Percepção e o Processo de Compra
Daniel Portillo Serrano
A Percepção define aquilo que os
nossos sentidos nos apresentam e
identificamos como algo vindo do
ambiente externo. A percepção de
um mesmo fato pode ser diferente
para duas pessoas que acompanham
o mesmo evento. Um estampido
ouvido pela janela de uma sala
de aula pode levar o professor a
pensar que ouviu um tiro e levar
um aluno a pensar que ouviu uma
moto com o escapamento aberto.
Da mesma forma, uma sirene pode
levar um indivíduo a crer que
houve algum crime nas redondezas
enquanto outro chegará à
conclusão que há um incêndio a
ser debelado. Um terceiro poderá
concluir que um paciente está
sendo levado a um hospital.
O motivo? o primeiro associou a
sirene a uma viatura de polícia,
o segundo a um carro de
bombeiros e o terceiro a uma
ambulância. Para Stephen
Robbins, a Percepção pode ser
definida como "o processo pelo
qual os indivíduos organizam e
interpretam suas impressões
sensoriais com a finalidade de
dar sentido ao seu ambiente.
Essa diferença de percepção de
uma pessoa para outra em relação
a algo que atinge nossos
sentidos se faz presente,
também, no processo de compra. A
Percepção pode ser influenciada
por três fatores básicos:
aqueles ligados à situação, os
ligados ao comprador e os
relacionados ao produto ou
serviço.
Fatores de situação: | Fatores no produto ou serviço: | Fatores do Comprador: |
Momento Ambiente em casa Ambiente com os amigos
|
Tamanho Novidade Preço Tecnologia Identidade Apropriação Adequação |
Motivação Necessidades Atitude Interesse Desejos Experiências anteriores Expectativas |
Na prática, a percepção nada
mais é do que um processo que
nos permita decodificar os
estímulos e mensagens externas
que recebemos a cada segundo. Se
as necessidades e motivações de
um indivíduo, analisadas
anteriormente, se concretizam,
por vezes, na compra e no
consumo ou em qualquer outro
ato, não deveríamos chegar à
conclusão, precipitadamente, que
o interior do ser humano é o
suficiente para explicar todos
os seus atos, comportamento e
atitudes. Além de suas
necessidades básicas,
psicológicas ou biológicas, o
que um consumidor compra
depende, também, do que há
disponível no meio que o rodeia.
De certa forma, podemos
descrever percepção como a forma
que enxergamos o que há ao nosso
redor.
Em termos gerais, a percepção
pode ser descrita como a forma
como vemos o mundo à nossa volta
e o modo segundo o qual
construímos a representação a
respeito do conhecimento que
temos a respeito dos objetos e
do ambiente, o que muitas vezes
acaba induzindo a erro. Perceber
é o ato de captar o através dos
sentidos e fixar essa imagem na
mente.
As relações entre o indivíduo e
o mundo que o rodeia são assim
regidas pelo mecanismo
perceptivo e todo o conhecimento
é necessariamente adquirido
através da percepção.
Duas pessoas da mesma idade, do
mesmo sexo e da mesma classe
social, expostas ao mesmo
estímulo podem captá-lo e
organizá-lo de forma
diferenciada de acordo com as
suas necessidades individuais. E
as suas expectativas.
Por esse motivo, se torna
primordial tentar entender o
processo que rege essas
diferenças e de que forma a
captação de um estímulo e a sua
interpretação acabam diferindo
de uma pessoa a outra.
A percepção tem início quando,
através dos sentidos, a pessoa
recebe um estímulo que o envia
ao cérebro. Podemos dizer que a
percepção nada mais é do que a
recepção de um estímulo no
cérebro, ou ainda de que forma
os estímulos externos são
selecionados, organizados e
interpretados pelo indivíduo.
O processo é dividido em duas
partes. A sensação em si, ou
seja, o mecanismo físico no qual
os órgãos sensoriais como
ouvidos, olhos e nariz registram
e enviam os estímulos ao cérebro
e a interpretação do processo,
que tem a função de fornecer à
pessoa um significado sobre o
estímulo recebido.
A sensação é uma resposta
imediata dos órgãos sensoriais a
um estímulo recebido do exterior
como a luz, a cor, o som, uma
música, um diálogo ou o cheiro
de um perfume. A sensibilidade
da pessoa a este estímulo
externo pode variar de acordo
com a saúde de seus próprios
órgãos (um deficiente audito não
terá a mesma percepção de um som
que uma pessoa com audição
normal) e a o volume, a
intensidade e a quantidade de
estímulos emitidos em nossa
direção. Quando um dos sentidos
enfraquece, os demais são
fortalecidos. Um deficiente
visual acaba desenvolvendo a
audição e o tato a níveis
maiores dos que os de uma pessoa
que enxergue bem.
