Nada nasce grandinho...
Por Suyen A. Miranda
23/10/2007
Ainda no século 21 há quem pense que nunca alcançará sonhos, nunca
terá controle financeiro, nem poderá dar um novo destino ao dinheiro
por conta de crenças muito enraizadas, do tipo: “Não nasci em berço
de ouro”, “Preciso nascer novamente para isso acontecer”, entre
outras coisas.
O que acho curioso é que quase ninguém se lembra de que todas as
riquezas que conhecemos tiveram início a partir do número um. O
primeiro, inicial e ponto de partida. Mesmo nos livros de história –
onde muitas vezes a história é contada pela civilização iniciada no
Crescente Fértil, área que atualmente é o Iraque, veja só – não se
menciona o crescimento gradual das riquezas; somente o aspecto e
panorama do momento estudado.
No entanto, não houve civilização que tenha começado com um
patrimônio, espólio, ou “tesouro”, “handicap”. A Bíblia conta que
Adão e Eva foram expulsos do Paraíso, onde lá sim tinha tudo. Foram
para o Mundo, e tiveram de lutar pela sobrevivência. Precisaram
colher, depois armazenar de forma inteligente para que eles e seus
descendentes pudessem comer e sobreviver. Precisavam poupar para
garantir o futuro!
Os tempos passaram, Moisés uniu uma população inteira, mostrou a
importância de ter um objetivo, e implementá-lo, pôr em prática. Ele
não saiu do nada para libertar seu povo, teve um plano de como
realizar esta tarefa, que parecia impossível. E de fato parece, já
que abrir um Mar para que pessoas possam atravessar é bem mais
difícil do que resistir ao limite do cheque especial próximo ao fim
do mês.
Isso me faz falar do impossível, outro termo recorrente quando
falamos em reduzir despesas. No primeiro momento é incrível o quanto
coisas são “impossíveis”. Outro dia ouvi alguém dizer que era
impossível viver sem celular; quanta gente viveu e morreu sem
conhecer este artefato? Ou quando dizem que é impossível guardar 5%
do que se ganha para uma eventual reserva financeira? Simples é:
separe 5% do valor, deposite numa conta de poupança a qual você
tenha deixado o cartão de saque bem distante da sua carteira, e
finja que o dinheiro guardado foi gasto numa pizza, ou em roupinhas
no shopping. Vai ficar bem mais fácil.
Este gastinho que representa este dinheiro guardado pode ter o
tamanho que quiser, pois será 5% do que você ganha, ou declara
ganhar. Só 5%, bem menos do que a taxa cobrada pelos bancos para
empréstimos em geral, e ainda menos que o valor praticado no cheque
especial. Será que cabe no seu orçamento ter esta “despesa” todo
mês? Cabe!
O mais difícil é começar. Como sempre, o primeiro, o pontapé inicial
é onde temos maior resistência, pois parece que nunca irá crescer,
ficará sempre pequeno. Engano seu: em cálculos bem simples, 5% por
mês fará 60% em um ano, ou seja, mais da metade dos seus ganhos
mensais estará guardada, isso sem contar o ganho da aplicação, se
for poupança.
O exercício de guardar 5% é interessante e fundamental para auxiliar
no controle e costume de poupar dinheiro, porque parte de um volume
pequeno. Volto a dizer: nada nasce grande. As fortunas atuais
começaram a partir de alguém que teve a coragem de vencer o medo do
começo – seja por contingência: ou faz ou não sobrevive, ou por
esperteza: garantindo para os momentos difíceis da vida – e não
desanimou em meio à caminhada rotineira da poupança. Até porque
quando você começar a ver novos dígitos em sua conta corrente, ou um
volume maior de dinheiro guardado após seis meses, vai sentir algo
como uma compulsão positiva, um hábito saudável de ter mais dinheiro
guardado, fazendo você poupar antes de gastar.
Todo mundo conhece uma história parecida: o pai e a mãe - ou só um -
veio da Europa arrasada pela guerra para o Brasil sem nada, ou
talvez umas poucas peças de roupa e alguns trocados. Ao chegar, os
imigrantes trabalharam muito, controlaram seus gastos, guardaram o
que puderam (por vezes bem mais que os 5% que você reluta em
começar) e em alguns anos passaram de financeiramente frágeis para
solidamente fortes. E assim muitas fortunas nasceram e prosperaram
em nosso país.
Quando falo em poupar mesmo com pouquinho, lembro que contrair
dívidas também começa assim, aos pouquinhos. Não conheço gente que
comece dívidas em grande estilo, estourando tudo logo de saída –
talvez existam casos, mas quais instituições financeiras abririam os
cofres tão fácil assim? – mas sei de quem começou estourando a conta
em pouquinho, “coisinha mínima”, e acabou contraindo dívida em cima
de dívida, numa bola de neve exponencialmente perigosa. Pois é,
dívida também começa: 10% ao mês são somente 120% ao ano, em
cálculos bem básicos, pense nisso.
Para concluir, lembro que nós também nascemos pequeninos, sem
barreiras que nos impedem de discernir o que é possível do real
impossível, que chamo de inviável. Na infância, quando somos somente
sonhos e vontade, parece que nada é impossível! Que tal lembrar
deste momento de início e reiniciar nossa postura, começando os
primeiros passos por um futuro mais saudável financeiramente
começando com o pequeno, com os 5%, com um pequeno valor? Garanto
que esta quantia inicial fará diferenças positivas em sua vida, tal
qual a moedinha Número Um do Tio Patinhas. Você vai lembrar desta
quantia no futuro com uma vida bem melhor financeiramente.
Suyen A. Miranda é publicitária e Sócia-Diretora da Persona
Consultoria.