Pessoas e Diamantes
Por Sidney Coldibelli
21/04/2002
Um dia eu estava zapeando a televisão (santo controle remoto)
procurando algum programa interessante, quando parei em uma
entrevista que estava sendo feita com um camarada que era do ramo
imobiliário e que explicava porque os imóveis de alto padrão sempre
têm mercado aquecido. A coisa não me interessou muito e eu já estava
disposto a mudar de canal quando o cidadão pronunciou a seguinte
frase:
"Você sabe, um diamante de 20 quilates é muito mais valioso do que
20 diamantes de um quilate cada."
Esta frase, que foi usada como exemplo de valor agregado,
imediatamente despertou em minha cabeça a correlação entre os
diamantes e as pessoas. Realmente, uma pessoa de 20 quilates é muito
mais valiosa do que 20 pessoas de 1 quilate cada. O que a gente vê
por aí, todavia, é o contrário. Muitas vezes se trocam pessoas de 20
quilates por uma de 10. Porque é mais barato. David Ogilvy, fundador
de uma dos maiores conglomerados de propaganda do mundo disse certa
vez: "Se você encontrar uma pessoa melhor do que você, contrate-a
imediatamente." Mas, na realidade, não é isso que acontece. As
organizações, as normas e procedimentos e as pessoas com baixa
competência teimam em ofuscar os diamantes, para que estes não
brilhem mais do que eles (quando pessoas) ou elas (quando
organizações). E aí topamos com um mar de mediocridade.
Claro que nem todo mundo é diamante. Há os diamantes que nascem
feitos. Há os que precisam ser lapidados. E há aqueles que parecem
diamantes (chegam até brilhar) mas, quando submetidos à pressão, se
esfacelam como vidro. E é muito difícil identificar cada um deles.
Quero dar uma mãozinha mostrando uma definição que vi, há muito
tempo atrás, e que relaciona as pessoas com o seu PODER
(conhecimento) e QUERER (motivação)
As PQ (PODEM E QUEREM)
Não são tão fáceis de encontrar. Estão ferramentadas para executar a
tarefa e motivadas ao trabalho. Sabem o que fazer, como fazer,
quando fazer e, o que é mais importante, quem vai fazer. Sabem
motivar seus pares também e buscar resultados, não importa sob que
adversidades e com que tipo de carências têm que trabalhar. Se têm
limitações, são criativos para buscar alternativas. São aquelas
pessoas que, ao invés de amaldiçoar a escuridão, saem a procura de
uma vela. Pessoas como estas custam caro (como os diamantes de 20
quilates), mas produzem, criam, mudam organizações e, quando são
contratadas, devemos deixá-las trabalhar com liberdade (controlada,
é claro).
As NPQ (NÃO PODEM, MAS QUEREM)
Estas são pessoas que não estão capacitadas, mas têm uma força de
vontade incrível. São os verdadeiros "Dungas" (volante da selação
brasileira na copa de 94) das organizações. São tratores para
trabalhar. São limitados pela sua falta de ferramentas, capacitação
e tato, mas, em geral, levam a cabo uma tarefa confiada, custe o que
custar. Costuma agir sózinho, quando percebe que as coisas não estão
correndo como elas querem, do tipo "Me dá aqui que eu mesmo faço!"
Entende que a vida deve ser vivida no esforço. Também, na maioria
das vezes, são autodidatas e aprendem o que sabem (o que muitas
vezes não é pouco) na escola da vida. Também apresentam uma certa
dificuldade para o aprendizado intelectual, o que pode dificultar
seu aperfeiçoamento. Estes precisam de treinamento (lapidação) para
poder se tornar um diamante perfeito e, na maioria das vezes,
investir neles é um excelente negócio.
AS PNQ (PODEM, MAS NÃO QUEREM)
São, na maioria das vezes, conhecidas como talentos desperdiçados,
pois são plenamente capacitados (muitas vezes confunde-se com dom),
mas não estão nem um pouco a fim de cumprir o que lhes é proposto.
São pessoas muito inteligentes, com uma facilidade brutal, e às
vezes irritante, para o aprendizado, o que pode se tornar um
problema, pois aprendem rápido demais e as coisas perdem o mistério.
Devem ser motivados a colocar todo o seu talento para o cumprimento
de tarefas e sua motivação nem sempre está ligada à remuneração
(como a de todo mundo). Faz-se necessário descobrir o que os motivam
para que estes se sintam impelidos a colocar todo seu talento a
serviço da empresa.
AS NPNQ (NÃO PODEM E NÃO QUEREM)
Você não tem noção de como existem pessoas com este perfil dentro
das organizações, escondidas sob os mais variados perfis e funções.
Está atrás daquele funcionário boa praça e querido por todos, como
também atrás do mais ranzinza dos colaboradores, pois esta não é uma
característica tão visível assim e pode ser maquiada. Você começa a
descobrir este tipo de pessoa quando um novo desafio é proposto e
ela só coloca obstáculos. É absolutamente reativa do tipo "Ih, isto
não vai dar certo!" ou "Já vi este filme." Acham que sabem tudo e
não precisam aprender mais nada e, o que é o pior, acham que tudo
está ruim e que é muito difícil mudar. Olham o mundo através de
olhos de pré-conceitos e distorcidos por uma realidade só dele. Este
tipo de pessoa, infelizmente, vai ocupar cada vez mais espaço nas
organizações e se você tem pessoas com este tipo sob o seu comando,
lamento informar, mas não há muita coisa a ser feita a não ser
demiti-la. Talvez você até lhe preste um serviço, pois este choque
poderá fazer a ficha cair.
Esta é uma forma de tentar identificar o comportamento das pessoas
que estão à sua volta e, quem sabe, poder ajudá-las a se
desenvolver. Mas, se você tiver realmente problemas em saber quem é
quem, talvez a gente possa dar uma mãozinha.
Sidney Coldibelli é presidente da Inteligência de Marketing Ltda