Pesquisas são Pesquisas
Alberto de Oliveira Lima Filho
04/02/2001

1.Pesquisas

As recentes pesquisas eleitorais foram centro de polemicas e questionamentos quanto sua validade e utilização. Na realidade pesquisas são pesquisas e portanto podem variar em termos da qualidade da metodologia aplicada, no que refere aos instrumentos de marketing e técnicas de investigação, incluindo-se neste conjunto uma série de contribuições interdisciplinares derivadas da estatística, da análise de atitudes, da coleta das unidades amostrais, do conhecimento de ciência política e de legislação eleitoral.

Quando executadas dentro de padrões corretos ou seja dentro de parâmetros científicos de investigação comportamentais de indivíduos ou grupos, as pesquisas são validas para orientar partidos e candidatos em seu processo de comunicação com eleitores, instituições e segmentos eleitorais - sejam eles ideológicos ou regionais.

2. Conceito:

Pesquisas, quando definidas, sob perspectivas acadêmicas e portanto ortodoxas, são métodos científicos inter disciplinares de investigação, cujo objetivo central é examinar fenômenos, objetos, contextos, eventos e conjuntos comportamentais com a finalidade de criar inferências que possibilitem explanações de caráter quantitativo e/ou qualitativo sobre os objetos de pesquisa. As inferências, resultantes do processo de pesquisa, devem ser sólidas e suficientes, para aceitar ou rejeitar hipóteses , servindo, simultaneamente como bases e argumentos para a formulação das conclusões de pesquisa.

3.Pesquisas de opinião:

Trata-se de forma específica de pesquisa, na qual o analista procura coletar, examinar e interpretar atitudes, motivação, rejeição, aceitação, discordância, concordância, adoção integral ou restrita quanto aos atributos do fenômeno pesquisado. As resultantes destas pesquisas são, de forma genérica, de natureza qualitativa, podendo ser mensuradas em intervalos nominais, devendo porém ser validadas mediante aplicação de testes estatísticos. Se adotados os critérios acima este tipo de investigação oferece bases adequadas para que sejam feitas inferências e conclusões sobre o universo de pesquisa e seus atributos atitudinais.

4.Pesquisas de opinião em matérias eleitorais:

Em períodos eleitorais ou pré-eleitorais são conduzidos projetos de pesquisa visando investigar e interpretar o contexto e conjunto de vetores que influem nos indivíduos , instituições, partidos para formação de suas opiniões em relação à ideologias, programas de governo, problemas conjunturais, candidatos, lideranças, prioridades e diretrizes públicas.

5.Taxonomia:

São inúmeros os formatos em que podem ser estruturadas as pesquisas de opinião quanto a temas eleitorais. Nas fases pré-eleitorais estes processos, de forma correta, devem ser orientados para a investigação, análise e interpretação dos problemas individuais, coletivos, locais, regionais ou nacionais que representam os vetores para a formação de opinião relacionadas com a conjuntura, com um partido, com um programa de governo ou com o perfil de um candidato no que tange à conjuntura atual e futura. Nesta fase a investigação das intenções de votos ainda não tem centralidade. O foco principal das pesquisas pré-eleitorais deverá estar concentrado na busca de informações para estruturar a campanha dos partidos e dos candidatos aos cargos de todos os níveis. Na fase eleitoral, ou seja quando partidos e legendas apresentam suas chapas a investigação passa ter como foco central a pesquisa de intenção de votos. Estas pesquisas são, por sua natureza, muito complexas, voláteis, com validade de curto prazo, devendo portanto ser efetuadas ao longo da campanha, em intervalos semanais ou quinzenais, alterando-se quando necessário o conjunto de perguntas do questionário.

6. Fases diversas de uma pesquisa.

As opiniões, preferências , motivações e atitudes são, em geral, construídas a partir do impacto das informações recebidas e processadas por indivíduos ou grupos sociais, - no caso eleitores e segmentos eleitorais - que alteram ou mantêm suas opiniões em função do efeito que o conteúdo tem sobre os mesmo. Em conseqüência das características extremamente dinâmicas do conjunto atitudinal da motivação humana, as investigações devem ser conduzidas antes e depois que evento importante ocorra e que portanto possam alterar de forma significativa a posição de um candidato ou de um partido. Uma vez efetuadas em diversas fases as novas informações irão evitar que o efeito histórico prejudique as interpretações de preferências que eventualmente poderiam ter sido alteradas por eventos novos de teor positivo ou negativo. Na maioria das situações as pesquisas são ou devem ser conduzidas em três fases:

1ª fase- pesquisando as características de problemas regionais em suas dimensões sociais, econômicas, ideológicas e políticas.

