Para que serve uma Marca, afinal?
Por Márcio Tadeu Furrier
26/01/2004
Ao longo da última década o assunto marca ganhou uma importância e
interesse inéditos. A aceleração do ritmo de competição pela
abertura da economia, aliada a um consumidor mais crítico em relação
ao valor entregue por produtos e serviços, evidenciaram a
necessidade de diferenciais competitivos sustentáveis. Nesse
cenário, as marcas podem assumir um papel decisivo. O tema
expandiu-se do campo do Marketing, onde era estudado como mais um
componente da oferta, para o campo da estratégia de posicionamento.
Não que o tema deva ser tratado de forma isolada, mas certamente
ganhou maior peso.
Uma marca, segundo a definição da AMA (American Marketing
Association) é: “um nome, termo, sinal, símbolo ou desenho, ou uma
combinação deles, com o objetivo de identificar bens ou serviços de
um vendedor ou grupo e diferenciá-los da concorrência.” Uma vez que
as marcas residem, do ponto de vista de sua significação, na mente
dos potenciais clientes, seu emprego é praticamente ilimitado.
Qualquer item, animado ou não, que possa diferenciar-se em alguma
dimensão, poderá dar origem a uma marca.
As empresas vêm procurando tratar o assunto de forma mais técnica,
entendendo a construção da marca como um processo crucial, e a
propaganda passou a ser vista como mais um elemento, não o único, no
trabalho de desenvolvimento de marca. Ao mesmo tempo, modelos de
valoração de marcas foram desenvolvidos para explicitar o que um
ativo intangível poderia representar de valor econômico, num momento
onde fusões e aquisições são fatos da vida empresarial.
Segundo Philip Kotler, “talvez a habilidade mais diferenciadora dos
profissionais de marketing é sua habilidade para criar, manter,
proteger e enriquecer marcas”. De fato, uma primeira tarefa que
surge é delimitar quais funções podem ser desempenhadas por uma
marca.
A existência de marcas não é um fenômeno novo: as primeiras marcas
remontam à pré-história, e serviam para responder às perguntas: quem
fabricou isto?, quem é seu proprietário?, o que é? e o que o torna
especial? Caçadores na pré-história gravavam suas armas para indicar
propriedade, ceramistas da Grécia e Roma pressionavam seu polegar na
argila ainda úmida na base dos potes para indicar sua origem, na
Idade Média as corporações e as famílias usavam tradicionais
símbolos heráldicos, remédios e fumo eram marcados na jovem América,
até chegamos hoje às marcas mundiais. Formalmente, uma marca sempre
foi um meio eficaz de condensar e comunicar uma realidade complexa
numa imagem que trancende fronteiras.
Do ponto de vista econômico, a marca facilita as transações, pois
torna mais rápida a interpretação e processamento das informações
pelo cliente em relação a determinada experiência com o produto,
aciona ou não suas expectativas de confiança, identificação, ética,
satisfação e auto-expressão, servindo como critério de redução de
risco na decisão de compra. Para as empresas, a marca forte melhora
a eficiência dos programas de Marketing, permite o desenvolvimento
de programas de relacionamento e fidelidade, fornece uma
diferenciação protegida por lei (marca registrada), facilita o
processamento de pedidos, deixa uma base para a comunicação da
imagem corporativa, delimita um valor de ativo intangível no caso de
venda e uma fonte de segmentação eficaz, possibilita obter maiores
retornos e maior alavancagem comercial, e ainda dá margem para
futuras expansões de marca.
A marca é ao mesmo tempo uma entidade física e espiritual; ela dá
sentido e define a identidade do produto/serviço no tempo e espaço.
Isso significa que a marca extrapola os atributos físicos do produto
e sua embalagem e incorpora conteúdos psíquicos na mente do
consumidor. A posição que sua marca ocupa na mente do cliente pode
ser seu maior diferencial competitivo sustentável. Um bom motivo
pata se preocupar com a marca, não?
Marcio Tadeu Furrier é graduado em Administração pela FEA/USP, pós
graduado em Marketing pela ESPM/SP e mestrando pela PUC/SP.
Atualmente desenvolve sua dissertação com o tema Reposicionamento de
Marcas.