A Sensação ocorre de forma
diferencial, ou seja, as pessoas
só reparam naquilo que se
distingue do geral, naquilo que
é diferente, nos desvios, nas
irregularidades, nas coisas
diferentes. Naquilo que não é
normal. À medida que o nível de
estímulos sensoriais diminui, a
capacidade de perceber as
diferenças dos estímulos é
ampliada sobremaneira. Passamos
a notar melhor os estímulos que
nos são expostos. Quanto menores
as condições de estimulação,
tanto maior será a
sensibilidade. É por este motivo
que a atenção aumenta, por
exemplo quando vemos uma pessoa
sozinha e não junto a uma
multidão. Ou quando vemos um
carro vermelho junto a dezenas
de outros, por exemplo, na cor
prata.
A sensação oferece uma
diferenciação de diversas
amplitudes, cuja interpretação
aparece de diversas formas, seja
por diferenças de tamanho, cor,
brilho ou forma.
A percepção depende também da
relação do estímulo com o meio
ambiente e com as condições do
indivíduo.
A mesma imagem pode ser
percebida diferentemente por
dois indivíduos. Uma pessoa
falando alto pode dar a idéia
para alguns de que está de mau
humor e para outros que está
querendo ser entendido. As
pessoas podem entender de forma
completamente diferente uma
mensagem que está se tentando
passar devido às diferenças em
percepção. Esse processo ocorre
devido a tres fatores que nos
fazem apresentar comportamentos
diferenciados em di diversas
situações: a atenção seletiva, a
distorção seletiva e retenção
seletiva.
Atenção Seletiva
Recebemos diariamente milhões de
estímulos. Com certeza ninguém
atende a todos os estímulos que
recebe. Podemos citar alguns
exemplos:
É mais provável que as pessoas
percebam os estímulos
relacionados a uma necessidade
atual. Se desejarmos comprar um
automóvel, provavelmente
prestaremos atenção nos carros
da rua, anúncios e reportagens
sobre automóveis.
Da mesma forma prestaremos mais
atenção em conversas sobre
automóveis do que conversas
sobre a atual situação política.
Outra constatação é que as
pessoas irão perceber mais os
estímulos cujos desvios sejam
maiores em relação a um estímulo
normal. Provavelmente
prestaremos mais atenção em um
anúncio que oferece condições
especiais de financiamento para
a compra de um carro que um
anúncio oferecendo três
desodorantes ao preço de dois.
Distorção Seletiva
Nem sempre os estímulos ocorrem
da maneira prevista por seus
criadores. A distorção seletiva
é a tendência de as pessoas
interpretarem as informações de
acordo com os seus desejos
particulares. Dessa forma, o
indivíduo reforça os seus
preconceitos em vez de
contrariá-los. No caso do
automóvel, se alguém nos falar
bem ou mal de uma determinada
marca que estamos dispostos a
comprar, provavelmente
reforçaremos o que já tínhamos
de positivo e não reteremos o
que nos foi falado de negativo.
Retenção Seletiva
As pessoas têm uma tendência a
esquecer muito mais informações
do que aprendem, mas existe uma
tendência de guardar aquelas
informações que interessam no
momento, ou que reforçam suas
atitudes e crenças. No caso do
automóvel, é provável que nos
lembremos sempre dos pontos
positivos da marca que queremos
comprar e acabemos nos
esquecendo de informações
positivas sobre outras marcas.
Daniel Portillo Serrano é Palestrante, Consultor e Professor. Bacharel em Comunicação Social com ênfase em Marketing Pela Universidade Anhembi Morumbi, e pós graduado em Administração de Empresas pelo Centro Universitário Ibero-Americano - Unibero, Mestre em Administração de Empresas pela Universidade Paulista - UNIP. É consultor de Marketing e Comportamento do Consumidor e editor dos sites Portal do Marketing e Portal da Psique . Tem atuado como principal executivo de Vendas e Marketing em diversas empresas do ramo Eletroeletrônico, Telecomunicações e Informática. É professor de Marketing, Administração, Estratégia, Comportamento do Consumidor e Planejamento em cursos universitários de graduação e pós-graduação. Contato: daniel@portaldomarketing.com.br .