A Organização que Aprende
Por Jerônimo Mendes
02/02/2009
Como todos sabem, o sonho de Henry Ford era democratizar o automóvel
e produzi-lo em grande escala, com custo relativamente baixo, para
que todo cidadão americano fosse capaz de comprá-lo. Dessa forma, o
primeiro modelo Ford Modelo T começou a ser produzido em 1º de
outubro de 1908 e chegou a vender 15 milhões de unidades em quase
vinte anos de história.
De 1914 a 1925, os modelos foram fabricados somente na cor preta
para facilitar a secagem, que era mais rápida. Por conta disso,
Henry Ford expressou a sua frase mais famosa: “os clientes podem
escolher qualquer cor, desde que seja preta”. Em 1927, quando a
produção do Modelo T foi encerrada, a Ford passou a enfrentar uma
competição acirrada de sua compatriota, a General Motors.
Com o enfraquecimento das vendas e o fim do Modelo T, agravado pela
Grande Depressão de 1929, a Ford passou por muitas mudanças e
aprendeu o verdadeiro significado da palavra concorrência. Nesse
período, a empresa iniciou a produção do Modelo A, que chegou a
vender 4 milhões de unidades e tornou-se um sucesso naquela época.
Por volta de 1932, a Ford fabricava um terço de todos os automóveis
produzidos no mundo.
Henry Ford tornou-se um empreendedor mundialmente respeitado. Suas
idéias modificaram a maneira de fazer negócios e através delas o
mundo conheceu a mecanização do trabalho, a produção em massa, a
padronização do maquinário e dos equipamentos e, por consequência,
uma forte segregação do trabalho manual em relação ao trabalho
braçal.
Assim, os operários não precisavam apenas fazer o trabalho com o
mínimo de movimentação, mas passaram cumprir metas através da
filosofia de “produzir X carros em Y dias”.
Cem anos depois da produção do primeiro Modelo T, o mundo mudou
consideravelmente, mas a célebre frase de Ford continua viva na
mente de muitos empresários, gerentes e executivos de empresas, e
pode ser reescrita da seguinte forma: “você pode adotar qualquer
idéia na empresa, desde que seja minha”. A diferença é que a frase
pronunciada na época transformou Ford num empresário bem-sucedido e
nos dias de hoje pode transformar a sua empresa num verdadeiro
fracasso.
Para atender as necessidades de mudança, principalmente em tempos de
crise, as empresas e seus respectivos executivos precisam incorporar
um modelo cada vez mais poderoso: a organização que aprende ou a
organização orientada para o aprendizado. Na prática, são aquelas
empresas com capacidade de adquirir continuamente novos
conhecimentos organizacionais e de transformar o ambiente ao seu
redor mediante aplicação de novas idéias, experimentos e lideranças.
Empresas onde a única cabeça pensante é a do dono estão condenadas à
morte a partir do momento em que o dono desaparece e se afasta do
negócio ou ainda mesmo quando ele se encontra no comando. O mundo
está recheado desses exemplos de falta de visão, de bom-senso e de
humildade para reconhecer que o ambiente organizacional vai além do
seu alcance. O poder é algo fascinante e, assim como na guerra,
serve para o bem de uns e para o mal de outros.
Aprender é uma necessidade constante das organizações, portanto, não
espere que o aprendizado seja impulsionado por uma crise. A
transformação de uma empresa só é possível mediante uma compreensão
profunda da realidade atual e por uma visão compartilhada do futuro.
E o futuro, como você já está cansado de saber, reside nas ações
desencadeadas no presente.
O permanente descontentamento com o presente e o desejo de um futuro
promissor cria a tensão que impulsiona as pessoas durante um
processo de mudança. Parte do segredo da liderança está na
capacidade de criar essa tensão para extrair dela o futuro desejado.
Uma organização que aprende conta com excelentes ouvintes e
excelentes transformadores de idéias alheias em prática. E as idéias
sempre fluem com mais naturalidade, e mais propriedade, quando
nascem no subconsciente coletivo.
O aprendizado não é um fim em si mesmo, portanto, prefiro uma idéia
alheia com boas chances de dar certo do que uma própria com muitas
chances de dar errado. O mundo organizacional está repleto de
profissionais excelentes que sucumbem às idéias de empresários,
diretores e presidentes turrões que sentem prazer em contrariar as
pessoas e preferem dar ouvidos aos amigos de fim-de-semana, aos
filhos, à esposa e até mesmo aos empresários tão equivocados quanto
eles, em nome de um orgulho inútil ou uma tradição familiar.
Nunca trabalhe numa empresa onde o dono, ou o executivo nomeado por
ele, é espiritualmente fraco. Ainda que você precise mudar de
emprego, ou de negócio, várias vezes, o importante é tentar
construir o futuro que você e muitas pessoas da sua organização
desejam. E isso, lamentavelmente, talvez você não consiga na empresa
em que você está hoje. Então, existem duas alternativas: ou você
muda para encontrar um novo caminho ou fica, mas não reclama.
Por fim, as organizações que aprendem têm plena consciência de que o
aprendizado organizacional ocorre por meio de processos específicos
que abrangem a conscientização, a compreensão, a mudança, a análise
e a reflexão, portanto, elas não medem esforços explícitos e
contínuos para melhorar o que já é bom.
Talvez isso possa chocá-lo, mas quando a cabeça do dono não consegue
- e na maioria das vezes não quer - absorver as idéias do grupo em
benefício da sua própria organização, desista e mude para não acabar
como ele. O mínimo que você deve fazer é transferir o conhecimento
para um lugar onde ele possa ser mais bem aproveitado. Pense nisso e
seja feliz!
Jerônimo Mendes é Administrador, Consultor e Palestrante
Autor de Oh, Mundo Cãoporativo! (Qualitymark) e Benditas Muletas
(Vozes)
Mestre em Organizações e Desenvolvimento Local pela UNIFAE