O Paradigma do Marketing Pós-Moderno na Sociedade Complexa
Por Fred Tavares
22/08/2007
Primeiramente, convido o leitor a uma reflexão sobre a abrangência
conceitual do marketing, a fim de permitir uma melhor navegabilidade
no artigo apresentado. Para tanto, torna-se necessário focalizar a
idéia do que seja marketing dentro de uma visão pós-moderna (o
pensamento do devir, da sociedade em permanente transformação). Não
quero com isto ser mais um (entre milhares) a definir o que é
marketing, mas sim compreendê-lo dentro de uma abordagem
contemporânea, através de uma perspectiva interparadigmática.
O marketing localiza-se no limite de separação entre os modelos
econômico e a interpretação do ambiente social e cultural
(necessariamente variável e mutável). A isto se acrescentam ainda as
necessárias teorias sobre a psicologia do consumidor, as estratégias
derivadas da teoria da comunicação, os campos da ciência cognitiva e
da lingüística, e os modelos organizacionais.
Como o conhecemos, o marketing ainda não é uma ciência; é uma
atividade empresarial que busca satisfazer necessidades e desejos de
um determinado mercado, através da troca de bens e serviços, visando
à produção de lucro. A base da sua epistemologia é, inegavelmente,
interdisciplinar: aglutina todas as ciências sem ser (ainda) uma
ciência; utiliza as teorias de outras áreas, mas, é, em algumas
vezes, empírico; é algorítmico e heurístico; é tudo ... e nada, ao
mesmo tempo, pois lhe falta assumir um foco transdisciplinar.
Contudo, a definição conceitual, que é sistematicamente aplicada ao
marketing através do comportamento da troca como o paradigma
central, é demasiadamente reducionista e estritamente econômica e
antropológica.
Não são poucas as críticas a que este conceito foi submetido.
Críticas que cada vez ressaltavam o caráter abstrato da definição,
sua ambigüidade e nebulosidade, sua inutilidade do ponto de vista
prático. Efetivamente existem outras disciplinas que podem disputar
com o marketing o privilégio de se ocupar especificamente da troca,
particularmente a economia, mas também a antropologia.
Apesar do paradigma do marketing as exchange ser reconhecido hoje
pelos demais, podemos dizer que esta definição, caso se dê conta do
argumento fundamental de que o marketing se ocupa, não é capaz de
caracterizar a ótica específica desta disciplina.
Como vimos, o conceito de marketing é frágil: marketing as exchange
poderia ser substituído por antropology as exchange. Mas para
facilitar a nossa leitura, vamos nos ocupar do seguinte princípio:
marketing deve satisfazer um ser psicossocial que utiliza os objetos
e o consumo para comunicar aos outros e a si mesmo sua própria visão
do mundo. O marketing deve olhar o cliente como um sujeito cuja
identidade é efêmera e instável, que sublinha o complicado e
ininterrupto diálogo entre o "eu" e os múltiplos "eu psicossociais".
Concordando com a tese de Madia, em Datamarketing Behavior, o
cliente é um indivíduo "camaguru": que não é, está. Um ser híbrido:
mudando de identidade, assumindo várias personalidades.
A Revolução Industrial é um marco para o marketing, e teve o seu
conceito evoluído, nos últimos 50 anos. A história do marketing pode
ser contada, através de uma série de acontecimentos antropológicos
em nossa sociedade de consumo. Saímos da geração baby boomers (2a
Guerra Mundial), passamos pela geração X (década de 80) e, agora,
estamos chegando na Y (os meeting points e os camagurus - camaleão
mais canguru, "saltando" de um ambiente para outro, modificando-se,
tornando-se um novo "eu" a cada consumo). O que fez o marketing para
acompanhar essas transformações? As pessoas mudaram e o marketing
não. A fragmentação da demanda e a impossibilidade de segui-la
quando se torna diversificada e mutável demais tornam necessária uma
mudança de perspectiva.
Como focalizar o marketing, então? No contínuo aprendizado da
demanda, a partir das relações psicossocioculturais, que transformam
o sujeito em muitos sujeitos, influenciado (e influenciando),
principalmente, por múltiplos atores sociais. O foco do marketing é
este: ele precisa da antropologia, da sociologia, da lingüística, da
psicologia, da administração, da ciência cognitiva, da economia, da
tecnologia e um pouco de sorte para existir e funcionar.
Como define McKenna, marketing é, acima de tudo, relacionamento. E
eu acrescentaria que ele deve se ocupar de aprofundá-lo no âmbito
psicossocial, procurando entender o indivíduo (não como um
consumidor) mas como um ser pluralista, que está ajudando o
marketing a rever os seus próprios paradigmas.
Conceber o marketing na contemporaneidade pressupõe um pensamento
complexo, interparadigmático. Isto porque na pós-modernidade, o
consumidor é uma subjetividade plástica, líquida. Portanto, o
marketing deve ser trabalhado sob o prisma de um conhecimento
dialógico das ciências, que tem no consumidor - como uma
subjetividade em permanente produção - o norte para as suas análises
e reflexões. Afinal de contas, o objetivo central do marketing é
satisfazer a demanda de forma mais eficaz e criativa possível.