Pesquisa de Mercado: um mero questionário?
Por Paulo Angelim
23/10/2005
Está fora de questão a importância da pesquisa de mercado nas
atividades de marketing. Quando se pensa em observar e analisar
qualquer um dos elementos do “marketing mix”, a pesquisa (incluindo,
aí, a correta análise da mesma) é a única e insubstituível
ferramenta. É como um óculos. Transforma o turvo em claro. Sombras
em luz. Contornos em formas. Fora disso é puro “achismo”. A
contratação de pesquisas de mercado está, sempre, acompanhada de
questões quanto a questionário, universo pesquisado, amostra, erro,
significância, desvio, e outros quesitos à mais que compõem a boa
pesquisa. Isto está correto. O que me preocupa é, por muitas vezes,
a falta de um componente imprescindível não só à pesquisa, mas a
qualquer outra atividade de trabalho, seja qual for a área: o BOM
SENSO. E, assim como eu não sou, você não precisa ser um
especialista em pesquisa para aplicá-lo.
Dias atrás, analisei uma pesquisa que um cliente havia contratado há
alguns meses. Tomei um susto com as várias questões inapropriadas, e
sugeridas no questionário de campo. Exemplo: “O que o(a) Sr.(a) acha
de um serviço de guincho 24hs?” Possíveis respostas: Muito
importante, importante, pouco importante, não sei. Precisa de muito
esforço para adivinhar o resultado? É lógico que não. Quase 90%
responderam “muito importante” e “importante”. Que conclusões
podemos chegar a partir desta questão? Sinceramente, que os
entrevistados acham muito importante e importante o serviço, e só.
Mas, se fosse perguntando “Quantas vezes nos últimos seis meses o(a)
Sr.(a) precisou de serviço de guincho 24hs?”, certamente, poderíamos
mensurar a demanda por este tipo de serviço e a urgência da empresa
em disponibilizá-lo aos seus clientes, como um diferencial
competitivo. E, assim como aquela, foram várias as outras perguntas
desvinculadas do real intuito do cliente: avaliar o comportamento e
a opinião de seu mercado de consumo.
Perguntei ao cliente se havia sido feita uma pesquisa anterior,
qualitativa. Estão sentados? O cliente, indefeso e acoado, respondeu
que, por orientação dos profissionais, a pesquisa qualitativa seria
feita depois, para conhecer com profundidade os consumidores em
potencial. Retruquei: então, com base em que foram elaboradas as
perguntas? Resposta: foram elaboradas pela agência e pela empresa de
marketing. Quer dizer, uma completa inversão de papéis. Não me
admiro que as perguntas tenham sido tão impertinentes. Foram
baseadas em sentimento, e não em análise de profundidade e
qualitativa das preferências e expectativas do consumidor.
Qual a culpa do cliente nesta história? Nenhuma. O problema está,
sim, naqueles que o fizeram pagar uma boa soma de dinheiro, para
chegar a lugar algum. Não é por acaso que, na grande maioria das
vezes, desconsidera-se a pesquisa. Para a grande maioria das
empresas, a pesquisa passou a ser uma despesa alta, inconveniente, e
improdutiva.
Na verdade, ela deveria ser o investimento prioritário a preceder
toda e qualquer ação de marketing. Como eu já disse em outra
ocasião, a alma do negócio deixou de ser, há muito tempo, a
propaganda. Hoje, a alma do seu negócio é, antes de tudo, conhecer o
seu mercado de atuação (clientes, concorrência, fornecedores). E
para fazer isso, só valendo-se de uma boa e fundamentada pesquisa.
Pela falta de critério e, principalmente, bom senso, a pesquisa de
mercado tem virado um mero questionário.