O Lixo Urbano e o Grande Papel do Marketing
Por Witer Brasil
27/09/2006
Resumo
Esse artigo aborda, inicialmente, um breve histórico sobre a
evolução do homem e sua relação com a natureza. Quando o homem deixa
a sua vida nômade e evolui desenvolvendo recursos tecnológicos para
explorar o meio ambiente, assume hábitos culturais incorretos em
relação ao descarte de lixo e que se tornam arraigados com o tempo.
Além das ações isoladas do homem na degradação da natureza, existe
ainda a ação das empresas que dá ao consumidor a condição de ser o
grande instrumento de poluição e fabricante de lixo. Surgem então
extensos e inconvenientes lixões, próximo às cidades, criando
situações indesejáveis aos moradores e gerando graves problemas de
saúde. Mas à partir dessas condições inóspitas, já começa a
florescer uma nova mentalidade de Marketing com tendência a mudar
esse cenário. É o que especialistas chamam de ecoeficiência,
permitindo uma certificação de qualidade de gestão ambiental às
empresas, através da série ISO 14000. Quanto ao destino de resíduos
de materiais descartados deve seguir o caminho mais óbvio. O que vem
da indústria em forma de embalagens deve ser devolvido a indústria e
o que vem da natureza deve ser devolvido à natureza.
Palavras-Chave: marketing, lixões, reciclagem, ambiente,
compostagem, resíduos, limpeza, ecoeficiência
1 - INTRODUÇÃO
Lixo urbano nas grandes cidades e o papel do Marketing na sociedade
é o tema desse artigo, que tem como objetivo explicar as razões do
exagerado volume de resíduos sólidos e úmidos¹ (lixo), a necessidade
de aterros sanitários colossais e qual a responsabilidade do
marketing nesse contexto e contribuição do seu papel ético na
sociedade que é: a) Limpeza, b) Reciclagem e c) Conservação dos
Recursos Naturais, segundo (AMERICAN MARKETING ASSOCIATION - AMA).
Essa é uma pesquisa que procura confirmar possíveis causas desses
problemas, entender aspectos culturais relacionados ao descarte de
resíduos úmidos pela população e esclarecer dúvidas sobre a eficácia
do papel do Marketing na sociedade quanto a sua contribuição para a
proteção do meio ambiente.
O lixo e o tratamento dado a ele é um problema oculto aos olhos da
população. Essa realidade requer providencias urgentes por se tratar
de condição de vida saudável no “ambiente” natural das pessoas.
Desse modo, esse artigo pode permitir que as pessoas tomem
conhecimento de métodos mais racionais para descarte de resíduos. É
necessário que tenhamos consciência da necessidade de técnicas
eficientes na decomposição de matérias orgânicas, como a
compostagem, altamente conveniente para reduzir o tamanho dos
lixões. Esse artigo tem ainda, como objetivos, buscar informações
sobre, o que as empresas já estão fazendo para evitar acúmulo de
materiais em lixões e a importância de se credenciarem a gestão de
qualidade ambiental, através da série ISO 14000.
¹Resíduos úmidos: Restos de Alimentos, verduras, frutas, outros
materiais não recicláveis, de um modo geral oriundos da natureza e
que devem ser devolvidos à natureza através de processos de
compostagem.
Resíduos sólidos: Papéis, papelão, vidros, metais, plásticos,
produtos que de um modo geral passaram por um processo mais apurado
na indústria e que devem ser devolvidos a indústria.
2 OS RESÍDUOS DA SOCIEDADE MODERNA
2.1 Evolução do homem e a sustentabilidade: breve histórico
Na medida em que o homem foi evoluindo, a natureza também foi sendo
depredada. O homem passou da condição de caçador para pastor e
posteriormente a agricultor. À medida que foi aperfeiçoando o seu
potencial tecnológico, o homem foi também transformando o seu
habitat.
A invenção do arado de ferro, por exemplo, substituindo métodos mais
rudimentares, permitiu um aumento acelerado de áreas cultivadas. A
exploração de terras antes não cultivadas proporcionou um
crescimento gregário das populações.
