Gestão Corporativa com Responsabilidade Social no Brasil
Wagner José dos Santos
25/09/2006
É bem consciente no Brasil que temos uma cultura de gestão das
empresas que o famoso “jeitinho brasileiro” predomina.
Neste modo de cultura dar-se bem com as pessoas, o bom
relacionamento informal, entre os colegas de trabalho é a tonica.
Privilegiamos as relações sociais informais.
A falta de profissionalismo aliada a uma cultura paternalista cheia
de privilégios e
burocracia resulta em um desempenho das atividades em que tudo é
nivelado por
baixo, principalmente as pessoas.
Temos uma estrutura hierárquica rígida, egoísta, imediatista e com
interesse individual acima dos interesses da empresa, com uma visão
negativa da competição saudável.
A competição pode e deve ser focada na capacidade que cada um tem em
contribuir e somar.
Uma visão negativa da competição, que se transforma em uma luta
entre egos inflados, faz com que as idéias, a criatividade, as
mudanças sejam muito difíceis de implementação.
Há medo de percorrer novos caminhos, de perda de um poder absoleto
ou de interesses.
O que assistimos é muita conversa e pouco comprometimento.
É comum o poder dominante tomar atitudes como; falar alto e
rapidamente, maneiras ásperas, indiferença às novas idéias,
interrupções, movimentos corporais evasivos, tom de voz controlador,
tamborilar os dedos, braços cruzados, comunicação não verbal de
desprezo, muita sensibilidade, boca fechada ao falar, olhar fixo e
distante, atitudes emocionais para provocar tensão no grupo,
comportamento paternalista tipo “ralhar”,
chamar a atenção de outro na frente do grupo, preocupação em arrumar
“culpados”, incapacidade para aprender o novo que contribui, fingir
que não ouve, posturas tipo “sabe tudo”, supervalorização de
pequenos detalhes, justificativas, modo prolixo ao falar, dispersão
e falta de foco no assunto, passividade, tarefas truncadas, o
conhecimento quando existe é um instrumento de exibicionismo
pessoal; tudo se transforma em problema.
As “conquistas” são feitas na base da “amizade”, das boas relações
sociais com o poder.
Competência e talento quando aparecem são vitimas da arrogância e da
ignorância.
Dá-se muito pouco valor ao trabalho realmente produtivo.
É a cultura da volorização das “relações e favores especiais” e da
formação de pequenos grupos que divergem.
A empresa não é um fator de formação da identidade da pessoa.
Para muitos é um local onde se fornece emprego, o sustento ou para
se conquistar
privilégios.
Deste modo as ações criativas, produtivas são proteladas.Conta-se
com o esquecimento.Não existe planejamento e motivação.
Em oposição temos o modo anglo saxão de gestão das empresas com um
grande apego ao trabalho, a formalidade, com valores individualistas
positivos, competição construtiva, e a iniciativa privada tem total
preferência para atuação profissional.
O trabalho é focado como missão.Tem uma razão de ser.
A necessidade de mudanças para melhor, da pesquisa continua, do
seguir novos rumos, do aproveitar e valorizar talentos e o sucesso
profissional são reconhecidos, valorizados e aplaudidos.
Trabalha-se em interação com o colega, para o departamento, a
empresa, o cliente,
junto com os fornecedores e toda a comunidade.
A comunicação é direta, mais aberta, há maior validação das atitudes
comportamentais e profissionais.
O que estas diferenças culturais influenciam o conceito e a pratica
da gestão corporativa com responsabilidade social?
No Brasil a dificuldade de implantar culturas de gestão
organizacional com fortes pontuações, como por exemplo, planos
estratégicos, cronograma, trabalho de equipe, assertividade, são
tarefas árduas, como também as ações de responsabilidade social em
que pesam os valores éticos, morais, culturais, ambientais, promoção
de voluntariado.
Cada vez mais lucro, natureza e responsabilidade social terão de
interagir de um modo positivo em que o foco é a valorização do ser
humano.
Deste modo muitas empresas brasileiras sob influencia internacional
acabam adotando dois caminhos na condução da sua gestão corporativa
com responsabilidade social.
