Gestão de Mudanças - 13 Sugestões
Por Ernesto Artur Berg
01/10/2007
Essas técnicas – em grande parte – não são aplicáveis aos processos
adotados pela reengenharia. Esta parte do princípio de que é preciso
estruturar primeiramente métodos, técnicas e processos de trabalho,
e só então envolver diretamente as pessoas remanescentes que nelas
irão trabalhar. A qualidade total – na qual as técnicas sugeridas
neste artigo melhor se inserem – parte do princípio inverso: começa
por sensibilizar e envolver as pessoas, para depois modificar
processos e estruturas organizacionais.
1. Primeiramente estabeleça o real objetivo da mudança.
Infelizmente não é pequeno o número de empresas que primeiramente
efetuam uma série de mudanças, sem terem claramente definido o que
realmente pretendem com isso, e só depois se dão conta do
desperdício de tempo, trabalho e dinheiro, pois o retorno do esforço
despendido acabou sendo mínimo. Primeiramente defina os objetivos:
enxugar custos, agilizar serviços, melhorar a qualidade, implantar
nova tecnologia, descentralizar decisões, ampliar participação no
mercado, são apenas algumas das possibilidades entre tantas outras.
Poderão também ser vários objetivos simultâneos, o que exigirá
também maior esforço de planejamento e implantação e provavelmente
mais verba.
2. Planeje a mudança.
Agora defina especificamente o que será mudado, quando acontecerá
(data de início e fim), onde ocorrerá (em que serviço, setor,
departamento, diretoria), quem executará e quem será afetado, quanto
custará.
3. Faça contato com as pessoas-chave.
Pessoas-chave são aquelas que, de uma forma ou de outra, podem
ajudar ou influenciar positiva ou negativamente o processo de
mudança. Podem ser consultores que o orientarão e auxiliarão no
planejamento e implantação das mudanças. Neste caso, você terá de
trabalhar em total sintonia com eles em todas as fases, além de se
envolver plenamente e concordar com as ações a serem adotadas. Se
não for assim surpresas desagradáveis poderão ocorrer durante e após
a implantação.Outras pessoas-chave são: diretores (eles têm papel
decisivo), gerentes, supervisores, encarregados, líderes formais e
informais de grupos, especialistas e técnicos de grandes
conhecimentos em suas áreas. Estes poderão ajudá-lo ou dinamitar sua
idéia de mudança. Faça previamente reuniões individuais com cada um
deles e venda-lhes sua idéia em particular. Peça-lhes sugestões,
envolva-os, torne-os comprometidos com o seu projeto. Dessa forma
terá poderosos aliados, pois foram consultados previamente por você
inserindo em seu plano as sugestões e recomendações dadas por eles.
4. Ouça e envolva as pessoas.
Sempre que possível e desejável, ouça as pessoas que estarão
diretamente envolvidas com as mudanças. São em geral os técnicos,
especialistas, pessoal operacional: melhor do que ninguém, eles
podem sugerir modificações em rotinas, processos, métodos, além de
alertar para dificuldades e problemas, pois vivem essas situações
diariamente. Nas empresas às quais presto consultoria, tenho
observado que muitas das modificações proveitosas – que acabaram
redundando em economia substancial, melhoria de qualidade,
agilização e racionalização de processos – foram resultado de
sugestões do pessoal operacional, que antes nunca tinha sido ouvido.
Além disso, saber que a suas sugestões foram acatadas e implantadas
criam um maior senso de comprometimento e envolvimento por parte
deles, por sentirem que contribuíram com a mudança.