Paralelamente, surgiam mais necessidades que para serem satisfeitas,
começaram a exigir do homem uma vida comunitária mais intensa.
Floresceram então comunidades fixas e nômades. As comunidades
nômades foram as mais devastadoras, pois assim que os solos se
esgotavam partiam para outros lugares praticando o que se chamava de
cultura itinerante, que era, de certa forma, um procedimento bem
devastador. Na verdade, o homem nessa época aproveitava de forma
inconveniente o que a natureza colocava à disposição. Ao longo do
tempo o resultado foi a devastação de continentes inteiros,
principalmente a América do Norte, o continente que mais sofreu com
a colonização européia. (SILVA, 1978)
Dessa forma prosperaram colônias, populações cresceram e as
necessidades acompanharam essa evolução. Esse progresso fez surgir
uma base tecnológica que permitiu a produtividade e crescimento sem
sustentação a uma renovação espontânea dos recursos na natureza. A
tecnologia foi uma ferramenta poderosa na evolução do homem, mas,
nem sempre foi o responsável direto pela degradação.
Silva (1978, p.89) relata:
Quando, pois, a tecnologia é encarada como uma das causas da crise
ambiental, não se pode esquecer, com o risco de se cair em erros, o
modo de produção. É o modo de produção que vai determinar a
“quantidade” de tecnologia empregada na transformação da natureza. A
natureza foi sendo depredada com maior constância, a partir do
momento em que a atividade de produção começou a alcançar maior
produtividade. [...] O que determinava a maior produtividade dentro
do sistema era, justamente a divisão social do trabalho e das
técnicas entre os trabalhadores e a propriedade privada dos meios de
produção (máquinas, prédios etc.). [...] Sendo assim, a tecnologia
empregada pelos trabalhadores não dependia (como não depende) da
vontade destes últimos, que são obrigados a se sujeitar ao trabalho
assalariado como único meio de vida.
2.2 Gestão da sustentabilidade relativa ao tempo
O homem é o grande promotor de mudanças no ambiente. Um exemplo são
as conseqüências provocadas por desmatamentos, como o assoreamento
de rios antes navegáveis, como o rio São Francisco e agora sem o
comércio fluvial dos anos que antecediam os anos 50 e até
desaparecimento de populações das suas margens. Essas são
conseqüências que têm uma grande relação com o tempo. É o que
(ALMEIDA 2002) coloca como fator de grande importância para a gestão
da sustentabilidade.
O assoreamento do rio São Francisco ocorreu em algumas décadas
provocado por desmatamentos e erosões da bacia drenante. Vazamento
de petróleo acontece em intervalo de dias ou horas. Alguns acidentes
ambientais ocorrem em questão de segundos, como reações químicas
provenientes de indústrias semelhantes ao ocorrido em Bhopal, na
Índia (em 1984 gases venenosos da fabrica de pesticidas da Union
Carbide vazaram e intoxicaram 500 mil pessoas. Foi considerado o
pior acidente do século XX, em que oito mil pessoas morreram quase
de imediato). (ALMEIDA 2002).
Os exemplos citados servem para demonstrar que a gestão da
sustentabilidade está relacionada com o tempo. Isto é, o fator tempo
é fundamental e pode ser através de décadas ou questão de minutos.
Para garantir uma sobrevivência em longo prazo, de empresas e de
pessoas no planeta em que vivemos, teremos que enfrentar desafios
impostos pela cultura da sociedade. Isso é uma questão que se
apresenta às populações e empresas de todos os portes regidas pelo
Marketing. E ainda segundo Almeida(2002, p.78)
Para ser sustentável, uma empresa ou empreendimento tem que buscar,
em todas as suas ações e decisões, em todos os seus processos e
produtos, incessante e permanentemente, a ecoeficiência. Vale dizer,
tem que produzir mais e melhor com menos: mais produtos de melhor
qualidade, com menos poluição e menos uso de recursos naturais. E
tem que ser socialmente responsável: toda empresa está inserida num
ambiente social, no qual influi e do qual recebe influência. Ignorar
essa realidade é condenar-se a ser expulsa do jogo, mais cedo ou
mais tarde.