Ao mesmo tempo procura seguir os princípios éticos racionais,
profissionalismo, imparcialidade, confiança, transparência,
credibilidade, crescimento sustentável, e por outro lado uma moral
oportunista, predadora, invejosa, um discurso para “inglês ver”,
privilégios especiais; uma trajetória empresarial do conhecido “vou
levar vantagem em tudo”, “qual o interesse por trás desta idéia”,
“ele é candidato”.É um vigiar mútuo, contínuo, que leva a um forte
stress e muito pouca produtividade.
Temos instalado um conflito entre dois modos culturais de gestão.
Este conflito fica dividido entre a pratica da integridade e o
oportunismo.
Se levarmos em conta que a predominância ainda é o oportunismo os
resultados
são empresas fragilizadas e imediatistas, com um ciclo de vida muito
pequeno ou a sobrevivência é do tipo “corda bamba”.
Entretanto é necessário ressaltar que cultura são valores que podem
ser mudados.
Não é algo estático.Há luz no fim do túnel.
Nossas bases corporativas estão sendo remexidas, as relações do
poder interno estão sendo questionadas, há menos níveis
hierárquicos, tentativas de dar maior autonomias aos funcionários
tem sido feitas.
Há maior valorização das iniciativas individuais em detrimento dos
cargos.
O poder cada vez mais se transfere do cargo para o funcionário
empreendedor.
As lideranças são promovedoras das idéias e tomam decisões
fundamentadas no talento, na competência.
Os profissionais precisam ter a coragem de quebrar estes paradigmas.
As enormes transformações na sociedade no mundo estão exigindo novas
posturas.
Estabelecer sólidos princípios de gestão com responsabilidade social
nas corporações é uma questão de sobrevivência.
Empresas com gestão de alto nível como Natura, Nutrella, O
Boticário, Itaú, Bradesco, Gerdau em que predomina o
profissionalismo, podem inserir com mais competência ações sociais,
agindo diretamente junto aos seus funcionários, clientes e
comunidades.
Em muitos casos assumindo toda a responsabilidade pelas ações.
Começam a ser praticados os valores éticos e morais, bem como uma
mentalidade que valorize a cultura da boa conduta empresarial, em
que a eficácia e o lucro honesto podem estar em sinergia com os
valores éticos nos negócios, morais, justiça, talento, criatividade,
formação educacional, saúde, patrocínios e preservação ambiental.
Aqui vale uma ressalva; devemos entender que responsabilidade social
não consiste em ações paternalistas e assistencialistas, mas um modo
mais talentoso e competente que integra a gestão dos negócios e o
lucro é parte integrante.
Vamos assistir uma grande modificação na cultura empresarial e na
sociedade brasileira.
Modificações específicas no contexto da organização pode acontecer
ao passar da gestão arcaica, obsoleta e que não funciona e em que os
tomadores de decisão atuam “individualmente”, para uma gestão mais
interativa, totalizante e com responsabilidade social.
Deste modo teremos nova gestão corporativa fundamentada em critérios
como; sustentabilidade e qualidade de vida, bem estar na cadeia de
valores de todo o processo de atendimento, intuição e compreensão,
produtos desenhados para o meio ambiente, embalagens recicláveis e
não agressivas, baixo uso da energia, eficiência ambiental, análise
das conseqüências para os clientes sobre tomadas de decisões na
produção e desenvolvimento de produtos e serviços, por exemplo, leis
que limitam a quantidade de açúcar, sal e gorduras trans, embalagens
claras e com as informações realmente importantes, estrutura não
hierárquica, processo de decisão participativo, comprometimento,
descentralização do poder, baixo diferencial de salário, sintonia
com a natureza, consciência que os recursos são finitos, valorização
da iniciativa, do talento, da competência, eliminação da poluição,
marketing mais educacional para o ato de consumo, finanças
preocupadas com o desenvolvimento sustentável, contabilidade
focalizando o meio ambiente, trabalho mais significativo, ambiente
de confiança e de mais justiça, diminuição das diferenças sociais.
Os primeiros passos para este novo modo já estão dados.A tarefa é
árdua.
E aquele que não tiver a coragem de mudar não tem futuro nem como
empresário muito menos como profissional.
Wagner José dos Santos - Consultor de Marketing -
wjseventos@uol.com.bre-mail, wjseventos@uol.com.br