5. Promova reuniões.
Definido o plano e ouvidas as pessoas, chegou a hora de promover
reuniões com todo o corpo funcional envolvido.Poderá ser uma única
reunião com todo o pessoal, ou várias reuniões com um número menor
de pessoas: como achar melhor ou as circunstâncias permitirem. Nessa
ocasião deverá ser apresentado o plano definitivo de mudança. O
plano de mudança elaborado na sugestão 2 será aqui explicado em
detalhes à platéia: objetivo da mudança, o que será alterado,
quando, onde, custos, quem coordenará e quem será afetado pela
mudança. Inclua na apresentação alguns outros itens se julgar
necessário, desde que sejam relevantes para a situação. Para melhor
exposição didática você poderá utilizar retroprojetor, flip-chart,
videocassete, slides de powerpoint, multimídia ou algum outro apoio
audiovisual. Geralmente causam um impacto muito favorável, desde que
você saiba como e quando utilizá-los. Após a apresentação, deixe
espaço para esclarecimento de dúvidas e mesmo eventuais sugestões,
se elas se mostrarem pertinentes. Faça saber a todos que o plano
recebeu valiosa contribuição de muitos colegas presentes, que
enriqueceram o seu conteúdo.
6. Implante.
Por ocasião da implantação, siga os passos previstos no plano em
todos os seus detalhes. A implantação poderá começar em uma área
específica (uma determinada diretoria, gerência ou supervisão) ou em
um serviço específico (processo, rotina, equipamento) e gradualmente
se estender a toda organização, ou então iniciar simultaneamente em
todas as áreas e serviços, algo que certamente já foi previsto
antes. Quanto mais abrangente a mudança, mais complexa e difícil ela
se torna. Por isso, se por algum motivo não puder realizá-la de uma
só vez, implante-a aos poucos, por área ou serviço. A vantagem é que
você poderá corrigir falhas antes de efetivar a implantação em
outras áreas.A desvantagem é que você prolongará por mais tempo o
processo de mudança e poderá gerar maior ansiedade e tensão entre os
colaboradores. Cabe a você definir a melhor opção.
7. Treine.
Se promover reuniões é importante para sensibilizar e conscientizar
o pessoal da Necessidade da mudança, o treinamento, por outro lado,
é um dos fatores-chave de
sucesso de toda a operação. Ele é o elo que leva à abertura para um
novo comportamento e auxilia decisivamente no alcance dos novos
padrões estipulados.
Por treinamento não estou apenas me referindo ao realizado em sala
de aula, mas também a outros tipos igualmente importantes, como
treinamento on-the-job (no próprio local de trabalho), estágios,
palestras sobre o assunto, leitura de material, reuniões de
discussão, enfim, tudo aquilo que possa contribuir de maneira
prática e efetiva para a implantação da mudança. Fique atento ao
momento do treinamento: alguns talvez tenham de ser feito antes
mesmo da mudança efetivamente iniciar, como o domínio de um novo
equipamento ou processo, outros até mesmo depois dela, como o
reforço de conhecimento (know-how) ou reajustes de objetivos. O
treinamento continuado – isto é, antes, durante e após a mudança - é
a melhor forma de garantir uma transição eficaz do antigo para o
novo.
8. Acompanhe e oriente.
Acompanhamentos constantes e regulares, principalmente no início,
permitem identificar sem demora dificuldades e pontos de
estrangulamento que venham a ocorrer durante o processo. Na maioria
das vezes, são facilmente corrigíveis, se houver pronta atuação
sobre o problema. Importante também é que os gestores da mudança
(coordenadores) bem como os técnicos responsáveis por ela estejam
acessíveis a qualquer momento para orientar e prestar as informações
necessárias.
9.Avalie.
Por avaliar, entendem-se aqui os mecanismos de controle que permitem
analisar os resultados alcançados num certo período de tempo. Em se
tratando de mudanças, o prazo ideal para estabelecer avaliações é a
cada sete ou quinze dias. Caso haja discrepâncias entre o previsto
no plano e o efetivamente realizado, a avaliação deverá mostrar
isso, fornecendo subsídios que permitam redirecionar ações ou atuar
mais enfaticamente em determinados setores buscando corrigir o erro.
Cada ação planejada de mudança exigirá uma Folha de Acompanhamento
específica para aquele caso.
Anote o nome projeto e o que será feito. Ponha o nome do Coordenador
responsável pelo projeto como um todo (gestor).
Registre a data de início e término do projeto. Estabeleça as
etapas, que nada mais são que as ações necessárias para a
concretização do projeto. Nomeie uma pessoa responsável é pela
consecução de cada etapa. Poderá eventualmente ser a mesma pessoa
para todas as etapas ou diferentes pessoas – dependendo do que será
feito em cada etapa -, como um gerente, um técnico ou especialista.