O que Almeida (2002) relata condiz com o grande papel do Marketing
que busca maior produção gerando emprego e mais impostos. Mais
qualidade para atender necessidades humanas é também uma das
determinantes do marketing que define o motivo de sua atuação. E
quando diz “socialmente responsável” sugere que o seu papel na
sociedade deve ser também com a limpeza do meio ambiente,
desenvolvimento de embalagens que podem ser utilizadas para outros
fins, evitar desenvolvimento de embalagens não recicláveis ou de
decomposição difícil.
2.3 Poluição
Quando o homem não consegue reciclar os recursos que explora da
terra, o meio ambiente se polui com o refugo desses produtos. A
poluição é o estado em que os ciclos naturais não se realizam
apropriadamente. Podem os citar como exemplo o chorume (liquido de
cor negra característica de materiais orgânicos produzido pelo lixo)
quando descarregado nos cursos de água, seja pela depressão natural
do terreno ou através das chuvas, provoca redução de oxigênio das
águas, podendo exterminar os organismos aeróbicos. Quando infiltra
na terra pode contaminar os lençóis de água. (FILIPPI JÚNIOR, 1992).
2.4 Homem, o grande poluidor.
Vendo a população aumentar, o Marketing de pós-guerra ficou motivado
a desenvolver, cada vez mais, novos produtos com novas embalagens
despertando novas necessidades de consumo antes inexistentes. Então
podemos afirmar que o lixo é resultado da atividade humana, por isso
considerado inesgotável. É diretamente proporcional à intensidade
indústrial, aumento populacional e esforços de Marketing para
lançamento de novos bens de consumo com embalagens cada vez mais
atraentes. Contudo, tais embalagens nem sempre são convenientes e
compatíveis com a capacidade que a natureza tem para digerir e
recompor. Num contexto invisível aos olhos da sociedade o resultado
é um aumento assustador dos lixões próximo das grandes cidades.
Esses lixões, ou aterros sanitários, além de ocupar áreas que
poderiam ser utilizadas para fins mais nobres, podem oferecer riscos
à saúde humana através da contaminação das águas subterrâneas e da
proliferação de animais e insetos vetores de doenças. (BERTON,
1991).
Os lixões proporcionam ainda mais um grande problema: atraem uma
população de carentes e desempregados, que passa a disputar com
urubus restos para se alimentar e a sobreviver da venda de materiais
que não foram descartados corretamente para a reciclagem
(HTTP://WWW.INSTITUTOGEA.ORG.BR). Como se tanta degradação não
bastassem, eventualmente se tem noticias, pela televisão, que
cadáveres em estado de putrefação em sacos plásticos são encontrados
nos lixões das grandes capitais, com uma freqüência de até quatro
vezes por semana. Esse tipo de degradação humana que compromete a
cidadania não pode ser permitida e a solução para o problema só pode
ser solucionado com a erradicação total dos lixões.
3 O GRANDE PAPEL DO MARKETING NA SOCIEDADE
3.1 Limpeza do meio ambiente um compromisso ético.
São poucas as empresas que desempenham suas atividades de Marketing
plenamente, cumprindo um compromisso ético de contribuir para a
limpeza e conservação de recursos ambientais. Faltam esforços
voltados para o bem estar social (Marketing Social) o que Almeida
chama de ecoeficiência. Segundo Almeida (2002, pg 101)
“A ecoeficiência é uma filosofia de gestão empresarial que incorpora
a gestão ambiental. Pode ser considerada uma forma de
responsabilidade ambiental corporativa. Encoraja as empresas de
qualquer setor, porte e localização geográfica a se tornarem mais
competitivas, inovadoras e ambientalmente responsáveis. O principal
objetivo da ecoeficiência é fazer a economia crescer
qualitativamente, e não quantitativamente”.
Existem alguns casos interessantes de empresas, já com uma
mentalidade cultural mais evoluída e imbuída de um espírito de
marketing ecoeficiente. Além de que, isso já deveria ser uma
filosofia do próprio marketing em todas empresas do mundo para
manter a limpeza e equilíbrio do meio ambiente.
