O Futuro de Seu Negócio -
Empresas Familiares
Por Henrique Montserrat Fernandez
20/09/2007
Haverá um momento na vida de sua empresa, quando esta
estiver consolidada (ou esteja passando por
dificuldades), em que você terá de tomar uma decisão.
Como um filho que chega à maioridade, ela precisará
tomar um “rumo na vida” a fim de poder prosperar.
Grande parte das empresas brasileiras, incluindo grupos
enormes como Odebrecht e Votorantim, foram fundadas por
familiares entre si e várias permanecem assim até hoje.
A maioria das pequenas e médias empresas também.
Ser uma empresa familiar não é pejorativo, porém, muitas
vezes é perigoso. Mesmo quando a formação empresarial
dos sócios é consistente, podem ocorrer situações que
afetem negativamente a sobrevivência do negócio. Segundo
o professor Robert G. Donnelley, à época na Harvard
Business School, em seu clássico artigo A Empresa
Familiar, as seguintes “fraquezas da administração
familiar”, são as mais comuns:
-- Conflitos entre os interesses da família e os da
empresa como um todo: interesses dos membros da família
podem trombar com os interesses da empresa e esta poderá
ser prejudicada pelas decisões tomadas;
--Falta de disciplina, em todos os setores da
organização, em relação aos lucros e desempenho: este
problema também pode ser comum em empresas com poucos
proprietários, mesmo que não sejam familiares. Ocorre
quando é dada muita importância a um determinado
assunto, geralmente apreciado pelos sócios (ex.:
melhoria exagerada da fábrica e dos equipamentos,
através da aquisição de maquinários de última geração),
sem que haja um retorno proporcional a longo prazo para
a companhia;
-- Ausência de reação rápida a fim de enfrentar novos
desafios do mercado;
-- Prevalência do nepotismo, ou seja, “a promoção de
parentes não por merecimento, mas devido aos laços de
família” (coisa comum também em nossa política), é um
grande erro em qualquer organização. Os parentes devem
ocupar posições na empresa apenas se estiverem
preparados e bem treinados. A genética não os torna
automaticamente aptos para estarem na empresa. Se não
forem competentes, causarão menos estrago estando a
distância do negócio.
O artigo “Empresa familiar! Nada de errado, desde
que...” publicado no Jornal Administrador Profissional
de setembro de 2002, nos informa que “em todo o Brasil,
existem cerca de 4 milhões de negócios familiares, a
maioria na segunda geração. Estima-se que de cada 100,
30 chegam à segunda geração e apenas cinco à terceira.”
Esses índices de sobrevivência são assustadores.
***
Outro fator que ocasiona a quebra ou necessidade de
venda de vários negócios familiares diz respeito à
questão da sucessão. É comum os herdeiros do fundador
brigarem pelo controle da companhia, enquanto os
concorrentes avançam pelas laterais.
Casos de herdeiros incompetentes ou mal preparados, que
destruíram o legado do fundador, também há vários.
Para evitar essas ocorrências, os proprietários das
empresas familiares devem planejar com antecedência todo
o processo de mudança do controle para a geração
seguinte. Essencialmente, esse planejamento engloba
questões presentes no direito tributário, societário e
de família.
Há várias metodologias que podem ser aplicadas, entre as
quais profissionalizar a gestão da empresa através de
diretores e gerentes contratados, por exemplo, enquanto
o “conselho”, formado pelos sócios membros da família,
cuida de questões não operacionais. Para o administrador
contratado ficará também a “batata quente” de definir o
papel da família na condução do negócio.
No artigo citado anteriormente, do jornal Administrador
Profissional, é dado o conselho: “o ideal é redigir as
leis que norteiam as ações deste conselho, como
critérios para a entrada de familiares na organização,
benefícios e remuneração.”
O paternalismo encontrado nessas organizações é outro
grande entrave. Os donos não estão acostumados a serem
contrariados e vivem cercados por funcionários que estão
doutrinados a seguir qualquer ordem sua, por mais
equivocada que seja. Se você é um desses tipos de
empresário, trate de mudar rapidamente. Tenha em mente
que você não é o Senhor Supremo. A onisciência não
existe para ninguém e, se quiser que sua empresa
sobreviva, você terá de adaptar-se aos modelos
participativos de gestão. É o melhor remédio.
Na matéria “Empresa familiar busca apoio jurídico”, de
Clarissa Furtado, publicada na Gazeta Mercantil de
09/07/02, são mencionadas outras possibilidades de
efetuar a sucessão sem causar muita dor à empresa e à
família:
-- criação de holdings para cada um dos grupos
familiares, onde todos os membros da holding (empresa
que mantém o controle sobre outras empresas) são
obrigados a votar em bloco nas decisões relativas à
empresa principal;
-- o patriarca, dono da empresa, pode optar por doar,
ainda em vida, a propriedade aos seus descendentes,
ficando com o usufruto da empresa.
Entretanto, sejam quais forem os métodos escolhidos para
a sucessão, recorra sempre a um consultor jurídico, a
fim de conhecer os detalhes e a evitar preocupações
futuras com essa questão.
Henrique Montserrat Fernandez é Administrador de
Empresas com pós-graduação em Análise de Sistemas e MBA
em Tecnologia da Informação / E-management pela
Strong/FGV. Com 29 anos de atuação profissional,
trabalhou em empresas de médio e grande portes, tais
como Grupo Bonfiglioli, Copersucar e SENAC, entre
outras. Foi Gerente de Sistemas e Métodos da Zanthus,
tradicional fabricante de Terminais Ponto de Venda, onde
atuou por mais de seis anos. Foi também professor
universitário na década de 90.