Defina então o início e fim cada etapa; logo, a duração do projeto
todo será a soma da duração de todas as etapas.
Abra também um campo para Observações, que são anotações sobre o
andamento das ações, como conclusão da etapa no prazo previsto,
atrasos, dificuldades, mudanças de ações etc.
10. Esteja atento às resistências.
Tanto chefes de qualquer nível hierárquico como os demais
funcionários podem resistir, abertamente ou não, às mudanças.
Existem muitas causas, porém todas, ou quase todas, são de origem
psicológica. As principais causas são:
a. Insegurança. É o medo de trocar o certo pelo duvidoso. Ou seja, o
colaborador tem receio de mudar o trabalho que ele já conhece e
domina por algo novo e diferente, que poderá ameaçar tudo o que ele
já conquistou. Isso se aplica em quaisquer situações, tais como
mudanças de métodos de trabalho, novos processos de gerenciamento,
novo local de trabalho, novo layout, novo cargo ou função a assumir,
novos processos de produção, novo sistema de vendas, novo
equipamento, otimização e racionalização organizacional, enxugamento
de estrutura.
b. Desconforto e tensão. Ainda que a pessoa esteja devidamente
treinada para a mudança, no início – e durante um certo tempo – ela
poderá sentir algum desconforto, pois a novidade ainda não se
incorporou ao seu pensamento e modo de agir, podendo isso ocasionar
um comportamento de tensão e nervosismo.
c. Bloqueio. Não estou aqui me referindo ao bloqueio consciente e
premeditado, como boicote, sabotagem ou operação tartaruga, onde a
intenção é prejudicar ou mesmo invalidar uma mudança. Este aliás é
um risco passível de ocorrer,se a mudança for mal planejada ou mal
implantada. Neste caso deverão ser adotadas as medidas disciplinares
cabíveis ao fato. Mas aqui, especificamente, estou falando do
bloqueio psicológico.Ocorre quando as pessoas que sofrerão a mudança
não conseguem assimilar e acompanhar a nova situação devido ao medo
e tensão, mesmo que estejam empenhadas e convencidas da necessidade
da modificação.
Mudanças podem gerar atritos, insatisfações profundas e
desmotivação. A forma de contornar essas resistências é seguir as
sugestões previamente citadas.
11.Cobre as mudanças.
A ausência da atitude de cobrança é responsável por muitos fracassos
em gestão de mudanças. Realizam-se, muitas vezes, todos os passos
seqüenciais, adotam-se as técnicas certas, mas, na hora de cobrar,
isto é, de agir com espírito de firmeza e perseverança – além de
lembrar aos envolvidos o seu comprometimento com as mudanças
propostas -, tudo isso é esquecido e o entusiasmo inicial dá
lugar,aos poucos, ao esmorecimento e à falta de convicção. Todos
deverão estar continuamente imbuídos do espírito de mudança e
cobrar, de si mesmos, os resultados.
A mudança deve ser democrática na decisão, mas autocrática na fase
de implantação.
Isto é, na fase de planejamento, ouça os outros; por ocasião da
implantação, use de autocracia ou a mudança não se concretizará,
pelo excesso de palpites e achismos das pessoas que preconizam
catástrofes ou são adeptas do afrouxamento do processo.
Isso não significa que você não possa ou não deva mudar algo que
esteja dando errado durante a implantação. Faça alterações sem
hesitar, se necessário. Entretanto, é importante nunca perder de
vista o objetivo final, e nisso você terá de ser irredutível e
manter a cadência até a última etapa.
12. Em que tipo você se enquadra ?
Grosso modo, os chefes podem ser enquadrados em três tipos básicos
quanto às mudanças: o negativo, o neutro e o positivo. O gerente do
tipo negativo é semelhante ao dinossauro. Como esse réptil, o
gerente-dinossauro não reage aos novos estímulos do meio ambiente –
perdendo sua competitividade -, não se adapta às novas
circunstâncias e não tem capacidade inovadora. Ele prefere viver no
passado e relembrar as grandes conquistas de outrora. A
sobrevivência dele é de curto prazo e conseqüentemente acabará
extinto, como o seu colega dinossauro.
