e
marketing direto. Nesse
composto, a propaganda,
principalmente o comercial de
televisão, ganha um destaque
maior por sua relação com as
principais mídias. Ela
proporciona maior visibilidade à
marca e possui a capacidade de
atingir consumidores dispersos
geograficamente. No entanto, os
custos de produção e veiculação
costumam ser proibitivos para a
maioria das empresas.
As grandes redes varejistas
freqüentemente investem em
campanhas publicitárias de maior
peso, com mídia planejada e
negociada, em programação de
veículos de massa. Quase sempre
essas empresas divulgam os
produtos em oferta, como forma
de atrair grande número de
consumidores para o dia
seguinte. As lojas de menor
porte procuram meios de custos
mais baixos, como encartes,
tablóides, folhetos, volantes,
carro de som, pedágios ou
‘blitze’.
Além dessas alternativas, as
mídias se multiplicam a cada ano
e geram dúvidas no empresário,
que quer saber qual delas está
sendo a mais vista, qual dará
melhor resultado. A revista, o
rádio, a TV, o outdoor, a mala
direta, o tablóide de ofertas, a
revista de produtos e preços, o
catálogo, o encarte, a internet,
o busdoor, os painéis ou as
mídias extensivas? O varejista
sabe que não pode jogar dinheiro
no ralo, portanto é preciso
reduzir as possibilidades de
erro na escolha do veículo mais
adequado.
Os investimentos anuais da
propaganda de varejo, segundo
estudos da consultoria americana
Andersen Consulting, varia entre
3% e 7% das vendas totais. O que
se pode considerar como um bom
volume, mas os empresários,
apesar disso, não têm certeza
quanto ao retorno e à validade
do que foi investido, tanto em
termos de imagem como do
incremento de vendas e lucros.
Isso ocorre porque a maioria
deles define a propaganda como
algo abstrato demais para que se
possa medir os resultados. Esse
fato contrasta com as demais
ferramentas organizacionais
adotadas, como os recursos
humanos, a logística, a
tecnologia, os materiais, os
equipamentos e a estrutura
física em que o cálculo do
retorno sobre o investimento é
um pré-requisito para que se
aprove as despesas. A
propaganda, no entanto, tem um
tratamento diferente,
inexplicavelmente. Apesar disso,
os grandes redes não abrem mão
de anunciar suas promoções no
horário nobre da TV e encartes
nos principais jornais.
Para se avaliar o real impacto
do investimento em propaganda é
preciso proceder o cálculo de
contribuição das categorias de
produtos, de mercados e de cada
mídia (jornal, revista, TV,
rádio, tablóide...), e
identificar aqueles com altos
índices de resposta, para se
estabelecer o volume de
investimento. Por exemplo: numa
região em que há um grande
número de recém-nascidos,
deve-se dar ênfase à propaganda
para produtos com essa
pertinência e não para produtos
de camping. Nesse caso, a mídia
rádio pode ser bem mais adequada
que o tablóide. Também seria
útil analisar o papel de cada
item dentro de uma categoria.
Muitos varejistas costumam
ajustar o foco apenas naquele
item em promoção - uma marca de
detergente em pó, por exemplo,
dando pouca importância às
características de
canibalização, tráfego e trade
up de toda a categoria. Em vez
disso, seria mais correto
procurar entender como uma
categoria é capaz de apoiar uma
estratégia total da loja, ou da
rede, e posteriormente trabalhar
a seleção de um mix de itens que
atenda aos objetivos de melhoria
em vendas unitárias, de melhoria
de imagem do ponto-de-venda, de
preço e trânsito em loja.
Além disso, é preciso analisar e
reavaliar continuamente o mix de
divulgação, para garantir que
todas as formas de propaganda
tenham o foco ajustado no
consumidor-alvo e seja capaz de
atraí-lo para dentro da loja. O
empresário precisa ter certeza
de que a sua propaganda está
atingindo e influenciando as
pessoas que tomam a decisão de
compra e, também, se o impacto
da mensagem está construindo uma
marca de valor, capaz de gerar a
lealdade do público ao
ponto-de-venda.
Para os especialistas em
marketing, o objetivo principal
da propaganda não deve ser
incrementar vendas específicas,
mas, sim, alavancar vendas
lucrativas e agregar valor à
marca da loja. Pois, é muito
comum a propaganda de varejo
proporcionar acréscimo de
vendas, mas sem a compensação
devida dos custos. O desafio é
entender como uma categoria de
produtos pode apoiar uma
estratégia total da loja, para
em seguida selecionar um mix de
itens que atenda um ou mais dos
seguintes objetivos: melhoria em
vendas unitárias, em imagens da
loja ou de preço, ou em trafego
de consumidores.
Anunciar um produto de marca
líder pode ser a chave para
gerar mais oportunidades de
vendas cruzadas do que uma outra
marca comum, que pode alavancar
grande aumento de vendas
unitárias e não incluir, na
visita do cliente à loja, nenhum
outro item do mix. Assim sendo,
a marca geradora de tráfego,
deveria ser mais bem trabalhada
no processo de comunicação.
Dessa forma, o varejista precisa
saber se a propaganda está
atingindo e influenciado as
pessoas certas, ou seja, quem
realmente decide sobre o que e
onde comprar, e se o impacto da
mensagem está sendo capaz de
construir uma marca que mereça a
atenção, a lealdade e a
fidelidade dos consumidores. É
certo que fazer a avaliação da
eficácia da propaganda, bem como
testar e revisar novas
abordagens mercadológicas
constituem tarefas muito
complexas.
Essa é uma questão de suma
importância, pois muitos que
pensam estar trabalhando
tecnicamente suas mídias, na
verdade estão restritos a uma
melhor negociação com os
veículos, com descontos e
bonificações. No entanto, eles
não têm a informação se o
dinheiro está sendo bem
investido. Na maioria das vezes
não conseguem nem mesmo dizer se
a propaganda está alavancando,
ou incrementando vendas e
lucros, e, principalmente,
ajudando a desenvolver o valor
de sua marca.
Medir a eficácia da comunicação,
portanto, é uma necessidade
premente e isso precisa ser
feito de forma contínua. Os
estudos de acompanhamento de
indicadores ligados à
publicidade, devem avaliar
aspectos da lembrança favorável
e associação à marca, através de
quesitos como: impacto efetivo
(visto e reconhecido),
relevância (importância para o
consumidor sobre o que é
mostrado na propaganda),
persuasão (capacidade do
anúncio, ou comercial, de
aumentar vendas a curto prazo) e
diferenciação ( inferência de
atributos particulares à marca).
A comunicação tem a função de
acelerar o reconhecimento e a
imagem da empresa varejista,
pois deverá ser capaz de ativar
os diversos pontos da memória do
consumidor, com associações
favoráveis: liderança de preços
baixos, experiências adquiridas
na área de vendas e experiências
estimuladas.
Defende-se a idéia de que
atualmente a função básica da
propaganda não é incrementar
vendas, como a maioria das redes
têm feito, mas alavancar vendas
que sejam realmente lucrativas e
gerem retorno institucional para
o negócio. Isto, porque é muito
comum ver a propaganda de varejo
gerando acréscimo de vendas sem
qualquer compensação financeira
e corporativa.
Admir Borges, consultor
empresarial na área de
atendimento ao cliente e
Coordenador e Professor de
Pós-graduação de Marketing e
Comunicação da Uni-bh,
Universidade Fumec. e IEC-PUC.