O Futuro de Seu Negócio - Como
Crescer sem Dor
Por Henrique Montserrat Fernandez
20/09/2007
Será o momento escolhido para o salto de crescimento o
mais adequado? Sabemos que ao mudarem as épocas, mudam
também as necessidades. Modismos surgem e morrem.
Encruzilhadas podem levar a direções muito diferentes e,
em negócios, não há lugar para “tentativa e erro”, pois
na maior parte das vezes não há volta.
Uma questão bastante delicada com relação ao futuro da
empresa diz respeito ao crescimento e à expansão. Seja
através da abertura de novas filiais ou de franquias,
compra de concorrentes, fusão com outras empresas,
parcerias ou mesmo abertura do capital na Bolsa de
Valores, esse processo deve ser muito bem estudado e
levar em consideração que a idéia de crescer deve estar
sempre lastreada na busca do lucro e da sobrevivência da
empresa. Não se deve jamais crescer “porque é a evolução
natural de um negócio”, sem estar suficientemente
preparado.
Muitas empresas, inclusive, crêem que devem encolher
antes de crescer, o que geralmente se chama de
“downsizing” (redução do tamanho) ou mesmo de
reengenharia.
Os defensores dessas práticas as consideram medidas
salvadoras a fim de reformar organizações “inchadas” e
ineficientes. Quando bem utilizadas, essas técnicas
conseguem ser eficazes na melhora do desempenho da
empresa, quando não (e infelizmente a maioria das
empresas não sabe utilizar essas ferramentas), são
desastrosas e servem apenas para gerar desemprego em
massa, com agravamento da crise.
A fim de evitar um “desperdício de energia” gratuito,
autores do porte de Dwight Gertz e João Baptista, da
Mercer Management Consulting, vêm desmontando alguns
mitos amplamente enraizados no meio empresarial. Em seu
livro “Crescer para Lucrar Sempre”, de 1995, são
tratados alguns deles:
O Crescimento é comum: A mídia e as pessoas costumam
considerar, em épocas boas, que a maioria das empresas
está crescendo, enquanto algumas poucas “problemáticas”,
não. Isso é um erro. Segundo os autores, o crescimento
lucrativo é bastante difícil de ser obtido: “A taxa
composta anual de crescimento da receita para a lista
das 500 maiores empresas de produção da [revista]
Fortune entre 1983 e 1993, ajustada pela inflação, foi
de –0,33%. As 500 maiores empresas de serviços da
Fortune, tiveram melhor resultado, com taxa de 2,2%
comparada à taxa de 2,8% da economia como um todo.”
Muitas empresas inflam suas estimativas de crescimento
nos planos estratégicos e, infelizmente, poucas
conseguem atingi-las. A mídia em geral se baseia nessas
projeções passadas pelas empresas e pronto! O mito está
criado.
Estamos encerrando um breve e incomum período de
downsizing – os tempos “normais” virão em breve:
Infelizmente, basta um “espirro” na economia para várias
empresas saírem enxugando seus quadros funcionais.
Segundo os autores, “o crescimento das vendas, das
margens e dos retornos sobre os ativos vem diminuindo
consistentemente ao longo dos últimos 40 anos [1954 a
1995 –N.A] entre as 1.000 maiores da Fortune.” Ou seja,
não há tempos “normais”. O que ocorre são períodos
melhores seguidos de piores, de forma cíclica. Se a cada
período de baixa as empresas correrem a diminuir seus
quadros de funcionários, elas apenas estarão alimentando
o ciclo indefinidamente. Afinal, não podemos esquecer
que os funcionários também são nossos clientes.
É a economia: A economia é sempre o bode expiatório das
empresas para desculparem-se por seus baixos índices de
desempenho. Apesar de as oscilações na economia
realmente afetarem o desempenho de um mercado através de
variações na oferta e demanda, segundo os autores,
muitos executivos utilizam, sem razão, a velha desculpa:
“Quando as coisas ficarem melhor, nós ficaremos melhor.”
Entretanto, Gertz & Baptista defendem (muito
acertadamente), após análises realizadas em dados
americanos desde os anos 30 do século XX, que o
crescimento ou queda do PIB não influencia empresas
individuais, ou mesmo certos setores econômicos. É uma
questão mais psicológica do que real, a situação
econômica de um país, para o desempenho de suas
empresas. Como exemplo, basta lermos nos jornais, mesmo
durante os piores momentos de crise, que há empresas
criativas que lucram muito durante essas épocas. É
nestas empresas que você deve espelhar a sua e não nos
derrotistas de plantão, que vivem a esperar “tempos
melhores”, sem aproveitar as oportunidades que lhes são
apresentadas hoje.
As grandes empresas não podem crescer: Muitos acreditam
que as inovações não conseguem surgir em grandes
empresas, devido ao “engessamento” burocrático e que,
portanto, o crescimento dessas organizações se
inviabiliza.
Apesar de em muitos casos isso ser verdade, estudos dos
autores comprovaram que mesmo empresas com receitas de
vários bilhões de dólares podem estar entre as que
crescem mais.
Citam os exemplos da Wal-Mart, que registrou um
crescimento anual de 23% nos cinco primeiros anos da
década de 90, da Hewlett-Packard, que praticamente
quadruplicou de tamanho numa década, e da Motorola, que
de 1994 a 1995 apresentou ganhos de receita de 22% e de
31% de 1993 a 1994. O que alavancou essas empresas nas
listas das mais bem sucedidas deveu-se não ao seu
tamanho, mas sim ao seu “espírito empreendedor” e a sua
“vitalidade”, mesmo sendo empresas que estão na
“terceira idade”.
Nós estamos em um setor de atividade morto (“sem
crescimento”): Mais uma desculpa, conforme os autores.