O segundo tipo de gerente, o neutro, é parecido com o camaleão.
Ambos têm uma certa capacidade de adaptação ao meio ambiente (o
camaleão assume as mesmas cores do ambiente em que se encontra e
ambos são dotados de uma certa dose de competitividade). Falta-lhes,
no entanto, condições de inovação. O gerente-camaleão consegue
sobreviver por algum tempo, mas, como não sabe inovar, futuramente
acabará estagnado e superado na organização. O último tipo, o
gerente positivo, é igual ao Homo Sapiens. Ele reage ao meio
ambiente, é competitivo, adapta-se às circunstâncias quando a
situação assim o exige e, acima de tudo, sabe inovar, criar e
transformar. Este gerente é o que sobrevive a longo prazo nas
organizações, já que adota a postura de constante
autodesenvolvimento.
Se você fizer parte do time dos dinossauros, meus votos de feliz
enterro. Se você for do tipo camaleão, ainda está em tempo de se
curar. Porém adotar as atitudes do gerente positivo irá não apenas
fazê-lo sobreviver, como também capitanear as mudanças em sua
organização. A sugestão 12 é exatamente esta: seja um gerente
asa-delta e sobrevoará comsegurança às tempestades provocadas pelas
mudanças do mundo globalizado.
13. Cuidado com as mudanças que não são mudanças.
Muitas organizações realizam modificações acreditando serem
mudanças. As modificações têm apenas caráter passageiro e restrito.
As mudanças significam algo substancial, que alteram por completo
não somente as rotinas mas, principalmente, os objetivos da empresa,
o comportamento dos funcionários ou a forma de atuar no mercado,
conforme o caso. As principais modificações camufladas de mudanças
são:
a. Novos equipamentos. Muitas vezes é só isto: novo equipamento.
Rotinas agilizadas, acesso rápido à informação, um melhor banco de
dados, mas a forma de trabalhar e a mentalidade continuam tão
tacanhas e obtusas quanto antes. O pior é que informatizam e
agilizam a incompetência, podendo com isso fazer estragos muito
maiores em menos tempo.
b. Troca de chefias. Faz-se um rodízio de chefias – migrando por
vários setores da empresa – sob a alegação de que é preciso
desenvolver nos gerentes uma visão global. Pode ser que acabe
desenvolvendo neles uma visão panorâmica. E, em troca, a companhia
perde em eficiência e eficácia, porque muitas vezes são necessários
determinados conhecimentos técnico-gerenciais que o novo ocupante do
cargo não tem e levará muito tempo para adquiri-los. O custo acaba
se tornando maior do que o benefício. O rodízio gerencial traz
resultados compensadores, mas é preciso saber como, quando e com
quem fazê-lo, ou estará arriscando uma roleta-russa.
c. Alterações no organograma. É a pior de todas as modificações, uma
verdadeira pérola de insensatez. São feitas alterações drásticas na
estrutura da empresa, níveis intermediários são eliminados, pessoas
despedidas ou realocadas, departamentos são enxugados, tudo para
descobrir, após alguns meses,que as modificações em nada, ou pouco,
influíram no rendimento da companhia. Pior ainda: o remédio quase
mata o paciente em vez de curá-lo. Alterações na estrutura e no
organograma de nada resolvem, se antes não forem definidos os novos
objetivos e metas da organização, além de se investir na mudança de
comportamento das pessoas, vale dizer, no envolvimento, reuniões e
treinamento.
É por isso que tantas mudanças estruturais falham. Ocupam-se
principalmente do supérfluo – do organograma e da descrição de
cargos -, imaginado que só isso será suficiente para propiciar novo
fôlego à organização. Esquecem, entretanto, do conteúdo: redefinição
de objetivos, busca da qualidade, aumento de produtividade e maior
competitividade.
E isso não se consegue mexendo apenas no organograma e na descrição
de cargos.
A alteração estrutural será sempre a última das etapas, depois de
ter sido definido o que fazer (objetivo). Só depois virá o como
fazer, no qual um dos itens a ser trabalhado é o decantado
organograma.