O Que Se Pode Esperar de um Programa de Sugestões
Por Gisela Kassoy
20/10/2007
Os produtos mais concretos são as idéias, é claro. Programas de
Sugestões que buscam redução de custos podem quantificar nitidamente
seus resultados. São públicas e notórias as experiências da
Volkswagen com seus R$7 milhões de economia em menos de 2 anos e os
US$ 13.000/mês em prejuízos eliminados pela SKF .
As empresas também se beneficiam de forma nítida e ampla com as
idéias de colaboradores a respeito de qualidade de vida no trabalho,
melhorias em processos, atendimento e segurança.
Há, entretanto, inúmeros ganhos não quantificáveis que uma empresa
pode obter. O aumento na motivação costuma ser tão grande que
algumas empresas montam os programas de sugestões apenas com esse
objetivo. Mas, alto lá, isto pode ser uma armadilha! Se não houver o
desejo sincero de implementar as idéias dos colaboradores, se os
escalões mais altos no fundo não acreditam no potencial criativo do
seu pessoal, a empresa estará desprezando um contingente enorme de
idéias, o que, a médio prazo, vai gerar é desmotivação, e até com
uma certa razão.
Tampouco se pode desprezar os benefícios educacionais de tais
programas: os funcionários aprendem a gerar e avaliar idéias e a
transformá-las em projetos, passam a conhecer melhor outras áreas,
conscientizam-se dos custos e desperdícios, aprofundam as aplicações
práticas dos conceitos da Qualidade.
Sem dúvida, um Programa de Sugestões amplo influenciará a cultura da
empresa, com o incremento do espírito participativo e aumento da
transparência. Paralelamente, gerentes e supervisores ampliam seu
papel como educadores.
Entretanto, não basta montar um programa qualquer (ou copiar os bem
sucedidos) e esperar pelas idéias. As regras para a gestão das
idéias devem ser criadas tendo em mente o que se quer obter. Por
exemplo, se uma empresa deseja ampliar o espírito de equipe, pode
estipular que as idéias sejam apresentadas por equipes que devem se
manter unidas durante um determinado tempo, apresentando em conjunto
todas as idéias que tiverem. Por outro lado, se o objetivo for
ampliar a integração intersetorial, pode-se estimular as equipes
ad-hoc, que elegem seus membros e se organizam em função de cada
idéia.
A participação de profissionais em nível de supervisão ou gerência,
algumas vezes os mesmos que irão avaliar algumas idéias, também
depende de muitas variáveis, tal como a estrutura hierárquica da
empresa e sua cultura. A questão aqui é saber priorizar: valem mais
as idéias a serem obtidas ou a habilidade em estimular equipes?
Mais um exemplo da importância de se plantar pensando no que se quer
colher, é ter clareza - e comunicar com clareza - qual o conceito
que a organização tem para a palavra sugestão: uma sugestão pode ser
apenas o diagnóstico de um problema, o que já é uma contribuição,
desde que haja quem pretenda solucioná-los. Uma sugestão pode também
ser um diagnóstico acompanhado de uma solução, não necessariamente
criativa, mas pode finalmente ser uma idéia, algo novo a ser
proposto.
As três alternativas são válidas, mais uma vez, dependendo do que a
empresa pretende.
Premiação ou reconhecimento? Pagamento em dinheiro ou em bens
duráveis? Participações individuais, em equipes ou de ambas as
formas? Prêmios para todos ou apenas para as sugestões aceitas ou
implementadas? Reconhecimento a todas as boas sugestões ou apenas às
que fazem parte do principal objetivo da empresa? Premiar ou não
funcionários que saíram da empresa?
E as dúvidas não ficam por aí: Como quantificar sugestões que trazem
benefícios não quantificáveis? Como garantir que a Gestão de Idéias
seja coadjuvante e não concorrente da rotina diária e das grandes
inovações da empresa?
Elaborar um Plano de Sugestões não é uma tarefa simples. As regras
de programas como esses visam orientar e canalizar os resultados que
pretendemos obter. Paradoxalmente, por se tratar do estímulo à
criatividade de outras pessoas, por definição, jamais poderemos
prever as sugestões que irão surgir.
Trata-se, entretanto de uma experiência ímpar: traz benefícios
quantificáveis e não quantificáveis para a empresa, contribui
enormemente para desenvolvimento dos participantes e, portanto da
sociedade.
Particularmente, nunca vou me esquecer do depoimento de autor de uma
sugestão que confessou ser a primeira vez em sua vida que alguém o
ouvira.
Sem dúvida, os Programas de Sugestões são extremamente ricos,
surpreendentes e gratificantes para seus coordenadores.
Gisela Kassoy - Consultoria em Criatividade -
www.giselakassoy.com.br