2ª fase- pesquisando e avaliando o efeito da comunicação dos candidatos

e dos partidos junto aos colégios eleitorais, levando em consideração que

a temática usada na promoção de idéias, candidatos e partido, teve como base inferências e interpretações obtidas na primeira fase.

3ª fase- mensurando as intenções de votos, quanto a candidatos, partidos e propostas de ação sugeridas pelos mesmos em suas apresentações. Estas pesquisas deverão ser efetuadas ao longo das campanhas e deverão mensurar as tendências e o efeito específico de pronunciamentos ocorridos durante e ao longo dos contatos com o eleitorado.

Nesta ultima fase as informações desejadas não devem ser apenas de caráter quantitativo mas também incluir avaliações dos respondentes quando ao perfil do candidato, seu despenho, sua capacidade analítica quando a assuntos de conjuntura recente e a congruência entre seu discurso e sua performance passada e sua conduta atual. A interpretação dos resultados destas investigações são da maior relevância , notadamente quando não ocorre diferenças significativas quanto a preferência entre candidatos e partidos.

7.Metodologia;

A validade de qualquer método de investigação cientifica é correlacionada com qualidade e a solidez da metodologia adotada na definição do problema central de pesquisa, na sua estrutura de planejamento, na correção da elaboração dos questionários, na configuração apropriada do universo de pesquisa, nos procedimentos corretos quanto as amostras no que se refere aos seus parâmetros quantitativos e qualitativos, nas tarefas de coleta de campo, no tratamento dos dados primários, quanto sua classificação mensuração e análise.

Falhas ou falta de técnicas adequadas na execução destes procedimentos invalidam quaisquer inferências e recomendações dos pesquisadores .

Darrell Huff, citando Disraeli, famoso político francês, afirma que " existem três tipos de mentiras: as mentiras, as mentiras malditas e as falsas estatísticas".

É evidente que pesquisas de má qualidade reúnem os três atributos mencionados por Darrell. Em contra partida uma pesquisa configurada com apoio de estrutura metodológica apropriada tem inúmeras qualidades pois economiza o processo de reconhecimento de atributos dos mais variados tipos de universos, sejam eles objetos, eventos, ciclos de produção, níveis de preços, indicadores econômicos, preferências por produtos e marcas, aceitação, rejeição e mesmo aderência idéias, credos, leis, escolas de arte, tendências arquitetônicas, etc. As pesquisas eleitorais, que são métodos de investigação de comportamento social, de pessoas e grupos, como é óbvio, não podem e não devem ser estruturadas fora de metodologias convencionais; fora disto são placebos, são remédios falsos e além disso são instrumentos nada éticos para serem adotados em regimes democráticos. Existem pressupostos básicos a serem usados em pesquisas desta categoria, que resumidamente podem ser mencionados, para delinear os contornos de uma metodologia honesta e não viezada, o que valer dizer cientificamente aceita.

Quando mal elaboradas, e portanto, fugindo de princípios e métodos cientificamente comprovados, as investigações de processos eleitorais, tem um efeito dramático e devastador - mentem para os candidatos e desorientam os eleitores e portanto mentem também para eles.

Neste particular a metodologia a ser aplicada nas pesquisas de opinião pública revestem-se na maior relevância, pois definem o divisor de águas entre um procedimento válido e uma forma dissimulada de manipulação de pessoas e de grupos sociais. Atualmente os custos de conduzir pesquisas desta natureza são altos gerando como é óbvio lucros significativos para os agentes econômicos que são contratados para sua execução. Surgem então alguns arrivistas, que além de não ter conhecimento e escolaridade para executar tais tarefas, usam seus pseudo resultados de forma desonesta, em no mínimo duas situações: 1-por falta de instrumental metodológico adequado; 2- por intencionalmente desejarem divulgar resultados falsos pré- manipulados. A nova lei eleitoral (Lei 9504/30/09/1997), examina a questão das pesquisas eleitorais no concerne à sua metodologia e divulgação, mas deixa de definir com clareza tópicos relacionados com: testes de validade estatística dos dados colhidos e sua consistência com o perfil obtido versus o perfil desejado no planejamento das amostras; não define as características que devem constar da metodologia proposta ou sugerida para a realização da pesquisa; omite quais deverão ser os parâmetros dos métodos de controle, verificação, conferência e controle bem com métodos estatísticos não - paramétricos , que seriam adequados para grande das estruturas amostrais que não têm caráter puramente aleatório; não são também indicados quem avaliaria o teor das informações registradas na Justiça Eleitoral e à quem caberia sua, eventual, impugnação por falhas ou erros metodológicos e/ou de execução.