A revista de negócios Exame (24 de maio de 2006, pg. 99) publicou a
seguinte noticia:
“A HP está levantando a bandeira de que as empresas de
eletroeletrônicos devem ser responsáveis pelos seus produtos depois
que os consumidores os jogam no lixo. Em 2005 a HP recolheu mais de
2,5 milhões de equipamentos – parte deles doados ou vendidos no
mercado de produtos usados – e reciclaram mais de 70 mil toneladas
de sucata. Seu programa de reciclagem é o maior do mercado de
eletrônicos”.
A responsabilidade, pelos produtos ou embalagens após o uso, propõe
ser uma questão óbvia das empresas, já que a criação dos materiais
geradores dos problemas de impacto ambiental é do próprio marketing.
Almeida (2002, pg. 119) cita um interessante caso da Interface
Fooring Systems, maior fabricante de tapetes e carpetes comerciais
do mundo:
Essa empresa já conseguiu evitar que mais de dois milhões e
quinhentos mil metros de carpetes aumentassem os depósitos de lixo.
Destes, um milhão de metros deixaram de ser jogados na natureza só
no ano 2000. Essa marca foi alcançada graças a um criativo programa
de reaproveitamento, que a empresa oferece como um serviço para os
clientes. Por meio desse serviço, batizado de ReEntry a Interface se
compromete a pegar de volta o carpete após um determinado período
preestabelecido com o próprio cliente no momento da compra. E
responsabiliza pela gestão do final de sua vida útil.
Caso semelhante é utilizado pelos fabricantes de pilhas e baterias
que também se responsabilizam pelo destino dado aos seus produtos
quando perdem a utilidade para seus consumidores. A empresa Monsanto
fabricante do herbicida “Roudup” vende esse produto com o
compromisso de ter a embalagem devolvida após o produto ser
consumido.
A grande diferença, no caso, é que esses são exigidos por lei, por
causa da toxidade de componentes usados na fabricação. A interface e
outras empresas já fazem isso voluntariamente se credenciando ao
Marketing de ecoeficiência.
Há ainda, citações populares de uma empresa, fabricantes de tênis
nos EUA, que paga em dólar o valor correspondente às despesas de
correios para devolução à fábrica do tênis quando o consumidor achar
que deve ser descartado.
Existem muitos casos esporádicos de empresas que já podem ser
consideradas ecoeficientes, contudo para reduzir o volume gigantesco
de materiais descartados em lixões, os casos existentes são
insignificantes e apenas bons exemplos de um padrão desejável.
3.2 Reciclagem e Coleta Seletiva
Devolver à indústria embalagens que vem da indústria. Essa premissa
justifica a importância do trabalho de coleta. A coleta seletiva é
uma alternativa ecologicamente correta que desvia os materiais do
destino, em aterros sanitários ou lixões, devolvendo-os às suas
origens de fabricação para reciclagem.
Nessa atividade é preciso destacar a figura dos inúmeros catadores,
organizados em cooperativas, que associam entre si formando
importante e conveniente categoria profissional. Segundo Pólita
Gonçalves e Roberto Ibárgüen do site (www.lixo.com.br) os objetivos
mais importantes com a reciclagem são: “Vida útil dos aterros
sanitários são prolongados e conseqüentemente o meio ambiente é
menos contaminado; o emprego de matéria prima reciclável economiza
recursos da natureza”.
O professor Sabeti Calderoni (autor do livro Os Bilhões Perdidos no
Lixo, citado por Pólita e Roberto Ibárguen) relata que no Brasil
existe coleta seletiva em cerca de 135 cidades e que na maior parte
dos casos a coleta é realizada pelos “catadores” organizados em
cooperativas ou associações.
Ainda segundo Pólita e Roberto (lixo.com.br) Sistemas de coleta
seletiva, para reciclagem, podem ser implantados em escolas,
empresas e bairros e não há uma formula universal definida, pois
cada lugar tem uma realidade diferente. Porem é muito importante que
a sociedade queira um sistema de coleta. Sobre isso, também, a
engenheira florestal Cusatis no site
(http://images.google.com.br/imgres), diz o seguinte sobre esforços
e mobilização da sociedade:
Avançamos muito em relação à mobilização da sociedade para a
reciclagem. Em Curitiba, há um número cada vez maior de empresas com
lixeiras diferenciadas para coleta e, para as residências, há
recolhimento do lixo reciclável. Esta coleta é realizada por
empresas especializadas em reciclagem, o que aumenta a geração de
renda e de empregos.
