Núcleo de inteligência comercial: Uma transformação cultural
Por Yvan Nepomuceno
20/08/2007
Demiti o meu gerente comercial!
Já era a hora. Ele era antigo na empresa e estava ultrapassado. Fui
obrigado a afastá-lo para renovar as lideranças em minha
organização! Mas o fato, é que as vendas caíram!
É comum nos depararmos com situações como essas. Situações em que a
direção da empresa atribui os méritos e os fracassos às pessoas,
esquecendo-se de que as mesmas fazem parte de um sistema, e é o
sistema que deve dar a elas as condições de desenvolver um bom
trabalho.
Mas qual teria sido a alternativa? Ele já vinha em um processo de
acomodação e nada de novo acontecia. Como vislumbrar novos
horizontes se a pessoa que está à frente da gerencia comercial vive
das conquistas obtidas no passado?
Será? Vamos entender o que acontece:
Ninguém fica em um cargo de gerencia comercial por muito tempo se
não tiver méritos, pois se não os tivesse, a organização como um
todo já teria sucumbido. Se imaginarmos que o mesmo viva das
conquistas obtidas no passado, podemos estar nos equivocando, pois
analisando por um outro prisma, poderíamos chegar à conclusão de que
o mesmo desenvolvia um trabalho constante de sedimentação do mercado
anteriormente conquistado por ele e por sua equipe. Aliás, um
trabalho essencial para que sejam preservadas as conquistas obtidas.
Que os tempos mudaram, não há dúvidas. Que existe a necessidade de
inovação constante não se questiona. Mas, será que a inovação vem
com a substituição das pessoas ou com a renovação do modelo
comercial até então adotado?
Não podemos pedir ao nosso gerente comercial, seja ele quem for, que
assuma com perfeição a função operacional de acompanhar os clientes
e ao mesmo tempo planejar estratégias comerciais, pois as funções
embora sejam complementares, é quase impossível de serem realizadas
simultaneamente por um mesmo homem.
É aí que entra a criação do Núcleo de Inteligência Comercial. Uma
célula da empresa cuja função é a de identificar oportunidades,
planejar estratégias, implantá-las e monitorar resultados.
Sua principal característica: a utilização da inteligência.
Inteligência não viciada com o dia-a-dia da empresa, tornando-se
livre dessa forma para pensar.
A matéria prima: A informação. Informação no seu estado puro. Isenta
da influência de vícios de interpretação.
Sua estrutura funcional: Um coordenador, um comitê e forças tarefas.
Sua missão: identificar oportunidades, planejar estratégias,
implantá-las, monitorar resultados e é claro, adequar a empresa às
expectativas do mercado.
O Núcleo não é um departamento e não está vinculado ao organograma
funcional da empresa, embora envolva todas as áreas e conte com a
participação de boa parte de seus funcionários. Ele não pode ser
definido como um organismo físico, mas sim como um organismo
pensante envolvido por uma atmosfera intelectual.
E é exatamente essa atmosfera intelectual que irá determinar o
sucesso do Núcleo, pois se não obtivermos o isolamento necessário
dos vícios, das influências e da subordinação, teremos criado algo
cujos resultados estarão comprometidos.
Estruturando o Núcleo:
Os integrantes e suas funções
coordenador: Além de coordenar os trabalhos que serão atribuídos às
forças tarefas e as análises e deliberações do comitê, o coordenador
será o responsável pela criação e manutenção do ambiente isento das
influências internas da empresa. Por esse motivo é importante que o
mesmo não faça parte do quadro funcional da empresa e não esteja
subordinado a nenhuma gerência.
comitê: O comitê será formado pelos responsáveis pelas áreas
comercial, industrial, logística e marketing. Seus membros serão
fixos e terão como principal função receber as informações, definir
estratégias e promover a implantação das ações.
forças tarefas: As forças tarefas serão formadas e renovadas durante
a evolução do processo e em decorrência das necessidades deliberadas
pelo comitê. As funções serão a de coletar informações e executar
ações definidas pelo comitê.
Exemplificando o funcionamento do Núcleo:
Vamos imaginar que nossa empresa atue junto ao mercado de peças de
reposição e tenha como foco redes de varejo, distribuidores e
atacadistas, atuando a nível nacional, com representantes em todos
os estados.
O Núcleo será formado com o objetivo inicial de avaliar a atuação da
empresa junto ao mercado e na seqüência adequá-la às expectativas
dos clientes viabilizando uma ampliação da base de clientes e
recuperação de inativos.
Participará da estrutura física do núcleo um coordenador externo
contratado especificamente para essa função, como membros do comitê
as gerências comercial, industrial, logística e de marketing, e
serão formadas inicialmente duas forças tarefas: a primeira composta
do pessoal da área de sistemas com o objetivo claro de levantar as
vendas da empresa nos últimos anos, e a segunda pelos representantes
comerciais e gerências regionais, com o objetivo de trazer
informações de campo que justifiquem as perdas identificadas.
Você poderá encontrar alguns modelos de análises para essa primeira
etapa nos seguintes artigos publicados: Informações históricas de
vendas : Quanto posso estar perdendo por não tê-las? e Clientes
Inativos: Identificando os fatores críticos.
Após essa fase inicial de análise, onde se buscou um levantamento
das vendas nos últimos anos e informações de campo colhidas pelos
representantes, surgirão as primeiras tarefas a serem implementadas.
Será nessa hora que o comitê irá se deparar com indicadores que irão
sugerir modificações na política comercial, adequação dos produtos e
serviços que a empresa oferece, melhoria na logística de
distribuição, aperfeiçoamento dos processos de venda e pós-venda
dentre outros.
Para o desencadeamento dessas ações serão formadas novas forças
tarefas sob orientação do comitê e a cada etapa vencida, a cada
objetivo alcançado, o comitê avaliará os resultados e orientará as
próximas etapas, formando para isso outras forças tarefas.
É um processo constante de melhoria, onde um passo vem após o outro,
até o ponto da empresa considerar indispensável que se tenha um
Núcleo de Inteligência Comercial e o perpetue na organização na
busca incessante da melhoria e da excelência.
O Núcleo pode também ser definido como uma cultura empresarial capaz
de transformar não só o atual modelo comercial como a própria
empresa.
Com a formação do Núcleo teríamos então dado continuidade ao
trabalho de sedimentação de mercado que vinha sendo realizado pelo
nosso gerente comercial e ao mesmo tempo vislumbrado novas
oportunidades no mercado.
Yvan Nepomuceno é consultor de empresas com foco na recuperação de
clientes inativos, ampliação da base de clientes e é o responsável
pelo Projeto Gerenciador de Vendas.