Pequenas Idéias, Grandes Negócios
Por Gisela Kassoy
20/10/2007
Devo o título deste artigo a Humberto Lusvarghi, participante de um
workshop de criatividade que fiz para a BASF. Foi numa conversa de
intervalo, dessas regadas a suquinhos e sanduíches, que o Humberto
me procurou para falar sobre a desmistificação do processo criativo.
O ponto é o seguinte: a originalidade, as idéias extraordinárias, às
vezes ajudam. Às vezes são fundamentais.
Mas nem sempre. Há uma noção de que as melhorias – também chamadas
de inovações incrementais voltadas para melhorias, redução de
custos, etc. – são fruto de muitas pequenas idéias, enquanto que a
inovação de impacto – normalmente voltada para novos produtos ou
estratégias de marketing – é fruto de uma grande idéia. Não é a
idéia que tem que ser grande: grande tem que ser o seu efeito.
Há diferenças que fazem toda a diferença, como a passagem do cadarço
para o velcro nos tênis, por exemplo. Quantas boas idéias, quantas
inovações de fato lucrativas, pode-se ter trazendo idéias já
consagradas de outros segmentos? A Springer Carrier, por exemplo,
inovou sua estratégia de marketing trazendo do universo da decoração
a idéia do show-room. Assim, hoje temos show-rooms de
ar-condicionado, por que não? Outro argumento em defesa das pequenas
idéias vem dos consultores americanos Alan Robinson e Dean
Schroeder, autores do livro “Ideas Are Free”: para eles, são as
grandes idéias que tendem as ser copiadas rapidamente pela
concorrência, pois chamam mais a atenção.
No fundo, precisamos redefinir a noção do que é uma grande idéia,
pois a busca do ineditismo e da ousadia pode nos tolher a visão ou
provocar idéias de difícil implementação. Não podemos nos deixar
impressionar pela grandiosidade das idéias que caem em nossas mãos:
elas não são necessariamente as mais rentáveis, são apenas as que
mais aparecem. É extremamente saudável para quem quer inovar
conhecer o histórico de inovações. O processo criativo é
desmistificado.
Assim, além da famosíssima história do post-it, oriundo da cola que
não colava, devemos ir atrás de histórias como a do Martini: uma
companhia aérea americana precisava reduzir custos e para isso
deixou de oferecer Martini, que já era pouco consumido, nos vôos
matinais. Com isso, eliminou também as azeitonas (produto perecível
e portanto mais caro) e aproveitou o espaço que elas ocupavam na
geladeira para outras coisas. Atenção: essa idéia foi dada por um
comissário de bordo. E o que foi preciso para que ele a gerasse?
Nada de arroubos de genialidade. Bastou estar atento, observar
rotinas como processos mutáveis, conhecer o próprio trabalho.
Para as pessoas que utilizam, ensinam e facilitam processos de
brainstorming (ou tempestade cerebral, o momento de expressar todas
as idéias a respeito de um assunto, sem censura) vale lembrar que
nesta fase, além das idéias absurdas, deve haver espaço para as
idéias que – apesar de quebrar paradigmas – em sua essência são
simples. Na segunda fase do brainstorming, quando as idéias são
agrupadas e selecionadas, a busca da grande idéia pode podar as
pequenas. Além disso, o agrupamento das idéias pode ser perigoso:
juntando idéias parecidas, poderemos perder de vista aquela que fará
toda a diferença.
Outra forma de gerarmos idéias boas, rentáveis e não necessariamente
grandiosas é por meio da técnica da “fertilização cruzada”. O nome,
oriundo da biologia, fala justamente da nossa capacidade de obter
inspiração em universos diferentes dos nossos, como no caso da
Springer Carrier, citado acima. Assim, se a idéia do Martini veio da
observação do cotidiano, inúmeras outras idéias surgem da observação
do diferente. Finalmente, é preciso estar preparado para a inovação.
Em vendas e em atendimento costumam surgir inúmeras idéias, pequenas
mas poderosas, freqüentemente geradas pelos próprios vendedores e
atendentes. Muitas vezes essas idéias se perdem ou são utilizadas
uma única vez, pela falta de um canal de resgate e comunicação. É
preciso lembrar de que pequenas idéias geram grandes negócios.
Gisela Kassoy - Consultoria em Criatividade -
www.giselakassoy.com.br