Apesar do avanço obtido, ainda são necessários cada vez mais
recursos financeiros para as conversões dos lixões em aterros, para
a implantação de novos aterros sanitários e de centros de
classificação, além de outras iniciativas. Por isso, os esforços
devem ser crescentes para a educação das pessoas.
Especialistas desse assunto defendem a idéia de redução do volume de
lixo produzido. Isso exigiria uma grande mudança nos padrões de
criação de embalagens promovidas pelo Marketing, consumo e hábitos
arraigados de descarte e implantação de programas de coleta seletiva
de lixo. Nesse caso, é indispensável à colaboração da comunidade no
descarte separado dos diversos materiais recicláveis antes da
coleta. Uma comunicação de Marketing mais ativa orientando
consumidores a maneira correta e mais adequada para o descarte das
embalagens seria necessário.
Quanto à implantação de um sistema de coleta seletiva, Pólita e
Roberto orienta que deve obedecer a um planejamento ilustrado por
uma corrente de três elos. Se um deles não for planejado a tendência
é de que o programa não prospere.
“O planejamento deve ser feito do fim para o começo da cadeia. Ou
seja: primeiro pensar em qual será a destinação, depois (e com
coerência) a logística e por fim o programa de comunicação ou
educação ambiental”. Mais informações sobre planejamento para
implantar um programa de coleta seletiva pode ser obtido no site
(www.lixo.com.br)
3.3 Usina de compostagem
Esse pode ser o destino de grandes quantidades de lixo domiciliar,
os denominados “resíduos úmidos”. Talvez seja um dos destinos mais
conveniente conforme está colocado no site www.cecae.usp.br “A
compostagem é um processo de decomposição biológica da matéria
orgânica presente no lixo, por meio da ação de microorganismos
existentes nos resíduos, em condições adequadas de aeração (processo
de renovação do ar de um ambiente; ventilação), umidade e
temperatura. O resultado desse processo é o composto orgânico. Uma
tonelada (1.000 Kg) de lixo doméstico rende cerca de 500 Kg de
composto orgânico.
1ª etapa: o lixo é transportado até uma mesa, na qual se realiza a
separação manual de plásticos, papéis, tecidos, vidros e metais.
Esses materiais são vendidos para indústrias de reciclagem ou
oficinas de reutilização.
2ª etapa: o que restou da primeira separação é levado para o
separador magnético. Por meio de um eletroímã, objetos de ferro e
aço são retirados nessa etapa.
3ª etapa: o lixo restante segue para a câmara de fermentação
aeróbica, um local fechado onde correntes de ar revolvem os dejetos.
Parte da energia liberada nesse processo se converte em calor,
atingindo a temperatura de 70º C, o que provoca a morte da maioria
dos microrganismos patogênicos que se desenvolvem no lixo.
4ª etapa: após a fermentação, a mistura é peneirada numa máquina. Os
pedaços maiores (pedras, galhos) ficam retidos e levados para um
aterro sanitário. A porção que passou pela peneira é o composto
orgânico cru. Este composto passa pela cura: fica ao ar livre por
cerca de 60 dias. Depois, pode ser usado em hortas, jardins e
pomares.
3.4 Os Paises que mais reciclam em %.
Os países indústrializados são os que mais produzem lixo e também os
que mais reciclam. Conforme dados da Associação Brasileira de
alumínio (1996), citados no site
(http://lixohospitalar.vilabol.uol.com.br/Lixo.html)
[...] O Japão reutiliza 50% de seu lixo sólido e promove, entre
outros tipos de reciclagem, o reaproveitamento da água do chuveiro
no vaso sanitário. Os Estados Unidos (EUA) recuperam 11% do lixo que
produzem e a Europa Ocidental, 30%. A taxa de produção de lixo per
capita dos norte-americanos, de 1,5 quilo por dia, é a mais alta do
mundo. Equivale ao dobro da de outros países desenvolvidos. Nova
York é a cidade que mais produz lixo, uma média diária de 13 mil
toneladas. São Paulo produz 12 mil toneladas. Entre os líderes
mundiais da reciclagem de latas de alumínio destacam-se Japão (70%),
EUA (64%) e Brasil (61%).