O veto do artigo 34 poderia ser evitado desde que sua redação fosse modificada no que diz respeito à identificação dos respondentes e que a verificação tivesse o acompanhamento de especialistas, independentes indicados pela Justiça Eleitoral, e que o prazo de execução destes trabalhos não impedissem a divulgação dos resultados ficando as empresas executoras responsáveis por multas e outras penalidades decorrentes destas falhas de teor técnico e/ou de origem dolosa.

8.Questionário:

Os questionários quanto mal elaborados ou redigidos com a finalidade de obter respostas induzidas perdem sua validade e como conseqüência invalidam a própria pesquisa; estas falhas são comparáveis a exame laboratoriais colhidos sem procedimentos técnicos adequados ou com equipamentos obsoletos. Cabe nesta situação aos pesquisadores de partidos contrários questionar a eficácia dos mesmos e demonstrar que qualquer inferência sobre informações geradas por questionários falhos são meras ilações. O formato e as estruturas das perguntas a serem redigidas e inseridas nos questionários, sua seqüência são da maior importância pois os dados e informações a serem obtidos das pesquisas serão decorrentes da adequação das perguntas aos objetivos da pesquisa.

Os questionários devem conter dados demográficos dos respondentes, - incluindo indicadores sócio -econômicos , preferências partidárias , religião e nível educacional. Um questionário poderá incluir uma gama bastante variável de perguntas no diz respeito ao formato, assim podem ser incluídas perguntas: fechadas, abertas, de julgamento, escalogramas de atitude, de avaliação e de preferência etc. Na formulação de uma pergunta o pesquisador deve sempre levar em consideração seus objetivos de informação e redigir questões, não viezadas que possam levar o respondente a se pronunciar de maneira clara, verdadeira e não pré-concebida.

Sendo as pesquisas de opinião projetos de investigação que envolvem sentimentos, emoções, valores pessoais, padrões sociais, vetores de origem antropológica há a possibilidade da ocorrência de duas situações diametralmente opostas, ou: 1- o pesquisador procura através da investigação obter a descrição mais consistente e real do universo da pesquisa e dos objetivos centrais da mesma; 2 - o pesquisador, de forma não ética ou até mesmo sem honestidade profissional formula perguntas que, necessariamente, levarão os respondentes ao declarações induzidas que não refletem as suas verdadeiras preferências, atitudes, motivação e o que é mais relevante suas opções reais e finais de voto.

Em virtude das características dinâmicas das campanhas eleitorais os questionários poderão ser alterados ao longo do período eleitoral, procurando sempre refletir a conjuntura mais recente e investigando fatos que tenham tido influencias significativa junto aos eleitores e que eventualmente possam ter atuado como fatores de modificação das intenções de voto e das preferências por candidatos ou partidos. Desta forma são evitados os chamados efeitos históricos que invalidam dados anteriores às modificações do cenário dos pleitos eleitorais. Em síntese, questionários bem elaborados propiciam inferências enquanto que questionários falhos dão lugar a ilações sem valor algum como instrumental de investigação e de atendimento à demanda de informações.

9.Amostragem:

A metodologia a ser aplicada nos procedimentos do processo de amostragem deve ser seguir rigor científico ou seja: reunir técnicas de estatística, que possibilitem a correta definição do universo de pesquisa; determinar a escolha das dimensões geográficas e temporais da coleta de entrevistas; calcular o numero correto das unidades amostrais e escolher os métodos que serão usados para a mensuração dos dados e resultados dos trabalhos de campo.

Quando o processo de amostragem não adere à normas ortodoxas ocorrem erros graves e primários tais como definição de margens de erros e intervalos de confiança que somente poderiam ser aplicados em amostras de teor totalmente aleatório.

10.Interpretação:

A fase de interpretação das informações que se segue aos trabalhos de organização, mensuração e análise dos dados, é também um momento crítico de uma pesquisa. Esta fase é composta de dois conjuntos analíticos, quais sejam: 1- o tratamento estatístico (quantitativo) dos dados e de sua ordenação;

2 - interpretação lógica através da qual são inferidos os significados relevantes dos resultados de pesquisa; nestas tarefas são efetuados exercícios indutivos e dedutivos mediante os quais são detectadas, posições relativas de um candidato ou partido em relação a outro (indução), em função desta constatação é possível, por exemplo, categorizar a aceitação ou a rejeição de um candidato em segmento eleitoral, em uma classe social ou profissional( dedução). É possível fazer deduções quanto à posturas religiosas, inclinações liberais ou conservadoras, atitudes ligadas à assuntos de relações internacionais enquanto vistas pelos entrevistados sejam eles do mesmo partido ou da oposição.

