Obstáculos para elaboração de Estratégias Mercadológicas
Por Carlos Eduardo Munhoz
01/11/2005
Talvez um dos maiores obstáculos ao alinhamento entre as duas partes
das estratégias mercadológicas – negócios e mercado- venha de um
fato que, na verdade, antecede esta discussão e que nem sempre é
levado em conta.
Cada organização deveria, antes de mais nada, definir qual será sua
postura com relação à inovações mercadológicas como um todo.
Classifico em quatro possíveis as posturas das empresas : líder,
seguidor imediato, seguidor lento e retardatários.
O líder é aquela empresa que efetivamente incorpora, como pioneiro,
novas tecnologias e tendências ao seu negócio, não raro bancando seu
desenvolvimento ou, por vezes, integrando, de forma inovadora
soluções e necessidades já existentes. Cria-se, assim, uma nova
solução, completamente diferente daquilo que vinha sendo praticado
até então.
Trata-se de uma postura de altos custos e alto risco. Empresas que
adotam esta postura devem estar preparadas para reveses. É
relativamente comum, durante a fase de desenvolvimento de novos
produtos/serviços o surgimento de dificuldades técnicas
insuperáveis, erro no dimensionamento do mercado entre outros.
Assim, muitas vezes o investimento acabou sendo um enorme gasto a
fundo perdido.
Por outro lado, esta postura pode trazer enormes vantagens
competitivas e posicionamento estratégico, ao ditar padrões e
consolidar a dianteira em relação à concorrência (players).
O seguidor imediato é aquela empresas cuja estratégia mercadológica
consiste em monitorar os principais concorrentes, incorporando as
estratégias tão logo estes as adotem. Esta postura de menor risco
garante uma redução de custos do investimento pioneiro. Por outro
lado, limita-se a possibilidade de um salto significativo em relação
à concorrência, uma vez que a tendência é estar sempre um passo
atrás do líder.
O seguidor lento, por sua vez, adota uma estratégia de baixo risco e
baixo custo, ciente de que não tomará a dianteira do mercado por
meio de inovações mercadológicas, mas também não pretende ficar
muito para trás. Esta postura, tipicamente conservadora, tem como
pano de fundo a decisão de minimizar os riscos e baratear os custos
de investimentos, uma vez que, ao aderir às novidades, a empresa, em
geral, paga por elas um valor substancialmente menor do que aquela
que foi bancado pelo líder e pelos seguidor imediato.
Ser seguidor lento consiste, em essência, em adotar uma estratégia
mercadológica de reação somente quando as necessidades e desejos dos
consumidores começam a se tornar comum no mercado como um todo.
Retardatários, são àquelas empresas que são as últimas a incorporar
as mudanças mercadológica, freqüentemente, perdendo terreno para
seus concorrentes.
É preciso enfatizar que, a despeito do que possa parecer à primeira
vista, nenhuma das posturas pode ser classificada como boa ou ruim.
Embora haa uma certa tendência no sentido de se associar o sucesso
às posturas de líder, isso não corresponde necessariamente à
realidade, entre outras coisas, devido ao enorme risco corrido pelas
empresas que as adotam.
Em outras palavras, uma postura consciente, qualquer que seja,
sempre auxilia no processo decisório. Assim, no momento em que
decido adotar uma postura com relação as estratégias mercadológicas
– qualquer que seja essa postura -, a organização está,
automaticamente, abrindo mão de todas as demais, seja isso feito de
forma consciente ou inconsciente.
Porém, se não houver a definição de uma postura quanto as
estratégias mercadológicas – qualquer postura previamente pensada
serve como orientação ! -, a decisão tende a ser tomada no varejo,
de forma nem sempre muito consistente, o que gera a falta de foco na
maioria das empresas.
(*) Carlos Eduardo Munhoz, administrador de empresas, MBA pela FGV e
professor universitário.