3.5 Preservação dos Recursos Naturais (Sustentabilidade)
Ficar sem explorar a natureza, de maneira radical, como defende
algumas ONG’s, é praticamente impossível. O homem necessita dela
para a sua sobrevivência. Por isso, é importante desenvolver uma
educação ambiental que conscientizem pessoas a explorar a natureza
com respeito e racionalidade. Ter respeito à natureza significa
entender a gratidão que devemos ter pelo que ela permite a
existência de nossa vida. Segundo Arendt (1906-1975) “A Natureza é a
única testemunha o tempo todo, de nossa existência nesse mundo”.
Explorar a natureza com racionalidade é a necessidade urgente que os
setores (Governo; ONG’s e Empresas) com a criatividade das suas
áreas de marketing, precisam desempenhar orientando e fiscalizando
com eficiência, projetos bastante apropriados de recuperação de
áreas exploradas. O jornalista Marcelo Leite, citado por Bernardo
Esteves no site (http://ich.unito.com.br/3935), explica que a
exploração racional de florestas, por exemplo, é um interessante
negócio para as empresas e que a floresta não está ai para ficar
intocável para sempre. Ele mostra que a extração sustentável de
madeira é 35% mais rentável que a predatória. Isso porque
"Danificando menos a mata, sobretudo árvores mais jovens, e também
preservando árvores adultas de menor qualidade para que continuem a
reproduzir-se, o manejo florestal garante uma reposição mais rápida
da madeira com valor comercial", explica Leite.
Um interessante caso de sustentabilidade, e excelente negócio para
as empresas é colocado por Almeida (2002, p.92 a 93).
Quatro empresas brasileiras fazem parte do Índice Dow Jones de
sustentabilidade, o índice bolsista criado em 1999 para ajudar
investidores internacionais em busca de ações diferenciadas no
mercado e privilegiar empreendimentos que aliem solidez e
rentabilidade financeira a uma postura de ecoeficiência e
responsabilidade social. A Cemig, os bancos Itaú e Unibanco e a
Embraer integram o seleto grupo internacional de 312 empreendimentos
escolhidos em 2001 para compor o índice. Para fazer parte do índice
Dow Jones de sustentabilidade [...] as empresas são submetidas a uma
rigorosa seleção. Na ultima analise, 2500 empreendimentos de 26
paises foram avaliados. Os que passam no teste sinalizam aos
investidores que sua capacidade de gerar mais lucros a longo prazo
para os acionistas está associada a uma filosofia de desenvolvimento
sustentável. A Cemig (Companhia Energética de Minas Gerais) é um dos
empreendimentos brasileiros escolhidos por dois anos consecutivos.
Como resultado da exposição do seu nome em revistas financeiras
especializadas, a empresa comemora um número cada vez maior de
consultas de investidores do exterior. [...] contribuíram para a
inclusão da empresa mineira no DJSI a produção anual de um milhão de
alevinos para repovoamento dos reservatórios de suas hidroelétricas
[...].
3.6 O Tempo de vida útil dos Produtos
Outra forma de preservar os recursos da natureza pode ser uma
desejável tarefa de marketing procurando aumentar o tempo de vida
útil das embalagens, proporcionando a elas a capacidade de ser
destinada para outras finalidades após ter cumprido a sua utilidade
funcional. Almeida (2002) coloca esse tema como Análise do Ciclo de
Vida. O Ciclo de vida aqui tem um sentido um pouco diferente dos
ensinamentos de Marketing, onde está relacionado com o tempo em que
os produtos estão disponíveis no mercado para serem comercializados.