Apesar de difícil o crescimento num setor “que sofre de
capacidade excedente, demanda declinante, sindicatos
poderosos e regulamentações pesadas”, os autores
encontraram algumas empresas com crescimento de até dois
dígitos!
É a empresa que importa, não o setor em que ela está.
Uma grande empresa de um setor fraco muitas vezes é mais
lucrativa que uma boa empresa de um grande setor. Não
podemos esquecer, por exemplo, que em tempos de
impressoras a laser, poucos usam papel carbono, mas,
mesmo assim, a empresa Helios Carbex S/A lucra com ele.
A maioria das grandes empresas deve seu crescimento às
aquisições: Apesar de servir como meio rápido de
crescimento de algumas organizações (por exemplo, nossos
bancos, vorazes em aquisições nos últimos anos), para
outras traz mais problemas do que benefícios. Segundo os
autores, “embora as aquisições sejam uma forma de
crescer, elas estão muito longe de serem o único
caminho. E mais, para aquelas empresas que buscam
crescer através de aquisições, o risco de fracasso é
alto.”
Os autores reconhecem que, em geral, são os acionistas
da empresa adquirida que lucram com a operação de
aquisição e não os acionistas da compradora: “O fracasso
de algumas aquisições pode ser atribuído a um
planejamento medíocre pré-aquisição – a empresa errada
foi comprada ou o preço era muito alto.”
Como sempre digo (e o texto dos autores corrobora minha
opinião), as falhas que fazem um negócio naufragar são
essencialmente humanas. Executivos, como qualquer
pessoa, cometem erros. O problema é que muitos deles se
acham infalíveis, confiam demais em seu “feeling” e
acabam prejudicando, algumas vezes até afundando, as
empresas por eles comandadas (e, por tabela, afetando
todos os acionistas, funcionários, clientes,
fornecedores e a sociedade em geral, delas dependentes).
Com razão, os autores lembram que “aquisições
estratégicas bem executadas podem proporcionar mercados
poderosos e benefícios competitivos.”
O corte de custos prepara o cenário para o crescimento:
Os autores afirmam que “a transição do corte de custos
ao crescimento é aparentemente muito difícil”. Segundo
eles, “daquelas empresas que identificamos na lista da
Fortune 1000 como tendo crescimento lucrativo de 1990 a
1995, apenas 7% foram cortadoras de custos no período
anterior de cinco anos.”
Apesar de os autores não mencionarem o motivo de tal
dificuldade, a verdade é que a resposta está mais uma
vez na arrogância de certos executivos, que crêem ter
respostas para tudo, e acabam por cortar custos nos
lugares errados. Já vi muito disso em meus anos de
atividade. Em geral, a folha de pagamento e os
benefícios (essencialmente incentivadores) eram dos
primeiros a serem atacados, e os executivos não
percebiam a perda de conhecimento (ver meu artigo A
Perda do Conhecimento da Empresa Originada pelo Alto
Turnover) que causavam à empresa com a saída de pessoal
e com a desmotivação dos que ficavam. É natural que, com
um decréscimo do conhecimento da empresa, a tentativa de
crescer através da redução de custos não se concretize,
além do que, profissionais desmotivados não vêem razão
para “vestir a camisa” e favorecer o processo de
crescimento. A idéia de reduzir os custos é fabulosa e
deve ser sempre implementada, a fim de aumentar a
competitividade, mas nunca através da perda de algo tão
importante como o conhecimento da empresa e a motivação
de seus colaboradores.
Gertz e Baptista alertam em seu livro que esses mitos
podem tornar-se bastante nocivos quando considerados
como verdadeiros pelos executivos, que basearão suas
formas de gestão neles, ocorrendo então “estratégias
equivocadas, desperdícios de milhões de dólares e
incontáveis desgastes de energia humana”. Os autores
crêem que o perigo real desses mitos está em que eles
criam uma mentalidade de “as coisas estão fora de nosso
controle” e, portanto, não há por que esforçar-se para
mudar.
Os autores chegaram a três estratégias básicas que são
utilizadas por algumas empresas de sucesso, isoladas ou
em conjunto, a fim de atingir o crescimento lucrativo em
meio a dificuldades:
• Gerenciamento de franquia do cliente - segundo Gertz e
Baptista, “franquia do cliente” é “a carteira de ativos
do cliente com o qual uma empresa goza de um
privilegiado relacionamento e para quem a empresa dedica
seus esforços para criar e entregar valor”.
• Desenvolvimento superior de novos produtos (ver meu
artigo Inovação é a Solução para um maior detalhamento).
• Gerenciamento dos canais de distribuição.
Através do valioso auxílio de Gertz e Baptista, podemos
afirmar que, qualquer que seja sua idéia para promover o
crescimento da empresa, é indispensável não cair na
tentação de acreditar nos mitos empresariais por eles
enumerados, verdadeiras “camisas-de-força” de inúmeros
executivos de todo o mundo, bem como ter sempre em mente
que o sucesso será possível se sua empreitada estiver
baseada no conhecimento, na inovação constante, na
satisfação dos clientes e na cooperação de seus
colaboradores.
Henrique Montserrat Fernandez é Administrador de
Empresas com pós-graduação em Análise de Sistemas e MBA
em Tecnologia da Informação / E-management pela
Strong/FGV. Com 29 anos de atuação profissional,
trabalhou em empresas de médio e grande portes, tais
como Grupo Bonfiglioli, Copersucar e SENAC, entre
outras. Foi Gerente de Sistemas e Métodos da Zanthus,
tradicional fabricante de Terminais Ponto de Venda, onde
atuou por mais de seis anos. Foi também professor
universitário na década de 90.