Para quem contar e com quem contar para que sua idéia dê certo
Por Gisela Kassoy
20/10/2007
Tenho uma grande amiga chamada Sumara Ancona Lopes, que trabalha no
SENAI. Ao que parece, ela costuma repassar meus artigos
internamente. Eis que o João Ulysses Laudissi, colega dela, leu um
artigo meu sobre como vender idéias e pediu para que eu explorasse
mais um dos itens, que é sobre a contribuição de outros para o
sucesso de nossos projetos.
Bem lembrado, pois o que mais necessitamos hoje em dia são pessoas
dispostas a ajudar. Não é à toa que o termo network está tão em
voga.
E por quê? Zigmunt Bauman, sociólogo especialista na análise do
cotidiano, explica que uma das características da nossa era é não
podermos mais contar com soluções coletivas para nossos problemas.
No século XX, fazer revoluções ou emigrar eram alternativas viáveis
diante de problemas políticos ou econômicos. Hoje, a tendência é
buscar soluções individuais. Quando diminui a oferta de emprego, por
exemplo, a saída é tornar-se indispensável na empresa ou para os
clientes. Como fazê-lo, depende de cada indivíduo.
Mas o sucesso de cada um depende do apoio de muitos. Sobretudo no
caso de uma idéia nova, precisamos de pessoas que as avaliem, que as
aprimorem e de gente que conhece alguém que conhece alguém....
Infelizmente, não dá para esperar que toda a humanidade seja assim.
Portanto, o primeiro passo é escolher pessoas certas:
Fuja dos piratas, pessoas que poderão roubar suas idéias. Piratas
modernos não são facilmente identificáveis, portanto, verifique a
reputação de seu futuro interlocutor e veja se ele teria algum
interesse especial em se apropriar de sua idéia, ou se poderia se
sentir humilhado por não ter tido a idéia antes.
Haja com cautela com os pessimistas. Lembre-se que o negativismo é,
sobretudo, um estado de espírito, nem sempre está relacionado à
qualidade de sua idéia, mas sim à forma como seu interlocutor vê o
mundo. Ignore zombarias, mas ouça atentamente àqueles que se
dispuserem a explicar por que sua idéia não vai dar certo. O que
você ganha com isso? Terá um panorama dos riscos potenciais, e
poderá se preparar para administrá-los. Só não permita que a lista
dos riscos faça com que você desista da idéia.
Procure seus cúmplices. Falo aqui sobre quem torce e contribui para
seu sucesso. O cúmplice nem precisa ser um amigo íntimo, mas é
alguém que vibra com projetos novos, tem facilidade em visualizar o
futuro. Já que ele vibra, não se intimide: descreva sua idéia e
absorva suas reações. Se ele for um grande entusiasta, lembre-se que
o otimismo também é uma característica pessoal, mas aproveite seus
depoimentos para ver como pode valorizar seu projeto. Se ele
visualizar aspectos positivos e negativos, ouça atentamente. Se ele
quiser mudar tudo, não se irrite. Ouça sempre... de qualquer forma,
a decisão final é sempre sua.
Há também os cúmplices networkers . Mais do que avaliar sua idéia,
eles darão indicações de locais, estudos, pessoas. Vá atrás.
Lembre-se da teoria tão grata a Duncan Watts, criador da ciência das
redes: para você encontrar a pessoa certa, são necessários seis
contatos.
Segundo Watts, estatisticamente, é assim que os relacionamentos
funcionam. Portanto, não desista antes da sexta apresentação. Para
evitar piratas, jogue a isca, mas não dê detalhes. Estou pensando
em... é um ótimo começo de conversa.
Deixe portas abertas. Se sua idéia foi recusada, veja se seu
interlocutor pode lhe indicar outra pessoa, desperte nele o
interesse em dar continuidade à rede.
Lembre-se que os percursos não são lineares, Aliás, o artigo que
gerou este aqui já é um exemplo: Gisela o enviou para Sumara, que o
mandou para João Ulisses, que deu uma idéia para Gisela. Uma grande
amiga e alguém que nem me conhece pessoalmente, ambos foram meus
cúmplices, contribuindo para meu projeto de dar dicas sobre inovação
para as pessoas.
Finalmente, esteja você mesmo imbuído dessa curiosidade pelo novo,
da vontade de fazer o mundo prosperar. Seja cúmplice de seus
cúmplices e estimule este espírito sempre que puder.
As soluções são individuais porque cada um resolve para si. Mas é a
cumplicidade que faz com que a vida fique mais fácil e mais
estimulante para todos.
Gisela Kassoy - Consultoria em Criatividade -
www.giselakassoy.com.br