Neste caso, a relação é com a durabilidade dos materiais que compõe
um produto. É uma técnica para avaliar os impactos ambientais do
“berço ao tumulo”; desde a analise dos materiais a serem utilizados
na fabricação do produto até a disposição do que restou após o
consumo. Segundo Almeida (2002) essa técnica nasceu na Europa, nos
anos 1980, a partir de pressões de ambientalistas que consideravam
necessário exigir das indústrias cuidados ambientais não apenas nas
etapas de produção, mas também nas etapas associadas ao consumo e
descarte de embalagens. Essa análise hoje já está incluída nas
normas da série ISO 14000, série esta, responsável pela certificação
da qualidade de gestão ambiental.
4 Conclusão - aspectos culturais e hábitos no descarte de resíduos
Para concluir esse trabalho, foi necessário a coleta de dados
primários para entender e confirmar o suposto de como as pessoas
descartam seus resíduos úmidos e sólidos. Usando técnica de
observação em cozinhas de apartamentos e casas onde foi possível o
acesso para esse trabalho, sempre que surgia a oportunidade e em
dias diferentes, no espaço de quatro meses. Foram obtidos
resultados, com uma amostragem, praticamente padrão em 22 casos
observados. Isto é, mais de 99% das pessoas tendem a descartar
papéis, plásticos, metais e vidros, misturando-os aos resíduos
úmidos que deveria ter um destino totalmente diferente, fabricando
assim o verdadeiro lixo. Na lixeirinha onde deveria ser apenas de
resíduos úmidos ou orgânicos, foram encontrado embalagens de
plásticos de frango, embalagens de biscoitos e até latinhas de
refrigerantes.
Resíduos Úmidos: são restos de alimentos que descartamos para o seu
preparo ou quando é feito a limpeza de panelas e restos de frituras.
É aquele material que fica no ralinho da pia quando lavamos a louça
e que é descartado corretamente na lixeirinha. Esse é um material
orgânico de origem animal ou vegetal que pode ser facilmente
devolvido a natureza, de onde veio, em forma de adubo e altamente
conveniente ao meio ambiente. Seu destino deve ser a compostagem e
não aos lixões.
Resíduos Sólidos: pode ser entendido por todo material que
geralmente vem da indústria assim como, plásticos, papeis, metais e
vidros (ppmv). É preciso entender que esse material não é lixo.
Vidro não é lixo, papel não é lixo, metal está longe de ser lixo e
plástico muito menos. Trata-se de um material reciclável que deve
ser devolvido a indústria e por isso não deveria ser misturado aos
resíduos úmidos. Podemos também, concluir que quando é jogado um
pedaço de papel ou plástico em uma lixeirinha de resíduos úmidos, ai
sim, está sendo feito lixo e tirando a condição de que a coleta
seletiva se realize com eficiência. Outra conclusão é que as pessoas
não estão sendo conscientizadas e nem adquirindo educação ambiental.
Um verdadeiro exemplo da falta de educação e conscientização foi
resultado de observação feita em recipiente para coleta seletiva em
escolas e em Shoping’s de Belo Horizonte, locais onde se supõe ser
freqüentado por pessoas com nível de educação considerável. Nos
recipientes destinados a papéis foram encontrado embalagens de
iogurte, outros tipos de plásticos, resíduos de sanduíches. No
recipiente disponível a plásticos foram encontrados papeis, vidro
etc. Dessa forma, sem nenhuma seleção e como se fosse tudo em comum,
não tem como fazer coleta seletiva e conseqüentemente, por não
conseguir uma escala de volume viável economicamente, a atividade
pode até ser inviabilizada.
A solução para problema desse tipo parece mais adequada a um esforço
de comunicação através de formadores de opinião, como o marketing
das grandes redes de televisão, expondo exemplos de procedimentos
corretos no descarte dos resíduos em novelas, por celebridades. Essa
estratégia já se confirmou ser eficiente para gerar hábito, como no
de uso do cinto de segurança nos carros. Uma comunicação com mais
ênfase através das próprias embalagens, orientando o consumidor a
descartarta-las também seria uma forma de contribuição desejável e
até conveniente ao marketing. Desse modo podemos entender que um
grande problema não é a reciclagem ou coleta seletiva e sim o
“Descarte Seletivo” principal gerador dos grandes lixões.
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