Para que as interpretações, - indutivas ou dedutivas,- sejam efetivamente válidas, é necessário que as mesmas estejam classificadas de conformidade com a seguinte estrutura taxionômica : 1- Quantitativa: sexo, idade, escolaridade, situação de emprego, estado civil, etc; 2 - Qualitativa: renda, profissão, raça, categoria profissional, local de nascimento, local de moradia, credo religioso, etc: 3 - Cronológica: tempo e periodicidade em que as enquetes foram realizadas; 4- Geográfica: unidade da Federação, região geográfica ou metropolitana, município ou bairro. As interpretações feitas com a adoção de estruturas mais detalhadas, permitem uma aproximação mais acurada das características do segmento eleitoral e por conseqüência a possibilidade de monitorar seu perfil e tendências.

A interpretação de dados deve ser feita de maneira objetiva, sem pressupostos evitando que inclinações pessoais do pesquisador venham a distorcer o real significado das informações obtidas dos respondentes. Em experiências recentes foram notadas diferenças expressivas entre os resultados apresentados aos candidatos e ao publico e os números finais encontrados nas apurações feitas pela Justiça Eleitoral. Estas falhas podem ser atribuídas, principalmente a três fatores: 1- metodologia inadequada; 2 - erros de processamento dos dados de pesquisa; 3- intenção dos "pseudo pesquisadores" de apresentar resultados distorcidos não condizentes com a realidade das preferências dos eleitores. Em conclusão a interpretação a ser feita pelos pesquisadores, necessariamente deve ser focalizada apenas nos aspectos descritivos e quantitativos do projeto, evitando avaliações subjetivas e recomendações sobre a estratégia de uso dos resultados do trabalho.

11.Publicação:

A publicação dos resultados, deve ser feita de acordo com as normas legais definidas na mensagem do STE n.1090 de 30 de Setembro de 1997.

Em cumprimento da lei n.9504 e da mensagem acima mencionada ficam ressalvadas as possibilidades de verificação da metodologia dos assim chamados testes eleitorais bem o direito à informação que é garantido pela Constituição.

Cabe aos partidos e seus candidatos fazerem uso das informações, podendo também a mídia fazer sua divulgação para o conhecimento da sociedade.

Parte-se do pressuposto que a metodologia usada na pesquisa tenha sido correta e devidamente verificada pela Justiça Eleitoral, sem o que os pesquisadores s, pessoas físicas ou institutos serão passíveis das penalidades previstas em lei. Resta indagar se existe na Justiça Eleitoral profissionais habilitados para executar adequadamente estes procedimentos, que são complexos exigindo um trabalho de uma equipe composta de elementos com formação interdisciplinar estatísticos , sociólogos, juristas e mercadólogos. Vale enfatizar que os profissionais com escolaridade e prática em Marketing são aptos a coordenar de maneira ética, não apenas o planejamento de pesquisas como sua verificação; na realidade, são técnicos bastante diferenciados dos conhecidos "marqueteiros"- arrivistas que surgem por ocasião das eleições, desaparecendo logo depois aguardando as próximas.

12.Conclusões:

O uso de pesquisas de opinião é derivado, fundamentalmente da necessidade de informações acuradas e detalhadas por parte dos candidatos e seus partidos para reconhecer a conjuntura social, política e econômica do período eleitoral.

A qualidade destas informações irão afetar a efetividade e a eficiência das decisões de campanha e a habilidade dos postulantes para planejar, implementar e controlar suas atividades de comunicação. Em síntese todos estes esforços são originados da demanda de informações, que se verdadeiras e corretamente processadas representam um "sistema de apoio às decisões".

O emprego deste instrumental de investigação, quando bem elaborado, está ligado ao direito à informação que representa um dos vetores dos direitos do cidadão nos países democráticos. A aquisição de conhecimento verdadeiro é sempre a rota mais fácil e digna para o sucesso.


NOTAS E REFERÊNCIAS:

1. Huff Darrell, How to Lie with Statistics, W.W. Norton, New York- 1954

2. Richard P. Bagozzi, Causal Models in Marketing, Wiley & Sons, New York -1986