A Guerra entre Davi e Golias
Por Fábio Luciano Violin
02/05/2003


De que lugar vem o primeiro tiro...
A concorrência entre empresas atualmente ganhou uma perspectiva diferente da tradicionalmente conhecida. Anteriormente as linhas e divisões eram bem mais claras e definidas, hoje, o difícil é saber de que lugar o tiro vai partir.
Se analisarmos com calma chegaremos a conclusão que anteriormente os maiores concorrentes na área de gravadoras eram bem definidos, tínhamos a Universal disputando espaço com a BMG, que também disputava fatias de mercado com a Som Livre e assim por diante.
Pepsi e a Coca-Cola, uma representava a principal concorrente da outra. Entre os bancos era a mesma coisa, o Bradesco disputando espaço com a Caixa, com o BB entre outros.Tínhamos a Zoomp concorrendo com a Levi’s, que também concorria com a Fórum.
Analisando a faixa de concorrentes reais e potenciais pode-se perceber que a disputa por mercado é muito mais ampla. A probabilidade de que uma empresa seja atacada por concorrentes menores é mais forte se considerado a grande quantidade de empresas emergentes que vem surgindo além das já conhecidas e tradicionalmente reconhecidas.
Hoje a Sadia e a Perdigão disputam espaço com pequenas e médias empresas regionais, que em muitos casos possuem não notoriedade das marcas tradicionais, mas uma possibilidade de flexibilização em sua linha de produtos e serviços no atendimento aos consumidores que não podem ser desconsideradas.
As conhecidas “tubainas” aos poucos vieram ganhando participação de mercado e ocupando espaço nos pontos de vendas , sua participação gira em torno de mais de 20% do mercado atualmente além do crescimento dos não gasosos. Ora, se elas ocupam este espaço, alguém o perdeu.
Gravadoras vem concorrendo com os cd’s piratas e a internet, numa briga as vezes até injusta. As grandes empresas da moda disputam o consumidor com pequenas facções e marcas regionais, e os exemplos poderiam prosseguir por diversas linhas.
No entanto, o que é importante perceber é que a diferença em termos de qualidade de produtos e serviços vem diminuindo com o passar do tempo, anteriormente as grandes marcas possuíam sua notoriedade advinda de seu poder de penetração de mercado principalmente através da marca e qualidade dos produtos e serviços.
Com o passar do tempo o acesso a tecnologia e a profissionalização das empresas de menor porte conseguiram mostrar que a dança não é somente entre os grandes, o pequeno também procura (e vem encontrando) seu par para a valsa.
Os concorrentes emergentes (geralmente pequenos e médios) vem ocupando um espaço anteriormente não imaginado, ao irmos as compras nos supermercados podemos encontrar as marcas tradicionais dividindo espaço com os pequenos.
Existe uma tendência latente de que tais concorrentes emergentes consigam personalizar de forma mais contundente sua forma de atuação junto aos varejistas e por conseqüência estar freqüentemente disponível nos pontos de venda. A principio esta relação se dava em função do preço mais baixo, hoje já podemos perceber que existem outros atributos oferecidos e que vem impactando contra a venda dos grandes como por exemplo o tempo de entrega, os prazos e condições oferecidos, os serviços de pós-venda entre vários outros.
Anteriormente os pequenos e médios não possuíam ao menos planilhas de custos detalhadas, hoje já encontramos empresas destes portes com uma bem delineada estratégia competitiva, muito mais refinada do que a 3, 4 ou 5 anos atrás.
Diversas destas empresas emergentes vem conseguindo aproveitar a potencialidade e disponibilidade de matérias-primas e componentes regionais em favor da diminuição de custos e ganhos de tempo, aproveitando as diferenças em termos de impostos e repassando para seus produtos e tornando-os mais atraentes doq eu anteriormente eram. Antes se dizia que as pequenas deveriam aprender comas grandes, hoje já temos valiosas lições de pequenas e médias empresas que precisam ser observadas pelas marcas tradicionais.
As fronteiras atuais da concorrência nunca foram tão amplas e fragmentadas.Algumas lições que os grandes deveriam considerar atualmente incluem:
Personalização no atendimento;
Flexibilização de faixas de preços e prazos;
Diferenciações regionais;
Formação de parcerias com clientes e revendedores;
Mudanças no comportamento do consumidor e seus níveis de exigência;

Entre diversas outras.

Sem medo de dizer bobagem pode-se afirmar que nos dias de hoje não é o grande que engole o pequeno...É o mais rápido que toma espaço do mais lento.
Com isto não se quer afirmar que as grandes estão condenadas, ou que irão acabar, o que se quer dizer é que as fronteiras da competição não são mais delimitadas pelo tamanho e sim pela capacidade de adequação com o mercado.
Além do que não é mais privilégio das grandes a profissionalização, os custos rigorosamente controlados, o planejamento estratégico e mercadológico, a logística e as características de produtos e serviços.
O fato é, na briga entre Davi e Golias, não dá para arriscar um palpite relamente certo a respeito do vencedor.

FÁBIO LUCIANO VIOLIN
Mestre em Estratégias e Organizações _ UFPR
Especialista em Planejamento e Gerenciamento Estratégico – PUC-PR
Professor universitário, palestrante e consultor de empresas.