Ética... por onde caminha?
Por Rogerio Martins
23/10/2007
Recentemente vivi uma situação inesperada e indigesta:
um de meus artigos foi clonado!
Tenho o hábito de navegar pela Internet para adquirir
informações para os artigos que escrevo, bem como
pesquisar como está a divulgação dos mesmos. Certo dia,
pesquisando em um site de conceituada empresa de
consultoria, vejo que um de meus artigos foi
indevidamente “copiado” e “colado”. É isso mesmo: o
“autor” simplesmente apropriou-se de um texto meu e o
divulgou com seu nome e informações pessoais. O único
trabalho que teve foi de alterar o título, que acredito
deve ter sido muito difícil para ele elaborar.
Este fato me fez pensar sobre um dos temas que mais
tenho recebido solicitações das empresas nos últimos
meses: Ética Profissional.
O que está acontecendo nas organizações? Será que as
pessoas vêm perdendo a noção sobre o que é moral e
ético? No mundo moderno onde as relações humanas estão
cada vez mais fragilizadas é comum vermos pessoas
apropriando-se do que não é seu. Muitas vezes sem
perceber que o que estão fazendo é crime.
Para facilitar a discussão deste tema vou utilizar a
definição de Robert H. Srour sobre ética e moral,
apresentada no livro Ética Empresarial. “Moral é um
conjunto de valores e de regras de comportamento, um
código de conduta que coletividades adotam, quer sejam
uma nação, uma categoria social, uma comunidade
religiosa ou uma organização. Enquanto ética diz
respeito à disciplina teórica, ao estudo sistemático, a
moral corresponde às representações imaginárias que
dizem aos agentes sociais o que se espera deles, quais
comportamentos são bem-vindos e quais não”.
A internet abriu um espaço novo para as relações
profissional e pessoal, mas o mau uso deste ambiente
reacende a discussão dos limites entre a ética e a
divulgação desenfreada de serviços e produtos e da
apropriação indébita de material para uso escolar,
particular e profissional.
Os casos são os mais variados possíveis: envio e
recebimento de e-mails particulares na conta da empresa;
chefe que apresenta um trabalho desenvolvido por seu
subordinado como seu; profissional que se apropria de
uma apresentação realizada por um consultor e a utiliza
para se divulgar internamente; funcionário que passa
horas navegando em sites que nada tem a ver com seu
trabalho; uso de equipamento de trabalho para pesquisa
de vagas em outras empresas.
É importante que o funcionário saiba diferenciar o que é
particular e o que é profissional. Algumas empresas
inclusive já adotam sistema de punição e demissão para
pessoas que usam indevidamente os recursos disponíveis.
Certa vez conheci um rapaz que atuava na área de
recrutamento e seleção de uma grande empresa e estava
prestes a se casar. Como era uma pessoa de poucos
recursos financeiros e detinha o poder de contratar as
empresas que forneceriam serviços de terceirização,
passou a receber alguns “presentinhos” para seu
casamento das empresas interessadas. A empresa descobriu
e o demitiu.
No âmbito acadêmico é travada uma árdua luta com os
estudantes para que eles deixem de lado o comodismo e
facilidade de subtrair textos e artigos para incorporar
em seus trabalhos escolares sem os devidos créditos. Há
casos de colegas professores que simplesmente
identificaram seu próprio texto em monografia
apresentada pelos alunos que orientava, sem que eles se
dessem conta do autor.
Vivemos uma crise de ética em nosso país. O correto
passou a ser ridículo. A pessoa que procura manter uma
postura ética é tratada como chata. Cobrar seus direitos
tornou-se uma tortura diária. E assim vamos vivendo
“felizes” com a famosa Lei de Gerson: para tudo se dá um
jeitinho, mesmo que isso ultrapasse a ética e a moral
vigentes.
Há várias formas de revertermos esse quadro surrealista,
mas todas elas passam por uma mudança de comportamento
de cada indivíduo. Perceber a si mesmo e rever seus atos
é um bom começo. Agir como uma velha frase nos ensina é
outro passo importante: faça aos outros o que gostaria
que fizessem com você. A atitude correta, assertiva,
garante que cada pessoa possa tratar o outro de forma
humana, íntegra, ética. Depende de cada um. Pensar antes
de agir que um pequeno ato poderá interferir em um
contexto maior é uma forma de contribuir para a
preservação da moral.
Para concluir transcrevo uma frase do Presidente da
Cable News Network, Tom Johnson: “Faça o que é correto.
Se você não está seguro, pergunte a si mesmo o seguinte:
‘Como estas ações seriam vistas se publicadas na
primeira página do jornal que os meus pais lêem?'. Você
não precisa mentir ou trapacear para ser bem-sucedido na
vida(...) .”
Rogerio Martins é Psicólogo, Consultor de Empresas e
Palestrante. Especialista em Liderança e Motivação.
Sócio-Diretor da Persona Consultoria e Eventos. Autor do
livro Reflexões do Mundo Corporativo. Membro do Rotary
Club de SP Santana (Distrito 4.430).