O Ensino e a
Prática de Relações Públicas
Waldyr Gutierrez Fortes
07/01/2001
Existe uma questão constante que é
apresentada sempre que se discute o
ensino e a prática de Relações
Públicas. O próprio título deste
artigo poderia levar à conclusão de
que é comum um distanciamento entre
o ensino e a prática de Relações
Públicas e, na realidade, a
discussão mais necessária é aquela
que se refere ao que é ensinado nos
cursos de Relações Públicas e o real
significado da prática profissional
desta área.
Os currículos praticados nas escolas
de comunicação do país não podem
ficar restritos a uma repetição
constante e imutável de alguns
pressupostos teóricos, já repassados
pela “enésima” vez, sem qualquer
reflexão mais profunda do seu real
significado, de sua essência. Por
outro lado, a prática não pode ficar
restrita à imitação da realidade que
eventualmente os alunos de Relações
Públicas irão encontrar na sua vida
profissional. Permanecendo este
cenário, os projetos desenvolvidos
nas escolas podem sofrer as
conseqüências da falta de uma linha
de trabalho que priorize a visão do
mercado a ser ocupado pelos futuros
profissionais. Novas soluções
deverão ser procuradas, na tentativa
de superar determinados “modismos”,
como o planejamento de eventos,
necessário, porém não como a
finalidade última do trabalho de
Relações Públicas. A dedicação à
área de eventos especiais,
especialmente quando procuram
somente salvaguardar a “imagem”
corporativa das organizações, impede
que se ofereça algo mais concreto em
termos de contribuição para o
sucesso das organizações onde as
atividades de Relações Públicas são
desenvolvidas. Com isto, criam-se
mecanismos que vêm somente a
distrair a atenção das massas,
esquecendo-se completamente o
principal papel dos profissionais
das Relações Públicas, que é o de
transformadores sociais em qualquer
tipo de organização. Modernamente, é
preciso pesquisar em profundidade os
motivos que levaram a organização a
apresentar determinadas condições ou
fatos que vieram a alterar o seu
conceito público e prejudicar os
seus esforços mercadológicos. Os
empresários, na atual situação
econômica do país, estão precisando
de assessoramento competente quanto
ao seu comportamento nos diversos
ambientes em mutação que envolvem as
suas empresas e organizações.
Precisam de apoio da pesquisa para
definir qual é o melhor produto para
determinado segmento de
consumidores, num legítimo trabalho
de apoio ao marketing das
organizações. Têm necessidade de
envolver todos os funcionários nos
objetivos estratégicos definidos,
que irão assegurar a sobrevivência
da empresa em mercados altamente
competitivos. Estão a procura de
melhores relacionamentos com
fornecedores, intermediários, órgãos
públicos e com outros grupos que se
mostram cada vez mais ativos numa
sociedade em mudança com a nossa. E
como, então, concilia-se o ensino e
a prática de Relações Públicas para
esta nova realidade? A postura
profissional do futuro deve evitar
alguns vícios do passado, como, por
exemplo, envio dos famigerados
“press releases” à imprensa, sem uma
análise mais profunda dos motivos
que levaram a uma determinada
situação; a programação de
festividades em datas já muito
exploradas por todos; o envio de
brindes para pessoas que se julga
possam trazer benefícios para a
organização; aproveitam-se de alguns
incentivos para desenvolver
determinadas atividades que julgam
ter um “aspecto cultural”, e assim
por diante. Neste quadro, fica
faltando melhorar o relacionamento
com o público interno, por meio de
uma política de pessoal que
realmente considere as reais
necessidades deste segmento da
organização. Falta uma maior
integração dos objetivos de Relações
Públicas com os objetivos mais
amplos da organização, pois a nossa
área deve estar presente no momento
das grandes decisões estratégicas.
Nos cursos de Relações Públicas é
preciso desenvolver estudos mais
profundos da cultura organizacional,
da história e dos métodos e
processos de trabalho, dos hábitos
de compra dos consumidores e tantas
outras atividades que poderiam ser
encaradas como constituintes de um
processo amplo de interferência nos
destinos da organização atendida por
Relações Públicas. A questão é que
cabe às Relações Públicas pesquisar
e assessorar naquilo que as
organizações realmente estão
necessitando e, especialmente nesta
época de crise, a sua própria
sobrevivência. É a velha questão que
se apresenta: atender perfeitamente
a todos as necessidades dos
públicos, sejam elas de informações,
falta de comunicação, apoio às suas
iniciativas, desejos e necessidades,
considerando como o primeiro grande
grupo a ser atendido: a própria
administração das organizações.
Assim, o desafio está colocado:
adequar as escolas de Relações
Públicas a estas exigências;
instrumentalizar os seus professores
para que estes realmente preparem os
futuros profissionais de maneira
adequada e moderna e,
principalmente, mostrar aos
profissionais que a profissão de
Relações Públicas pode apresentar um
alto grau de relevância perante o
quadro estratégico das organizações,
empresariais ou não.